Mulheres ilustres numa história ilustrada

Na sexta-feira, 8 de Março, foi Dia da Mulher, mas podemos prolongá-lo. Ler e dar a ler este livro é uma boa forma de o fazer.

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Zitkala-Ša fundou, em 1926, o Conselho Nacional dos Índios Norte-Americanos, destinado a lutar pela conquista de direitos e cidadania americana Cristina Daura
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A filósofa francesa Simone de Beauvoir: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher” Cristina Daura
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Maria de Lourdes Pintasilgo foi a primeira mulher portuguesa num cargo ministerial. Em 1975, foi ministra dos Assuntos Sociais Cristina Daura
Herstory: uma história ilustrada sobre mulheres
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A escritora britânica feminista Virginia Woolf: o quarto mutante só seu Cristina Daura
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Nina Simone: de criança-prodígio a sacerdotisa do soul Cristina Daura
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Capa de Herstory: Uma História Ilustrada das Mulheres, edição da Orfeu Negro Cristina Daura
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É e não é para crianças. Herstory: Uma História Ilustrada das Mulheres integra-se na colecção Orfeu Mini da Orfeu Negro, que a editora Carla Oliveira gosta de designar como “uma série de livros ilustrados para miúdos e graúdos”.

Recordou-o na conversa na Culturgest, em Lisboa, no dia 5 de Março, a convite do PÚBLICO, sob o mote “Menino ou menina? Estereótipos nos livros para crianças”. Festejava-se o 34.º aniversário do jornal e o tema maior era “Ser mulher em liberdade”, pelo que fez todo o sentido que nos desse a conhecer esta obra, num painel partilhado com Célia Louro (do grupo Penguin Random House) e Dora Batalim (professora universitária especialista em livro infantil).

A editora explicou que o livro foi escrito originalmente em Espanha, mas que nesta edição fez por integrar mulheres portuguesas, assim como momentos importantes da história nacional. Exemplos: a trabalhadora rural Catarina Eufémia, a jornalista Maria Lamas, a ministra Maria de Lourdes Pintasilgo, a atleta Rosa Mota, as cantoras Doce, a transexual e trabalhadora do sexo Gisberta Salce, a escritora Paulina Chiziane (primeira mulher africana distinguida com o Prémio Camões), o 25 de Abril de 1974, a Marcha Mundial das Mulheres, a Primeira Marcha do Orgulho de Lisboa e a interrupção voluntária da gravidez em Portugal.

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Algumas das mulheres portuguesas que integram esta edição: Paula Chiziane, Rosa Mota, Gisberta Salce e as Doce Cristina Daura

Esta escolha, que não está aqui descrita na totalidade, é assim justificada nas últimas páginas: “Para uma representação mais completa da história das mulheres em Portugal, esta edição de Herstory contou com uma selecção cuidada e minuciosa de figuras e momentos incontornáveis, além da adaptação, em alguns momentos, dos textos da edição original à realidade portuguesa. Este trabalho, sempre subjectivo e inevitavelmente incompleto, foi assumido por Olímpia Pereira, há muito ligada à defesa dos direitos das mulheres em Portugal, em diálogo com a Orfeu Negro. As novas entradas são acompanhadas por ilustrações de Cristina Daura, exclusivas para esta edição.”

Da pré-história ao #MeToo

O resultado é um livro informativo, mas também emotivo, com um leque muito alargado de mulheres de várias geografias e dedicadas a diversas áreas do conhecimento, das artes, da política, do desporto, da defesa dos direitos humanos. Mais ou menos feministas, todas elas se distinguiram pela coragem, luta e persistência num mundo dominado sobretudo por homens. Muitas foram vítimas às suas mãos até à morte.

Organizado da pré-história ao movimento #MeToo, que denuncia o assédio sexual às mulheres, Herstory “recupera histórias e imagens de mulheres votadas ao esquecimento pela narrativa ocidental dominante”. Na divulgação do livro, escreve-se que “a história das mulheres tem sido uma batalha constante pela conquista de novos espaços de liberdade, encabeçada por figuras decisivas e iniciativas colectivas”.

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Movimento #MeToo, que denuncia o assédio sexual às mulheres Cristina Daura

A escritora britânica feminista Virginia Woolf, a filósofa francesa Simone de Beauvoir (“ninguém nasce mulher: torna-se mulher”), mas também as mulheres da Praça Tahrir (Primavera Árabe, 2011) ou as palestinianas Matiel Mogannam (cristã) e Tarab Abd al-Hadi (muçulmana), que discursaram contra a invasão judaica na década de 1930, e tantas outras, com as suas lutas mais ou menos visíveis, têm aqui lugar.

Escrevem as autoras na Introdução: “Tentar abarcar a ‘História das mulheres’ num livro de espaço reduzido é uma missão impossível desde o início. A palavra ‘História’ cria um problema de base, e foi para nós uma prioridade despojá-la da sua inicial maiúscula e torná-la plural. Em Herstory não falamos de ‘História das mulheres’, mas de ‘histórias de mulheres’, de micronarrativas que se entrecruzam e nos conduzem a outras histórias, para eliminar os tabiques do relato e abri-lo a mutações, notas de rodapé, esboços e contribuições díspares.” Fizeram-no bem.

María Bastarós e Nacho M. Segarra são especialistas em história da arte, feminismo, activismo e sexualidade, trabalhando nas áreas da escrita e da consultoria para projectos artísticos.

A acompanhá-las está o trabalho de Cristina Daura, com ilustrações coloridas e de forte pendor activista. Vive em Barcelona e diz que as suas grandes influências são a banda desenhada, a televisão e o fauvismo. Nota-se.

A divulgação de Herstory por parte da editora termina assim: “Um livro inspirador para todas as mulheres, porque a luta continua agora e sempre, e cada dia mais guerreiras se juntam ao combate.”

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