Depois dos recordes de bilheteira, o filme-concerto de Taylor Swift chega ao streaming
Taylor Swift: The Eras Tour foi um êxito de público em todo o mundo, Portugal incluído. Depois de uma passagem de sucesso pelas salas de cinema, chega agora às salas de estar.
"Este filme deve ser posto a dar alto!", lia-se no ecrã logo ao início de A Última Valsa, o filme-concerto de Martin Scorsese que registava a derradeira actuação da canadiana The Band. O ano era 1978 e A Última Valsa ainda hoje figura na conversa sobre os "melhores filmes-concertos de sempre". De resto, voltou recentemente aos cinemas, a propósito do seu 45.º aniversário, pendurado entre o novo filme de Scorsese e a morte de Robbie Robertson, a figura de proa da banda. Num ano, 2023, que foi particularmente pródigo em filmes-concerto capazes de mobilizar massas.
Boa parte do mérito desse fenómeno que ressuscitou as salas de cinema no ano passado cabe a Taylor Swift: The Eras Tour (Taylor's Version), filme que chega ao serviço de streaming Disney+ à 1h desta quinta-feira. Cumprido o seu bem-sucedido périplo pelas salas de cinema, pode agora ser visto nas nossas salas de estar. Realizado por Sam Wrench, é um olhar de quase três horas sobre a mega-lucrativa digressão homónima da artista norte-americana. Chega ao streaming com três canções que não constavam da versão exibida nos cinemas: Long live, The archer e Wildest dreams.
A chegada de Taylor Swift: The Eras Tour ao streaming vem precedida de dois recordes: o título gerou a maior receita de bilheteira de sempre no segmento dos documentários musicais (destronando a marca fixada em 2009 por Michael Jackson's This Is It) e foi o primeiro filme-concerto a permanecer duas semanas consecutivas no topo da tabela dos mais vistos nos Estados Unidos.
As pré-vendas de bilhetes, as mais concorridas da história para um filme-concerto, também geraram confusão e fizeram crashar aplicações e sites, tal e como acontece com os próprios concertos de Taylor Swift, a artista mais popular dos dias que correm. Em Portugal, segundo dados do Instituto do Cinema e do Audiovisual, foi o filme mais visto na semana de 12 a 18 de Outubro. Nos apenas três dias dessa semana em que esteve em exibição, com sessões limitadas espalhadas por 65 ecrãs e bilhetes mais caros do que os de um filme normal, superou os 20 mil espectadores, arrecadando mais de 260 mil euros em receitas de bilheteira.
Mas houve outros filmes-concerto a passar pelas salas portuguesas no ano passado: Renaissance: A Film by Beyoncé; Suga: Road to D-Day, do rapper sul-coreano; a transmissão ao vivo de concertos dos Metallica; ou o restauro comemorativo dos 40 anos de Stop Making Sense, que juntou Jonathan Demme aos Talking Heads. Curiosamente, tanto o realizador como David Byrne, a cabeça da banda, voltaram ao mesmo território muitos anos depois: a derradeira longa-metragem de Jonathan Demme, datada de 2016, foi o filme-concerto Justin Timberlake + The Tennessee Kids, uma produção Netflix; quatro anos depois, Spike Lee filmava American Utopia, o espectáculo que David Byrne levou à Broadway.
Não sendo um fenómeno recente, o filão dos filmes-concerto terá tido particular impacto nas contas da indústria cinematográfica em 2023, e por diversas razões. Devido a duas greves simultâneas, a dos argumentistas e a dos actores, as grandes produções de Hollywood ficaram em stand-by durante largos meses. Por outro lado, os bilhetes para concertos estão cada vez mais caros e, no início da pandemia, vários artistas filmaram actuações destinadas ao público confinado em casa.
No caso de Taylor Swift, o filme incide sobre uma máquina de fazer dinheiro que continua na estrada, com lotações esgotadas. A Eras Tour passará por Lisboa em Maio. Os bilhetes, cujos preços oscilavam entre os 62,50 e os 227 euros (sem contar com os pacotes VIP) voaram num ápice, pelo que muitos interessados estarão mesmo condenados a assistir à digressão no sofá. Faça-se o que se fizer em casa, convém pôr a tocar alto, como A Última Valsa.