Relação anula condenação e pede novo acórdão no caso de botulismo com alheiras

A segunda instância entendeu que o tribunal não se pronunciou sobre todos os factos constantes na acusação, devolvendo o caso aos juízes do Tribunal de Bragança.

Foto
Quatro pessoas ficaram doentes após ingerirem alheiras alegadamente contaminadas Anna Costa
Ouça este artigo
00:00
03:10

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O Tribunal da Relação de Guimarães anulou a condenação do chef Luís Portugal e decidiu que deve ser proferido um novo acórdão no caso de botulismo em que quatro pessoas ficaram doentes após ingerirem alheiras alegadamente contaminadas.

A segunda instância entendeu que o tribunal não se pronunciou sobre todos os factos constantes na acusação, devolvendo o caso aos juízes do Tribunal de Bragança.

O empresário acusado no caso do botulismo tinha sido condenado em Fevereiro de 2023 a cinco anos de prisão, com pena suspensa, e a pagar cerca de 30 mil euros a três dos lesados. A sociedade de que era proprietário, Verdade Transmontana, também arguida no processo, tinha sido condenada a pagar uma multa de montante global de 60 mil euros, substituída por uma caução de boa conduta de 65 mil euros, o que implicava ficar livre do encargo se não cometesse mais ilícitos no prazo de cinco de anos.

O empresário e a sociedade comercial estavam acusados de quatro crimes de corrupção de substâncias alimentares, agravados pelo resultado, por terem "desrespeitado diversas normas higieno-sanitárias na produção, armazenamento, transporte e comercialização das alheiras, o que terá originado a propagação da bactéria".

Após a condenação, os arguidos recorreram para o Tribunal da Relação de Guimarães em cuja decisão, a que a Lusa teve acesso, os juízes declararam "nulo o acórdão recorrido, ordenando a prolação de novo acórdão".

O Tribunal de Guimarães descreve que "a acusação imputava aos arguidos a prática de quatro crimes de corrupção de substâncias alimentares ou medicinais (...) com dolo directo — na acção — e dolo eventual — na criação do perigo —, enquanto os factos apurados pelo Tribunal "a quo" [o de primeira instância] reconduziram a conduta dos arguidos ao dolo eventual — na acção —​ e à negligência consciente — na criação de perigo".

A Relação considerou que "omitiu o Tribunal "a quo" na matéria não provada (...) os factos da acusação relativos àqueles dolo directo e eventual, ou seja, não se pronunciou sobre matéria que constava na acusação", sendo que "o que a lei pretende é que o tribunal tome posição sobre cada um deles".

Contactado hoje pela Lusa, Luís Portugal disse estar "muito feliz" com esta decisão, estando a viver "numa ansiedade há nove anos", apesar de "consciência tranquila como desde a primeira hora".

"Estou muito feliz. Acredito na verdade e na justiça, acima de tudo, e ela vai-se fazer. Agora, que é muito dolorosa e prolongada, isso é verdade. (...) Vive uma família, uma equipa, um conjunto de amigos de coisas que aconteceram e que têm de ter explicação. Não lhe encontrámos uma explicação e fui condenado sem explicação", considerou Luís Portugal.

O julgamento começou em Setembro de 2022, sete anos depois da polémica que, no Verão de 2015, levou à hospitalização de quatro pessoas, que terão consumido os enchidos numa feira e num restaurante em Bragança explorado pela sociedade, e que afectou as vendas dos conhecidos enchidos transmontanos.

"Consumidas, vieram a provocar botulismo em quatro pessoas, com internamento hospitalar e perigo concreto para a vida, dando causa a lesões que demandaram para a cura entre 74 e 181 dias", especificava a acusação.

O caso foi conhecido a 26 de Setembro de 2015, quando as autoridades de saúde deram conta dos primeiros casos de botulismo associando-os a alheiras comercializadas com a marca Origem Transmontana.