Do elenco aos adolescentes, a visão do filme Barbie sobre o patriarcado teve repercussões

A Mattel Inc., fabricante da Barbie, disse que a sua pesquisa junto dos consumidores mostrou que 87% consideravam a marca Barbie como uma força para as raparigas após o lançamento do filme.

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Simu Liu disse sentir que o objectivo do filme era mostrar que o patriarcado “é mau para todos” Reuters/Mike Blake
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O actor Simu Liu, que interpretou um dos Kens em Barbie, filme nomeado para oito Óscares, teve uma revelação quando leu pela primeira vez o argumento e as ideias reflectidas nele sobre os danos infligidos pelo patriarcado.

“Todos nós gostamos de pensar que somos diferentes, que somos progressistas”, justifica Liu numa entrevista à Reuters. “E depois lemos uma cena que nos chama a atenção de forma tão completa e absoluta, que eu penso: ‘Oh sim, eu faço parte do problema.’”

Barbie, que, no domingo, estará a competir, entre outras categorias, pela estatueta de melhor filme, gerou um recorde de quase 1,4 mil milhões de dólares nas bilheteiras mundiais em 2023. Co-escrito pelo casal Greta Gerwig e Noah Baumbach, também mudou algumas atitudes sobre homens e mulheres.

O filme move-se entre a Terra da Barbie, dirigida pela Presidente Barbie e outras bonecas, e o Mundo Real — um mundo governado por homens que dão poucas oportunidades às mulheres.

Liu aponta para cenas em que os Kens tentam impressionar as Barbies tocando a canção Push dos Matchbox Twenty na guitarra enquanto as mulheres olham fixamente para os seus olhos. “Vou tocar guitarra para ti”, diz o Ken de Ryan Gosling à Barbie de Margot Robbie. “Lembrei-me imediatamente de mim, com 19 anos, na faculdade”, confessa Liu sobre a cena. “Sim, era definitivamente eu.”

O actor sente que o objectivo do filme era mostrar que o patriarcado “é mau para todos”. E concorda: “Afecta os homens porque coloca esta cena estranha nas nossas mentes sobre o que temos de ser e quem temos de ser. E depois, obviamente, torna as coisas muito difíceis para as mulheres.”

Adolescentes perceberam a mensagem

A directora de medicina para adolescentes do Cleveland Clinic Children’s Hospital, Ellen Rome, procurou obter reacções ao filme junto de uma centena de adolescentes e pais que visitaram a sua clínica após a estreia do filme.

A maioria das crianças “percebeu como o patriarcado na sociedade é normativo e como pode ter um impacte negativo tanto nas mulheres como nos homens”, revela Rome. “Miúdos de 11, 12 e 13 anos perceberam isto.”

Os rapazes “viram e puderam perceber como era inapropriado tratar as mulheres como objectos ou fazer comentários negativos sobre elas”, afirma. E os rapazes também queriam um Ken com mais poder, acrescenta.

“O facto de ele ser um acessório não passou despercebido aos rapazes”, explica. “Queriam que o Ken fosse capaz de ter a sua própria agenda.”

Rome diz que gostou do facto de o filme abordar directamente a saúde mental. A “Barbie estereotipada” interpretada por Robbie lidou com a depressão e pensamentos de morte e trabalhou o seu caminho através disso.

“Eles abordaram muito bem o facto de os problemas de saúde mental poderem afectar qualquer pessoa e que é possível fazer uma viagem de herói para enfrentar essa depressão e descobrir como se fortalecer”, resume.

Mas a médica também tem algumas críticas a fazer: o filme mostra pouca diversidade corporal nas Barbies e nos Kens. Não havia Kens com obesidade, por exemplo. E, a “Barbie estranha”, interpretada por Kate McKinnon, “é valorizada, mas isolada”, observa.

A Mattel Inc., fabricante da Barbie, disse que, após o lançamento do filme, a sua pesquisa junto dos consumidores mostrou que 87% considerava a marca Barbie como uma força para as raparigas, e 80% disse que a marca “mostrava a diversidade do corpo”. Um inquérito externo concluiu que o filme alterou algumas percepções sobre homens e mulheres no local de trabalho.

O Resume Builder, um site para quem procura emprego, encomendou uma sondagem a 300 americanos que tinham visto Barbie: 53% de todos os espectadores responderam que o filme melhorou a sua opinião sobre as mulheres no local de trabalho e 63% dos homens disseram que o filme os tornou mais conscientes do patriarcado no trabalho.

A actriz Ariana Greenblatt, que interpretou uma adolescente céptica em relação à Barbie, conta que as raparigas lhe agradeceram por ter chamado a atenção para os problemas que enfrentam. “Acho que as pessoas vão olhar para as coisas de forma diferente para sempre”, diz. “E isso é a coisa mais fixe do mundo. Espero que mudemos o rumo da sociedade.”