Dar as boas-vindas à Primavera
Um livro que convida à descoberta da natureza, levando-nos a fazer uso de todos os sentidos. Aproveitemos as serras e os bosques, que a Primavera já chegou.
Logo de início, Alex Nogués informa: “Para ler este livro, precisas de um bosque. E de um pau para inventar um caminho. E de tempo. Necessitas de tempo para observar. Para ler este livro, precisas também de uns óculos invisíveis, com lentes de realidade aumentada. Não te aflijas. Esses óculos já os tens; nasceram contigo.”
Assim nos convoca o autor, formado em Geologia, mas que a dada altura da sua vida se dedicou exclusivamente à escrita de livros para a infância e juventude. Tema recorrente: a natureza. Diz de si próprio: “Nasci longe do bosque, na Primavera de 1976. Desde então, poderia escrever a minha biografia num mapa de bosques e matagais. O Moncayo, as colinas de Montseny, o Montsec, as Salines Bassegoda, o Jura, as Gavarres.”
Especializado em paleontologia e águas subterrâneas, sente-se afortunado por viver em Bisbal d’Empordá (Catalunha). “Tenho a sorte de sair todos os dias para a natureza e poder partilhar o que ela me transmite. Às vezes, o bosque ensina-me coisas de mim mesmo e do mundo que me rodeia, e isso ajuda-me a escrever.”
Esses ensinamentos são aqui transpostos de forma poética, mas também com rigor científico. O leitor, seja qual for a sua idade, ficará mais apto a compreender as mudanças nos bosques ao longo das estações e também a deixar-se fascinar com o que a natureza lhe oferece. “Deixa-te encantar e que o inesperado te encontre”, é o desejo que o escritor dirige a quem está deste lado das páginas, motivando-o a ir ao encontro das serras, dos bosques, dos espaços verdes.
No livro, cada plano abre, na página da esquerda, com a frase “Às vezes o bosque…”, que se completa de várias formas na página da direita, “… é um desenho infantil”, “… está repleto de duendes japoneses”, “… é um imenso relógio”, “… é um mago”, “… canta e é uma canção”, “… conta-nos a sua história”, “… é um reino humilde”, etc.
Nestes diferentes enquadramentos, dão-se a conhecer características de vários animais, como o cuco viver uma grande parte do ano em África e na Primavera deslocar-se “para a Europa para procriar (como as cegonhas, as andorinhas os papa-figos, os abelharucos e tantos outros pássaros)”; de diferentes plantas, como o facto de o musgo se agarrar “à rocha dura” e ser “uma das plantas terrestres mais antigas e simples que existem”. E é a estas rochas almofadadas que o autor chama “minúsculos jardins japoneses do bosque”, lugares onde o equilíbrio respira. Para concluir: “A vida é isso. Um equilíbrio instável que se reinventa a cada instante.”
Infância feliz na Bulgária
Igualmente poéticas são as ilustrações de Ina Hristova, que cria um ambiente meio bucólico, meio fantástico, com cores vivas, mas não berrantes, e pormenores que convidam a determo-nos demoradamente em cada imagem. A contemplação começa aqui.
Também ela tem vivências felizes de ligação à natureza, talvez por isso esta parceria resulte tão bem. “Nasci na Bulgária em 1988, numa pequena cidade cheia de poesia, alfazema e vinhedos. Subia às nogueiras no jardim dos meus avós, via crescer as plantas e os animais, e admirava os pirilampos que faziam vibrar a noite”, conta numa breve nota biográfica no início do livro.
Depois de o bosque hibernar, no Inverno, os ramos nus “irão ler o céu”. Será através dos matizes de luz que saberão da chegada da Primavera e então “chamarão o cuco para anunciar que está tudo em ordem”. Ela surge e “começa um novo ano para o bosque”.
O autor não se despede do leitor sem antes lhe dizer, no capítulo “Às vezes o bosque… está dentro de ti”: “Os bosques são o lar ancestral, o da infância da humanidade e da infância de cada ser humano. Neles se guarda a inocência e a beleza do mundo. Cuidar deles é cultivar essas qualidades em nós mesmos.” Feliz Primavera.