A vida são dois dias. Um eclipse solar total são os seus mais belos minutos

Milhões de pessoas no México, Canadá e EUA assistiram esta segunda-feira ao último eclipse solar total dos próximos 20 anos em zonas habitadas da América do Norte. O PÚBLICO testemunhou o fenómeno.

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O eclipse solar total visto em Burlington, estado norte-americano do Vermont. Imagens cedidas ao PÚBLICO por Kati Ringer (@katiringerphotoarts no Instagram) Kati Ringer
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Três minutos e 15 segundos. Foi o tempo que durou a fase total do eclipse solar desta segunda-feira, visto a partir de Burlington, no estado norte-americano do Vermont. Mas o espectáculo começou antes, tanto ali como na costa ocidental do México, onde o fenómeno iniciou a sua passagem pela América do Norte, presenteando milhões de mexicanos, norte-americanos e canadianos com o último eclipse solar total dos próximos 20 anos em zonas habitadas daquele continente.

Em Burlington, a fase parcial do eclipse arrancou cerca das 14h14 locais (19h14 em Portugal continental), com uma pequenina dentada da Lua visível no disco solar, que foi crescendo gradualmente ao longo da hora seguinte. O PÚBLICO assistiu ao fenómeno em North Beach, uma praia nas margens no Lago Champlain, com vista para os montes Adirondack, do outro lado, já no estado de Nova Iorque. Um anfiteatro natural, com vista desimpedida e águas tranquilas.

A Lua tapa o Sol, durante um eclipse solar total, visto de Carbondale, Illinois, Estados Unidos. Reuters/Evelyn Hockstein
Várias pessoas observam um eclipse solar parcial no Observatório Griffith em Los Angeles, Califórnia, nos Estados Unidos. EPA/ALLISON DINNER
Um homem ergue as mãos enquanto o Sol espreita por entre as nuvens durante um eclipse solar total, em que a lua vai apagar o sol, num parque em Dunkirk, Nova Iorque. Reuters/Elizabeth Frantz
A luz é reflectida nos edifícios durante um eclipse solar parcial, em que a Lua vai apagando parcialmente o Sol, em Times Square, na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos. Reuters/Shannon Stapleton
Um avião passa durante um eclipse solar parcial visto de Queens, Nova Iorque, Estados Unidos. Reuters/Andrew Kelly
Um homem reage enquanto assiste a um eclipse solar parcial no Observatório Griffith em Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos. EPA/ALLISON DINNER
Um reflexo da Lua a passar pelo Sol é reflectido através de papel durante o eclipse solar parcial no Observatório Griffith em Los Angeles, Califórnia. EPA/ALLISON DINNER
As pessoas reúnem-se para ver um eclipse solar parcial, em que a Lua vai apagar parcialmente o Sol, em Times Square, na cidade de Nova Iorque. Reuters/Shannon Stapleton
Uma combinação de imagens mostra o início e o fim (de cima para baixo) de um eclipse solar total visto de Mazatlan, México. Reuters/Henry Romero
Pessoas assistem ao eclipse solar parcial enquanto se reúnem no deck de observação do Edge at Hudson Yards em Nova Iorque. Reuters/Eduardo Munoz
Uma pessoa segura um prato durante o eclipse solar, em que a Lua apaga o Sol, em Eagle Pass, Texas. Reuters/Christian Monterrosa
Ximena, sete anos, e Magdalena Govea, 11, deitam-se no Saluki Stadium, antes de um eclipse solar total, em que a Lua vai apagar o Sol, em Carbondale, Illinois. Reuters/Evelyn Hockstein
Sophia Moccia, quatro anos, de Queens, vê um eclipse solar parcial com uma máscara feita em casa, no New York Hall of Science, no bairro de Queens, na cidade de Nova Iorque. Reuters/Andrew Kelly
Pessoas olham para o céu no Estádio Saluki, enquanto a Lua bloqueia parcialmente o Sol, antes de um eclipse solar total em Carbondale, Illinois. Reuters/Evelyn Hockstein
Vista do eclipse solar total a partir de um voo especial da Delta Airlines sobre os céus dos Estados Unidos da América. Reuters/Leonardo Benassatto
Vista do eclipse solar total a partir de um voo especial da Delta Airlines sobre os céus dos Estados Unidos da América. Reuters/Leonardo Benassatto
Uma passageira usa óculos de eclipse solar enquanto olha de um voo especial da Delta Airlines sobre os céus dos Estados Unidos. Reuters/Leonardo Benassatto
Vista de um eclipse solar parcial visto das Cataratas de Niagara em Nova Iorque. Reuters/Brendan McDermid
A Estátua da Liberdade é vista durante um eclipse solar parcial, em que a Lua apaga parcialmente o Sol, na Ilha da Liberdade, em Nova Iorque. Reuters/David Dee Delgado
Pessoas no National Mall observam um eclipse solar parcial, com o edifício do Capitólio dos EUA visto atrás, em Washington, DC, Estados Unidos. EPA/MICHAEL REYNOLDS
Uma pessoa vê um eclipse solar total, com a Ilha do Eclipse vista ao fundo, enquanto passa sobre Burgeo, Terra Nova, Canadá. Reuters/Greg Locke
Moradores assistem a uma cerimónia durante um eclipse solar total, com a Ilha do Eclipse vista ao fundo, em Burgeo, Terra Nova, Canadá. Reuters/Greg Locke
Um avião passa perto do eclipse solar total durante a Hoosier Cosmic Celebration no Memorial Stadium em Bloomington, Indiana. Reuters/Bobby Goddin/USA Today Network
Um eclipse solar total é visto ao lado de uma bandeira americana acenando em Houlton, Maine. Reuters/Jasper Colt/USA Today Network
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A Lua tapa o Sol, durante um eclipse solar total, visto de Carbondale, Illinois, Estados Unidos. Reuters/Evelyn Hockstein

Nos céus, nuvens altas mas finas fizeram temer, por momentos, que a meteorologia ia estragar o espectáculo celestial. Teria sido uma surpresa, já que as previsões anunciadas ao longo dos últimos dias tinham apontado precisamente esta zona do Vermont como um dos melhores sítios em todo o país para assistir ao eclipse, atraindo centenas de milhares de visitantes.

Não tiveram tanta sorte milhões de texanos e de habitantes de estados como o Ohio e da zona norte do estado Nova Iorque. Mas teve quem veio ao Vermont, e vieram de todo o lado: as matrículas dos automóveis que entupiram Burlington denunciavam forasteiros de toda a Costa Leste dos Estados Unidos e de alguns estados mais longínquos como o Kentucky.

Mas voltemos a esta praia onde centenas de pessoas passaram esta hora e meia a olhar o céu. Estudantes universitários em tronco nu, freiras, turistas agasalhados, famílias locais com os seus cães. Houve até quem tivesse trazido um sofá para o areal. O espectáculo merecia-o. Merecia tudo (permita-se a subjectividade e o entusiasmo do jornalista; se há momento em que se justifica, será este).

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Duas freiras assistem ao eclipse solar total em Burlington, Vermont (EUA). Imagem cedida ao PÚBLICO por Kati Ringer (@katiringerphotoarts no Instagram) Kati Ringer

Ao longo daquela hora inicial, com a dentada da Lua a crescer no Sol, a luz ia diminuindo gradualmente, tal como a temperatura. Onde vimos troncos nus, víamos agora camisolas e casacos. Mas é nos minutos que antecedem imediatamente a fase total do eclipse que tudo muda abruptamente.

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North Beach, em Burlington, Vermont (EUA) Pedro Guerreiro

É como um estranhíssimo pôr do Sol: não é o laranja do céu que mergulha num ponto ocidental do horizonte e em que tudo à volta escurece, de Leste para Oeste; é o contrário, é a escuridão que surge ali de um ponto concreto, atrás dos Adirondack, de Oeste e não de Leste, e que se expande em segundos e toma de assalto todo o céu. Lá longe, muito longe no horizonte, percebe-se que é de dia, que só é de noite aqui.

As aves voam sobre o lago, confusas. Ouve-se o som da multidão, dali da praia, do centro da cidade ali ao lado, dos bairros à beira do lago. Gritos contínuos de júbilo, de fascínio e estupefacção. “Oh my god. Oh my god. Holy fuck. Oh my god.” Há mergulhos espontâneos no lago. Há também um intenso cheiro a marijuana no ar. No céu escuro, o Sol mordido deu lugar ao mais belo anel de luz. É o astro-rei atrás da Lua, tapado mas a acenar lá de trás. É a fase total do eclipse, são 15h26 em Burlington, 20h26 em Portugal continental. São os tais três minutos e 15 segundos que ficam para o resto de uma vida.

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Houve quem mergulhasse nas águas frias do Lago Champlain durante o eclipse. Imagem cedida ao PÚBLICO por Kati Ringer (@katiringerphotoarts no Instagram) Kati Ringer

Mas esses minutos, de uma beleza avassaladora, passam num instante, como quaisquer outros minutos. No anel de luz, vê-se um pequeníssimo ponto avermelhado, como uma pedra preciosa num anel de noivado. É o Sol prestes a aparecer, a sair de trás da Lua. O dia volta, muito rapidamente, às 15h29 locais. A temperatura sobe, as aves retomam a rotina interrompida.

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Os gritos dão lugar a aplausos, os “Oh my god” e “Holy fuck” passam a “Nunca vi nada assim”, a “Foi a coisa mais bela de sempre”, e a “Superou todas as minhas expectativas”. A praia esvazia-se, as multidões regressam aos seus automóveis e começam a sair de Burlington.

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O início do regresso a casa Pedro Guerreiro

O espectáculo – o antes, o durante e o depois – replicou-se ao longo de uma estreita faixa de 185 quilómetros de largura, do México ao Leste do Canadá, passando por cidades como Mazatlán (México), Austin, Dalas, Indianápolis, Cleveland (Estados Unidos) e Montreal (Canadá), antes de findar algures sobre o Atlântico Norte.

Serão muitas as fotografias e os vídeos a inundar as redes sociais nas próximas horas. Poucas farão justiça ao fenómeno, arrebatador ao vivo, mas darão uma ideia do que se viu esta segunda-feira na América do Norte. Junte-se a essas imagens, então, estas palavras: vale mesmo a pena aproveitar a oportunidade que será proporcionada, em Portugal continental, pelo eclipse solar total previsto para 12 de Agosto de 2026, que passará por uma estreita faixa do Nordeste transmontano. Vale a pena mesmo ir mais a norte, à Galiza e às Astúrias, e jogar pelo seguro – estar ou não estar na zona de sombra total faz mesmo a diferença, não se contente com uma cobertura de 99%. Ou então esperar por 2 de Agosto de 2027 e ir à ponta Sul da Península Ibérica, a Tarifa (Espanha) e a Gibraltar, e aproveitar o outro eclipse solar total previsto para a região. Depois disso, só daqui a mais de um século.

São dois, três minutos inesquecíveis, que valem por uma vida. A vida, essa, segue momentos depois.

Imagens cedidas ao PÚBLICO por Kati Ringer (@katiringerphotoarts no Instagram)

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