Em alguns países, a “crise de meia-idade” já está a chegar aos jovens

O Relatório Anual sobre a Felicidade mostra uma tendência: em países como EUA, Alemanha ou Espanha, os mais jovens são menos felizes que os mais velhos. Em Portugal, (ainda) não é assim.

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Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia têm rankings de felicidade entre os jovens muito mais baixos do que entre os mais velhos Chetan Menaria/ Unsplash
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No Dia Internacional da Felicidade, o Relatório Anual sobre ela diz que há países como os Estados Unidos, Alemanha ou Espanha, onde os jovens são menos felizes que os mais velhos. Uma tendência que já se mostrava em 2017 e que se espera que chegue à Europa Ocidental.

Os dados, obtidos em estudos de mercado da americana Gallup e analisados por uma equipa liderada pela Universidade de Oxford, resultam do pedido feito a pessoas de 143 países e territórios para avaliarem a sua vida numa escala de 0 a 10, sendo 10 a melhor vida possível. Depois, é obtida uma classificação, calculada com a média dos resultados dos últimos três anos. A Finlândia é, mais uma vez, o país mais feliz do mundo, com uma pontuação média de 7,7. O país ocupa o primeiro lugar da tabela, com os restantes nórdicos logo atrás.

Além da classificação de cada país, o relatório mostra também quais os grupos etários mais e menos felizes, olhando individualmente para os diferentes países. Os grupos etários estão divididos assim: menos de 30 anos (os mais jovens), entre 30 e 44 (“média-baixa” idade), entre 45 e 59 (“média-alta” idade) e mais de 60. Para avaliar as diferenças geracionais de cada país, são comparados os lugares que o mesmo país ocupa nas tabelas dos diferentes grupos etários. E aqui há novidades.

Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia têm rankings de felicidade entre os jovens muito mais baixos do que entre os mais velhos. As maiores discrepâncias sentem-se nos Estados Unidos e no Canadá, com uma diferença de 50 ou mais lugares. Segundo o estudo, este fosso tem vindo a crescer desde 2010 e poderá dever-se a uma mistura de efeitos geracionais e de idade, ainda que não sejam explicitados quais.

Sobre estes resultados, Jan-Emmanuel De Neve, director do Centro de Investigação de Bem-Estar e editor do estudo, alertou ao Guardian: “Pensar que em algumas partes do mundo as crianças já estão a viver aquilo que pode equiparar-se a uma crise de meia-idade exige acção política imediata.”

Tipicamente, pelo que a Gallup World Poll tem observado nos últimos anos, a tendência é uma “ligeira diminuição gradual na felicidade à medida que a idade aumenta”. Ainda que nem sempre tenha sido assim: entre 2006 e 2010, “os mais jovens eram os mais felizes, seguindo-se os maiores de 60 anos e depois os que tinham entre 30 e 44 anos. O grupo dos 45-59 anos era o menos feliz.

A queda dos níveis de bem-estar na América do Norte “contradizem essa noção bem estabelecida de que as crianças começam mais felizes, antes de caírem na curva em U, uma pequena crise de meia-idade, sendo que acabam por subir”, explicou.

Na Europa Central, Ocidental, e na América Latina, a posição dos mais novos está mais de 40 lugares acima dos mais velhos. É na Croácia que se regista a diferença mais profunda: são 66 lugares. Países como a Bulgária, Moldova ou Sérvia registam fossos de 50 lugares. Na Roménia, Bósnia e Herzegovina, Montenegro e Paraguai, variam entre os 40 e os 50 lugares.

“Há claramente um factor geracional e de idade aqui, uma vez que as populações mais velhas da Bósnia, Sérvia, Croácia e Montenegro carregam as cicatrizes das guerras do início dos anos 90 e do genocídio que se seguiu ao fim da antiga Jugoslávia”, lê-se no relatório.

As classificações costumam explicar-se por factores como o PIB per capita, o apoio social, a esperança média de vida, a liberdade, generosidade e corrupção.

Em Portugal, que ocupa o lugar 55 do ranking geral, regista-se também a tendência mais comum: os mais velhos são os menos felizes (63.º lugar), os mais jovens são os mais felizes (46.º). A Grécia acompanha Portugal nesta onda, mas países como a Noruega, Suécia, Alemanha, França, Reino Unido e Espanha são onde os mais velhos se sentem “significativamente mais felizes do que os mais jovens”.

Também na Finlândia, o país mais feliz do mundo, os mais velhos são mais felizes do que os mais novos. O mesmo acontece na Dinamarca, o segundo país mais feliz, na Suécia, nos Países Baixos, na Noruega e no Canadá.

Mas o relatório salvaguarda que os fossos entre jovens e mais velhos nos rankings são “medidas imperfeitas”: “Um país que esteja no top do ranking geral tem de ter níveis de felicidade muito altos em todos os grupos etários, enquanto nos países infelizes não há grupos etários felizes.”

No final da tabela está o Afeganistão, Líbano, Lesoto, Serra Leoa e Congo.

O relatório mostra ainda que os países da Europa de Leste, como a República Checa, Lituânia e Eslovénia, ascenderam ao top 20, o que se deve em parte à saída dos Estados Unidos para o lugar 23 — e precisamente por causa da classificação dada pelos jovens.

Não há fórmula para a felicidade, mas a Finlândia tem algumas ideias que parecem resultar. Jukka Siukosaari, embaixador finlandês no Reino Unido, acredita que a “infra-estrutura da felicidade” inclui um “ambiente seguro”, oportunidades para as pessoas se poderem exprimir culturalmente e salários relativamente equitativos. “Tudo começa com níveis altos de confiança entre os cidadãos e as instituições”, disse, citado no mesmo texto.

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