BE e Livre de novo em sintonia concordam com reuniões frequentes entre líderes parlamentares
O Bloco de Esquerda (BE) esteve esta sexta-feira na sede do Livre, naquela que foi a segunda reunião entre os partidos de esquerda e o PAN.
Durante quase duas horas, o núcleo duro do Bloco de Esquerda e os dirigentes do Livre estiveram sentados frente a frente para atirar as tricas da campanha eleitoral para trás das costas e garantir uma esquerda “unida” e concentrada na “convergência na oposição”. Os dois partidos concordaram em começar a agendar reuniões entre os líderes parlamentares dos dois partidos, admitindo “iniciativas conjuntas” e um forte diálogo “dentro e fora da Assembleia da República”.
O encontro faz parte da ronda de reuniões iniciadas pelo Bloco de Esquerda depois de ter sido conhecido o resultado das eleições legislativas, para promover uma espécie de “geringonça” de oposição à direita e ao futuro governo de Luís Montenegro.
À saída, Mariana Mortágua anunciou que os dois partidos concordaram em manter reuniões frequentes, nomeadamente através dos seus líderes parlamentares (ambos presentes no encontro desta sexta-feira). “Procurámos abrir a porta a outras reuniões que se seguirão”, explicou Mariana Mortágua. A coordenadora do Bloco de Esquerda ― que esteve acompanhada pelo futuro líder parlamentar, Fabian Figueiredo, e pelo dirigente Jorge Costa e de um dos fundadores do BE, Luís Fazenda ― tem a expectativa de que exista, a partir de agora, um “diálogo permanente” entre a esquerda.
A bloquista assinalou que, já no passado, o BE votou ao lado do Livre em matérias como o investimento na escola pública, mas que uma conversa mais regular permitirá solidificar a força da esquerda, que saiu derrotada destas eleições, perdendo a maioria parlamentar para as forças partidárias da direita.
Segundo a dirigente do BE, esta foi uma “reunião importante”, para já marcada por conversas em torno da celebração do 25 de Abril. “Vai ser o momento em que o país sai à rua para dizer que há esperança no futuro e numa alternativa à direita e extrema-direita”, contextualizou Mortágua. Segundo a líder do BE, também se expressará a preocupação com os movimentos feministas, LGBT, com o movimento climático e o direito à habitação.
“Queremos impedir medidas que possam traduzir-se em retrocessos civilizacionais, nomeadamente em relação à despenalização da morte medicamente assistida e à interrupção voluntária da gravidez (IVG).” Este foi um dos temas que marcaram a campanha eleitoral. “A responsabilidade da esquerda é garantir que não há recuo em nenhum direito social, mas também garantir que vai havendo uma alternativa”, vincou.
Para Mortágua, “é importante que a esquerda esteja atenta, mobilizada e seja capaz de representar todos os eleitores que querem prevenir retrocessos”. “A responsabilidade da esquerda é a de garantir um diálogo, não só para fazer oposição a essa direita, para garantir que não há recuo num único direito social, que não há nenhum recuo em Portugal, estamos nos 50 anos do 25 de Abril, mas também garantir que se vai tecendo uma alternativa e um projecto de esperança em Portugal”, declarou.
Impedir “fogo amigo”
Também Rui Tavares, co-porta-voz do Livre, considerou que os “contactos regulares” são uma boa solução, até mesmo para impedir “mal-entendidos” ou “fogo amigo”, lembrando que há uma “extrema-direita muito agressiva” e uma “direita em processo de radicalização”.
O deputado do Livre, que viu o partido aumentar de um deputado único para quatro deputados, esteve acompanhado pela futura líder parlamentar, Isabel Mendes Lopes, e pelo deputado eleito pelo círculo de Setúbal, Paulo Muacho. A dirigente Patrícia Robalo, candidata número três pelo círculo de Lisboa, também esteve no encontro. Rui Tavares concordou que os partidos devem oferecer “ideias de justiça social e ambiental que a esquerda traz”.
Quanto à necessidade de um orçamento rectificativo, a líder do BE prefere esperar até saber se há ou não orçamento rectificativo e conhecer esse orçamento. “Há muitos problemas no país para resolver e cabe também à esquerda cobrar todas as promessas que foram feitas”, frisou.
Já Rui Tavares lembrou que existe um excedente orçamental e insistiu na necessidade de um “compromisso de equidade e investimento” que seja debatido no Parlamento, para que a distribuição do superavit actual seja escrutinada.
Os bloquistas já se reuniram com o PAN, num encontro que não durou mais do que 1h, e têm encontro marcado com o PCP na próxima segunda-feira, às 11h. Para a próxima semana está ainda prevista uma reunião com o PS, mas a data ainda não está definida.
O Livre arranca também esta sexta-feira com as inscrições para as eleições primárias do partido, que irão escolher os candidatos às eleições europeias.