Ser mulher e o desafio de cuidarmos de nós

Seja por pressões externas ou internas, muitas vezes, acabamos por nos colocar em segundo plano e esquecemo-nos que também nós devemos ter a oportunidade de cuidarmos de nós e da nossa saúde.

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"No meio disto tudo, em que momento temos tempo para pensar em nós?" Chelsi Peter/pexels.com
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Atrevo-me a dizer que ser mulher nunca foi fácil. Embora os motivos para tal tenham vindo a mudar, ao longo dos tempos, e apesar de termos vindo a evoluir num bom sentido, ainda há muito caminho a percorrer.

Ser mulher, hoje em dia, é maravilhoso. É poder ser livremente mulher, é poder ser profissional na área que queremos (umas ainda mais difíceis que outras, é certo), é poder ser mãe (porque se escolhe, não porque se é obrigada), é poder ser amiga, filha, irmã e tantas outras coisas que já éramos antes.

Mas ser mulher, hoje em dia, também é muito exigente. É ter de ser a mãe que falta ao trabalho quando os filhos estão doentes, ou que tem de sair a correr do trabalho para os ir buscar à escola, é ter de sair de casa a pensar no que fazer para o jantar, é ficar de coração partido quando sentimos que falhamos com os que nos são mais queridos, ou de cabeça em água quando percebemos que há tarefas que estão a ficar para trás.

No meio disto tudo, em que momento temos tempo para pensar em nós? Na nossa saúde? Enquanto nos sentimos bem, a prioridade é acompanharmos os nossos filhos e os nossos pais às suas consultas, em vez de marcarmos as nossas; cuidar deles, mais do que de nós. Contudo, o tempo é um dos bens mais preciosos e mais escassos, no que diz respeito a cuidar da saúde.

Não temos tempo para ir ao ginásio, para comer de forma saudável, nem para recuperar do parto enquanto somos novas. Passamos tudo isso para segundo plano. No entanto, é importante estarmos conscientes de que não vai ser quando tivermos diabetes que vamos conseguir reverter anos de sedentarismo ou maus hábitos alimentares. Nem vai ser quando tivermos incontinência de esforço que tudo se vai resolver com fisioterapia do pavimento pélvico. A prevenção começa ontem, e é fundamental investirmos nela.

Isto leva-nos para outro desafio ao qual somos chamadas a responder: o das expectativas. Por vezes, somos as nossas próprias inimigas. Queremos ser boas em tudo, chegar a todos e ficamos tristes quando não conseguimos. Somos orgulhosas e não queremos aceitar a ajuda de ninguém, para fazer aquilo que achamos que devíamos conseguir fazer sozinhas.

É aqui que entra a necessidade de sermos acompanhadas, quando é preciso alguém que cuide de nós, da nossa saúde física e também da nossa saúde mental. É algo a que é mais fácil acedermos agora, comparado com o que era no tempo das nossas avós, ou mesmo das nossas mães. Relativamente à saúde mental, ter uma consulta com um psicólogo ou um psiquiatra era mal visto. Agora que já se começa a normalizar a preocupação com a saúde mental, temos de continuar a trabalhar para que seja visto sem desconfiança recorrer a este tipo de consultas.

No que toca à saúde física, é fundamental não deixarmos o acompanhamento médico para depois. Ao longo da nossa vida, enfrentamos fases como a adolescência, a gravidez e o pós-parto, a menopausa e o envelhecimento, cada uma com os seus desafios e particularidades. Consultar regularmente o médico permite que as vivamos com mais informação, mais bem preparadas e com menos complicações, além de ser fundamental para prevenir ou detetar precocemente doenças e tratá-las atempadamente.

Enquanto mulheres, os nossos desafios — que são difíceis, mas não intransponíveis — são gerir bem o nosso tempo, obrigando-nos a colocar-nos a nós próprias, e ao nosso bem-estar, na agenda; adaptar as nossas expectativas ao facto de os horários, por vezes, não irem ao encontro do que queríamos; abandonar o sentimento de culpa e, acima de tudo, não ter receio de pedir ajuda, seja a amigos, familiares, ou a profissionais de saúde.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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