Como criar mais valor na vinha e no vinho? AESE Business School leva casos de estudo a colóquio em Viseu

Cinco anos, vários estudos e um livro depois, a escola de gestão e negócios está a promover colóquios formativos direcionados a gestores do “ecossistema” da vinha e do vinho em parceria com as CVR.

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A Lavradores de Feitoria e o seu modelo de "coopetição" é um dos casos de estudo que a AESE Business School tem levado a produtores de diferentes regiões Nelson Garrido
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É o segundo do que serão, para já, quatro colóquios formativos. "Criar mais valor na vinha e no Vinho" é o nome da acção que a AESE Business School leva, esta quarta-feira, ao Instituto Politécnico de Viseu, numa parceria com as comissões vitivinícolas do Dão, da Bairrada e da Beira Interior. E acontece no seguimento do projecto e do livro homónimos, que reuniram, debaixo de um mesmo chapéu, um conjunto de actividades e estudos académicos produzidos pela AESE sobre o sector vitivinícola.

A recepção dos produtores daquelas três regiões acontece às 12h45 e a partilha de conhecimento começa à mesa, num formato pouco habitual, que arranca depois às 14h com a ordem de trabalhos. Serão apresentados dois casos de estudo que figuram na tal obra, assinada por José Ramalho Fontes e pelo amigo de longa data Fernando Bianchi de Aguiar — o da Adega Cooperativa de Ponte de Lima e o da empresa Lavradores da Feitoria. Seguir-se-á um debate sobre “Exportar melhor”, com Luís Pato, produtor que dispensa apresentações no meio, e Bruno Rebelo de Sousa, da João Portugal Ramos. Até às 19h, haverá ainda tempo para ouvir importadores de vinho dos EUA e do Brasil.

Foi já no final de uma carreira plena, e ainda como professor, que o engenheiro mecânico José Ramalho Fontes começou a olhar para o vinho português e, em concreto, para a sua competitividade. Sem nunca antes ter tido ligação ao sector. Encurtando uma história que podia ser mais longa, há cinco anos, em conversa com uma colega, o docente (e, até Dezembro último, director-geral) da escola de negócios fundada em 1980, percebeu que em determinada cadeia de supermercados os vinhos de um produtor que factura milhões de euros se vendiam mais barato do que própria empresa. "Descobri as marcas exclusivas, que são, de facto, uma ferramenta importante para a competitividade do vinho, mas têm os seus limites. E comecei a olhar com atenção para este sector e a tentar compreender a sua competitividade."

Com outros professores da AESE, "que também gostam do método caso", debruçou-se sobre diferentes exemplos, em diferentes regiões vitivinícolas portuguesas. Das cooperativas, como a de Pegões e a de Ponte de Lima, aos grandes grupos, como a Gran Cruz (hoje Granvinhos), a Sogrape ou o Grupo Parras, só para citar alguns dos casos de estudo, houve uma receita para a competitividade que chamou a sua atenção. A sua e a de muitas outras pessoas, a julgar pelo interesse que as comissões vitivinícolas têm demonstrado em saber mais sobre esse exemplo concreto — o primeiro colóquio formativo deste projecto foi para os produtores do Tejo, Lisboa e Península de Setúbal.

"A Coopetição como Estratégia de Sustentabilidade no Douro: O caso da Lavradores de Feitoria" é um estudo de 2019 e a empresa liderada por Olga Martins fez 20 anos em 2023, mas o exemplo continua a impressionar, mesmo dentro do meio do vinho, afiança Ramalho Fontes. "E porquê? Porque o sector do vinho tem muita paixão e pouca racionalidade."

A Lavradores de Feitoria nasceu por vontade de meia dúzia de pessoas e da capacidade de persuasão do, nas palavras de Ramalho Fontes, "génio" Dirk Niepoort — que convenceu Olga Martins a ficar à frente do projecto, como recorda o académico —​ e esse "conjunto racional conseguiu que os donos de 16 quintas se pusessem de acordo e tomassem consciência que juntos eram melhores".

A conversa com o PÚBLICO começara pela tendência crescente que Ramalho Fontes e a sua equipa foram percebendo no sector para a concentração de empresas e marcas sob a égide de grupos cada vez maiores, com operações em mais do que uma região. Perguntámos ao académico: o caso Lavradores de Feitoria não foi, há duas décadas, uma espécie de concentração? "Não foi uma concentração, mas antes o início de um fenómeno chamado coopetição. Os produtores juntam-se, cooperam onde podem e onde lhes interessa, e depois competem. Todos esses produtores também vendem vinho fora da Lavradores de Feitoria."

O caso de que todos querem saber mais

De lá para cá, Portugal conheceu outros exemplos de coopetição, como os Douro Boys, que também já sopraram 20 velas, os Baga Friends, que dobraram a marca da década, recorda (em breve aqui no Terroir, daremos conta de outro esforço, mais a Sul: o Clube do Arinto de Bucelas). E seria bom, uma saída até para projectos de elevada qualidade mas pequena dimensão, que este tipo de exemplo fosse "ponderado e reproduzido" noutras situações.

O país tem vindo a assistir "a fusões e aquisições" e as "empresas com maior capacidade de gestão e de capital em Portugal estão a assumir uma posição mais robusta", admite o investigador, que acredita que essa movimentação, apesar de fazer com que algumas "empresas desapareçam ou seja absorvidas", será, "em geral, saudável", e fará "subir o preço" dos vinhos. Mas mais escala não poderá significar preços mais esmagados?

"Aquilo que se verifica, para além da escala pura e dura — e, de facto, os maiores têm mais condições e querem aumentar os seus portefólios —, essas empresas, apesar de isso não ser um exclusivo seu, também têm melhor gestão, estudam mais, pensam mais a médio prazo, não estão tão preocupados com os resultados de cada uma das vindimas, podem investir. Podem investir na vinha, em tratamentos, maquinaria, tecnologia, mas sobretudo naquilo que é fundamental, em melhor gestão", responde, confiante de que o preço médio subirá porque, "em geral, o do vinho de qualidade vai subir".

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José Ramalho Fontes, ex-director-geral da AESE Business School e principal responsável pelo projecto "CV3, Criar Mais Valor na Vinha e no Vinho" Direitos Reservados

O projecto "CV3, Criar Mais Valor na Vinha e no Vinho" foi "financiado por alguns produtores, pela PricewaterhouseCoopers e pela própria AESE". E o livro, que vendeu "cerca de 450 exemplares" até à data, recebeu uma "recensão técnica da revista Cultivar, do Gabinete de Projectos do Centro de Agricultura", que encheu o autor, por estes dias fascinado com o sector das frutas e legumes — "em 2014 exportava de 700 milhões de euros, no ano passado exportou três vezes mais" —, de "alegria".

O terceiro colóquio formativo do projecto será em Maio, no Porto, e levará a reflexão sobre a competitividade do sector à sede da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes. O quarto e último colóquio ainda não tem local nem data, mas será "até ao Verão". E depois disso, e de "fazer um balanço", José Ramalho Fontes admite fazer novo ciclo de acções, idealmente abrangendo outras regiões.

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