Vamos falar das nossas mães com amor
Os pais estão mais do que fartos de elogiar os filhos, não era bom que os filhos cultivassem o hábito de elogiar os pais? Já comecei a por o projeto em prática.
Querida Mãe,
No outro dia, fui à fisioterapia e quando saí, percebi que tinha passado os últimos 15 minutos a dizer bem de si!
Mas não estou a dizer isto para lhe dar graxa, nem porque queira pedir-lhe alguma coisa (embora por acaso tenho um jantar no dia… Estou a brincar!), mas porque numa sociedade em que quase se glorifica a narrativa do “A culpa é das mães”, acho que é preciso levantar a voz por elas. Vamos falar das nossas mães aos outros com amor, com orgulho e sem vergonha. E, sim, em vésperas do Dia da Mulher, também das mulheres fantásticas que são.
Atenção, não estou a dizer que não seja preciso passarmos primeiro pela fase do “matar a mãe” — ou seja, os terapeutas não vão ficar sem trabalho em consequência desta minha abordagem —, mas como em qualquer outra relação não podemos contar só uma parte da história, fechando os olhos às coisas maravilhosas das pessoas de quem gostamos. Além do mais, ajuda-nos a “des-irritarmo-nos” de detalhes que, muitas vezes, nem são assim tão importantes, passando a ver os nossos pais como seres humanos que são. E, nesse sentido, merecedores da nossa compaixão e, até, do nosso perdão.
Mãe, os pais estão mais do que fartos de elogiar os filhos, não era bom que os filhos cultivassem o hábito de elogiar os pais? Já comecei a por o projeto em prática, e por isso fica a saber que o meu fisioterapeuta já levou com uma dose de elogios sobre si — se quiser confirmar dou-lhe o número dele!
Beijinhos!
Ana
Querida Ana,
Muito obrigada, mesmo, mas a sessão foi só de 15 minutos? De que falaste no resto do tempo — não tinhas mais nada de bom para dizer da tua mãezinha? Aqui deves ouvir a minha gargalhada, com que mascaro sempre a dificuldade em escutar elogios. Mesmo que, obviamente, muito merecidos.
Subscrevo a tua campanha porque acho que perdemos muito tempo a endeusar as pessoas que conhecemos mal, ou de que só conhecemos um lado, sem valorizar aquelas que estão perto de nós e que, obviamente, têm mais dificuldade em sair perfeitas na fotografia.
Mais ainda quando são as nossas mães, naquela que é provavelmente a relação mais difícil que existe no mundo das relações, porque esperamos tudo dela.
A nossa dependência das nossas mães é tão grande, e simultaneamente tão alta a bitola, que inevitavelmente acabamos mergulhados num caldeirão de emoções contraditórias — queremos ser como elas, mas simultaneamente queremos fazer ainda melhor do que elas; damos tudo para que nos admirem, mas por isso mesmo a menor desaprovação tem o sabor a facada pelas costas. Cereja em cima do bolo, a certeza do seu amor incondicional permite-nos continuarmos a ser birrentos à sua frente, presos muitas vezes a uma comunicação adolescente que não parece crescer nunca.
Mas tens razão, vamos deixar-nos de conversas e olhar para as nossas mães, como pessoas. Como mulheres. Obrigando-nos a criar alguma distância para as vermos como realmente são, ou foram, por uma vez sem ser em função de nós. Com a liberdade de lhes vermos os defeitos, mas, também, com a honestidade de as “avaliarmos” com justiça.
E aí, uau, vai-nos apetecer mesmo andar pelas ruas a falar delas. Com orgulho, e sem receio de que nos chamem lamechas ou “meninas da mamã”. É, decididamente, um exercício fantástico para celebrar de uma maneira diferente o dia 8 de março.
Obrigada Ana, mais uma vez. Pelos elogios e por me abrires os olhos.
O Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. As autoras escrevem segundo o Acordo Ortográfico de 1990