É a grande noite do cinema, mas também da moda. Antes da cerimónia das estatuetas douradas, é na passadeira vermelha à porta do Dolby Theatre, em Los Angeles, Estados Unidos, que as celebridades desfilam. A expectativa estava alta para a 96.ª edição dos prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood e as estrelas cumpriram, com as nomeadas para Melhor Actriz a roubarem atenções. A tónica esteve nos brilhos, em silhuetas esguias, mas, nem por isso, menos dramáticas. Afinal, são os Óscares.
Neste ano, a passadeira voltou a ser vermelha, depois de, em 2023, a carpete ter sido trocada por uma versão em champanhe. As celebridades parecem ter-se inspirado nesse tom para a escolha dos coordenados, numa noite em que a cor ficou para segundo plano, com o dourado das estatuetas a transportar-se para os vestidos, a começar por Emily Blunt.
A nomeada para o Óscar de Melhor Actriz Secundária (que foi para Da’vine Joy Randolph, que vestiu Louis Vuitton) trouxe uma nova silhueta com um modelo Schiaparelli, com um toque de sportswear. O corte é semelhante ao de um top de manga cava (estilo Jane Fonda), com as alças suspensas de forma estruturada ─ a fazer lembrar o surrealismo da própria Elsa Schiaparelli. Blunt foi acompanhada do marido, John Krasinski, que também se vestiu de branco.
Emily Blunt não foi a única nomeada da noite a eleger Schiaparelli. Sandra Hüller, nomeada por Anatomia de uma Queda, foi uma das primeiras a chegar à passadeira vermelha com um vestido preto em veludo também assinado por Daniel Roseberry. O modelo distinguiu-se pelas mangas exageradas e o decote em barco, que o tornaram uma das opções mais consensuais.
Igualmente consensuais foram as Barbies da noite. Margot Robbie voltou a brilhar (literalmente) com um vestido preto repleto de lantejoulas da Versace. Não demorou até que as redes sociais associassem a cor a uma forma de protesto por não ter sido nomeada para Melhor Actriz, nem Greta Gerwig como realizadora. A Vogue atribuiu-lhe mesmo o título de “vestido para o funeral da Barbie”.
Teorias à parte, a nomeada America Ferrera deslumbrou com uma criação da mesma casa italiana, igualmente cintilante ─ ao longo da temporada de prémios, ao contrário de Robbie, a actriz optou quase sempre por preto e havia de guardar o cor-de-rosa para a derradeira cerimónia.
Por falar em cor-de-rosa, apesar de não ter sido a cor favorita da noite, destaque para Ariana Grande, com uma volumosa capa de tafetá de alta-costura Giambattista Valli ou Zendaya em Armani Privé. Ainda no campo musical, Billie Eilish é sempre uma das presenças mais aguardadas da red carpet pelo lado excêntrico que traz. Desta vez, a cantora jogou pelo seguro com um fato de saia em tweed, assinado pela Chanel ─ a marca que também usou na primeira vez que foi aos Óscares, em 2020.
O preto foi mesmo das cores de noite, seguindo a máxima de “nunca comprometer”, mas sem aborrecer. Carey Mulligan, nomeada por Maestro, foi uma das últimas estrelas a chegar à cerimónia, mas valeu a pena a espera. O modelo de corte sereia, com tule bege no final da saia, foi completado com umas luvas a cobrir os braços, numa elegância que tem sido pouco comum para a Balenciaga nos últimos anos. Soube-se depois que o director criativo Demna Gvsalia recriou um modelo de 1951 desenhado por Cristóbal Balenciaga.
Carey Mulligan não chegou acompanhada do co-protagonista Bradley Cooper. O actor que deu vida ao maestro Leonard Berstein no grande ecrã desfilou com a mãe na passadeira vermelha, a usar um fato de corte vintage com calças à boca-de-sino da Louis Vuitton.
Levar os filmes para a red carpet
Continuando o desfile de nomeados, a grande expectativa da noite estava em Emma Stone, que foi uma das mais bem vestidas desta temporada de prémios. A actriz trouxe para a red carpet a personagem de Bella Baxter de Pobres Criaturas ao longo dos últimos meses, muitas vezes de forma directa com reinterpretações de silhuetas dos figurinos, como nos Bafta. Desta vez, a alusão foi mais subtil, com uma silhueta a fazer lembrar as conchas e motivos surrealistas do filme.
A criação de Nicolas Ghesquière da Louis Vuitton ─ marca de que é embaixadora ─ reinterpreta a forma de uma concha com a silhueta em peplum. O tecido usado com ligeiro toque de menta é um jacquard também com motivos semelhantes às linhas de uma concha. É mesma “energia de Bella Baxter”, mas com a “simplicidade da modernidade”, explicou a stylist da actriz à revista Vogue.
E, por falar em conchas, um dos favoritos da noite foi usado por Anya Taylor-Joy, que foi uma das apresentadoras das estatuetas. O vestido assinado por Maria Grazia Chiuri, directora criativa da Dior, é inspirado num modelo de 1949, que o próprio Christian Dior desenhou. O modelo original foi uma reinterpretação do Nascimento de Vénus de Botticelli, com lantejoulas, pérolas e, claro, conchas.
E se Emma Stone é embaixadora da Louis Vuitton, Anya Taylor-Joy é um dos rostos da Dior, tal como Jennifer Lawrence, que elegeu um vestido de alta-costura às bolinhas preto e branco, que terá demorado mais de 1.500 horas a fazer. As passadeiras vermelhas são momentos de excelência para as casas de moda e para os seus criadores, que a troco de visibilidade na imprensa e nas redes sociais vestem os nomeados.
A visibilidade é também útil para outros temas, como a integração indígena que Lily Gladstone levou a estes Óscares. A actriz usou um vestido Gucci em veludo azul-noite com uma capa bordada de flores (em alusão a Os Assassinos da Rua das Flores), um trabalho do artista indígena Joe Big Mountain, que também assinou as jóias do look.
“A Lily podia ter escolhido qualquer pessoa no mundo para desenhar o seu vestido para este momento monumental da sua vida e escolheu-me a mim ─ apenas um miúdo indígena que cresceu a querer ser artista. Isso é um verdadeiro reflexo de quem somos enquanto povos indígenas: independentemente da situação, continuamos a querer trazer toda a gente para a mesa”, celebrou o artista em entrevista à Vogue.
Na galeria de imagens acima, acompanhe o desfile de celebridades na passadeira vermelha do Dolby Theatre.