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Carola Lampe vive “num mundo pós-capitalista regido por algoritmos”. E tu também

A artista alemã Carola Lampe propõe uma reflexão acerca da linha cada vez mais difusa que divide o espaço físico do virtual. “Que aspecto terá o mundo quando todos os parâmetros das nossas vidas forem redesenhados e reconstruídos?”

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Quando a artista alemã Carola Lampe desenvolveu o projecto Tell Me What To See, composto por imagens fotográficas, sintéticas e manipuladas, “quis olhar em profundidade para as implicações dos dados, algoritmos e inteligência artificial”, expõe ao P3, numa entrevista a partir de Berlim. “Quis entender o impacto das tecnologias digitais no comportamento e experiência humanos e o que significa viver num mundo pós-capitalista regido por algoritmos”, resume.

A imagem é, para Lampe, um ponto de partida para questões mais profundas. “Num futuro próximo, as linhas que separam a liberdade do controlo, a realidade da simulação, ter-se-ão esbatido”, escreve na sinopse do projecto que já esteve em exposição em Belfast e em Berlim. “O foco está nas novas realidades criadas inteiramente por máquinas e na dissolução das fronteiras entre os espaços reais e digitais que habitamos.”

Para cavar mais fundo o fosso da dúvida que promete assombrar a percepção humana no futuro, a alemã combinou no projecto fotografias de rua e de estúdio, imagens geradas por inteligência artificial (IA) e por software gráfico 3D sem especificar a natureza ou proveniência de uma. “Tudo isto está relacionado com a ideia dos grandes dados e com o arrebatamento provocado pelo excesso de imagens que são produzidas e consumidas cuja veracidade deixará de poder ser facilmente confirmada”, explica.

“Com todas as informações, dados e imagens falsas [disponíveis na web], será cada vez mais difícil distinguir a realidade da ficção”, alerta a artista que já foi engenheira informática. “As pessoas mantêm-se informadas a partir das redes sociais e vêem no seu feed apenas aquilo que o algoritmo lhes devolve, que vai, tendencialmente, ao encontro da reafirmação do seu conjunto de crenças”, diz, aludindo ao “modelo de bolha” (filter bubble) que assumem a esmagadora maioria das redes sociais. “Esse modelo, temos visto, tem tendência a erodir as democracias” ao criar fenómenos de polarização ideológica.

É complexo, diz a artista. “Existem quatro empresas [privadas] no mundo que detêm a esmagadora maioria dos grandes dados: a Google, a Amazon, a Apple e a Meta.” Essas empresas, que detêm os dados e implementam os seus próprios algoritmos, concentram o poder de influenciar, à medida dos seus interesses comerciais, o consumo de produtos e de informação. “Os governos não conseguem legislar ao mesmo ritmo a que a tecnologia se desenvolve, por isso essa influência está concentrada essencialmente nas mãos essas empresas, que são motivadas única e exclusivamente pelo lucro.”

Se aquilo que vemos online já “transborda” para a realidade, alterando o curso natural dos acontecimentos, o desenvolvimento do metaverso (uma dimensão virtual em desenvolvimento pela Meta, onde avatares 3D de pessoas, empresas e organizações que existem no mundo real podem interagir) e da realidade aumentada (que irá “fundir” o mundo físico e o virtual através de dispositivos que dispensam o uso de ecrãs, ratos ou teclados) poderão provocar novas revoluções na forma como percepcionamos o mundo. “Não sou profeta”, brinca Lampe, “mas creio que a integração destas tecnologias irá, no futuro, provocar ainda mais alienação e separação entre os indivíduos”.

O projecto de Lampe é, no fundo, sobre os sentidos humanos e sobre o impacto do estímulo digital na concepção da realidade. Quando Tell Me What To See é exibido, invariavelmente em formato de instalação, o espectador é confrontado com vários ecrãs que “bombardeiam”, de forma coreografada, uma enorme quantidade de imagens. O ritmo vertiginoso inebria ou nauseia, dependendo de quem olha.

“Interessa-me criar uma experiência e provocar uma resposta emocional no espectador”, elucida. “Esse não saberá exactamente o que está a acontecer, mas saberá que, abaixo da superfície, existe algo indizível lhe provoca inquietação.” Porque é assim, no fundo, que Lampe se sente diante do caos imagético e informativo em que está mergulhada. “O projecto transporta algumas das minhas preocupações relativamente às implicações negativas [destes avanços tecnológicos].” Em Tell Me What To See, a artista multidisciplinar tenta “tornar visível o que é invisível” e constrói “um mundo artificial, uma nova realidade que é o reflexo do futuro e da experiência humanas”.

Imagem, sintética ou fotográfica - Carola Lampe deseja suscitar a dúvida - do projecto <i>Tell Me What To See</i>
Imagem, sintética ou fotográfica - Carola Lampe deseja suscitar a dúvida - do projecto Tell Me What To See Carola Lampe
Imagem, sintética ou fotográfica - Carola Lampe deseja suscitar a dúvida - do projecto <i>Tell Me What To See</i>
Imagem, sintética ou fotográfica - Carola Lampe deseja suscitar a dúvida - do projecto Tell Me What To See Carola Lampe
Imagem, sintética ou fotográfica - Carola Lampe deseja suscitar a dúvida - do projecto <i>Tell Me What To See</i>
Imagem, sintética ou fotográfica - Carola Lampe deseja suscitar a dúvida - do projecto Tell Me What To See Carola Lampe
Imagem, sintética ou fotográfica - Carola Lampe deseja suscitar a dúvida - do projecto <i>Tell Me What To See</i>
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Imagem, sintética ou fotográfica - Carola Lampe deseja suscitar a dúvida - do projecto <i>Tell Me What To See</i>
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Imagem, sintética ou fotográfica - Carola Lampe deseja suscitar a dúvida - do projecto <i>Tell Me What To See</i>
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