Depois do café tomado, BE desfila por Coimbra contra as “ideias retrógradas” da AD
“O que temos visto na campanha do PSD é um desfile, ou de candidatos que representam ideias retrógradas que é preciso esconder, ou do passado que regressa”, acusou Mariana Mortágua.
A chuvada que se fez sentir esta tarde em Coimbra obrigou o Bloco a substituir a arruada que tinha marcada por um encontro no café Santa Cruz. Assim que Mariana Mortágua entra, ao som de tambores e gaitas de foles, é recebida com palmas. Junto a Miguel Cardina, o cabeça de lista por Coimbra, e José Manuel Pureza, ex-deputado por este círculo, a líder bloquista bebe um "cafezinho" ao balcão. "À tarde é sempre essencial", diz. Mas não se demora. Com uma aberta no tempo, a comitiva faz-se às ruas.
De cravo de crochet ao peito, Mortágua segue pela Rua Ferreira Borges e vai-se apresentando às pessoas com quem se cruza, sempre de sorriso na cara. Na primeira loja de roupa por onde passa, encontra uma senhora à porta que lhe dá uma festinha na cara e lhe diz: “Tomara que tu ganhe.” Do outro lado da rua, um grupo de três homens aproxima-se para lhe desejar "boa sorte". "Estamos juntos”, diz um deles.
Apenas uns passos à frente ouve-se um “ó Mortágua”. Era uma rapariga, que do cimo de uma janela, a chamou para dar apoio: “Bora!”. Várias cabeças de jovens mulheres começam a aparecer e, enquanto filmam e mandam beijinhos, juntam-se ao coro de militantes que, cá em baixo, começam a gritar "É Bloco, é esquerda, é Bloco de Esquerda." A líder do partido retribui e, ao contrário do que costuma fazer, lembra que dia 10 é para votar no Bloco, desenhando um "V" no ar.
Passada a Igreja de São Tiago, Mortágua não muda a estratégia: raramente entra nas lojas, mas vai cumprimentando as pessoas que lá trabalham. À porta de uma loja de souvenirs, dá dois beijinhos a uma senhora e elogia-lhe os ímanes e os postais. Trata-se de Fátima Fernandes, 35 anos, que ao PÚBLICO se diz "abananada" por ter conhecido Mariana Mortágua, em quem vai votar nas eleições. E não é por causa da arruada. "O meu voto está decidido há muito tempo. O Bloco sempre me representou, pelos direitos das mulheres, a luta LGBT...", explica.
Depois de ter perdido o deputado por Coimbra em 2022, a recepção nas ruas parece tornar o cenário de uma reeleição mais verosímil, até em comparação com as arruadas de Almada e de Loures, onde os bloquistas chegaram mesmo a ser mal recebidos por apoiantes do Chega.
Aproveitando o embalo, já a falar aos jornalistas, a coordenadora do BE insiste repetidamente que é preciso que a "esquerda se mobilize" para que, "em muitos distritos, como o de Coimbra, eleja um deputado do BE" e possa constituir uma "maioria na Assembleia da República" que "faça a diferença em tantas crises", como a da habitação.
O foco está em "derrotar a direita" e, para isso, Mortágua vai aproveitando todos os momentos para atacar o partido de Luís Montenegro. Desta vez, fê-lo a partir da figura de Durão Barroso, que vai estar presente na campanha da AD, e que Mortágua associou "aos tempos sombrios da troika" e aos "grandes interesses" ao lembrar que era presidente da Comissão Europeia durante esse período e que presidiu ao Goldman Sachs.
"O que temos visto na campanha do PSD é um desfile, ou de candidatos que representam ideias retrógradas que é preciso esconder, ou do passado que regressa", disse, acusando a direita de apenas ter para "oferecer" essas duas coisas. Para mostrar que o BE é diferente, fez a defesa inversa: por um caminho "em frente por melhores serviços públicos e salários".
A ferrovia da "geringonça"
De manhã, o Bloco esteve na Guarda. A hipótese de eleger é remota, mas o partido fez-se à estrada, de Leiria à Covilhã, para falar dos problemas da ferrovia no interior. Chegados à gare, o comboio estava atrasado 21 minutos. Foi o mote perfeito para a conversa que se seguiu entre a líder do partido e os candidatos pela Guarda, Viana do Castelo e Viseu durante uma viagem de comboio até à Guarda.
Sentados numa das carruagens, os jovens cabeças de lista foram explicando como a linha da Beira Baixa esteve fechada entre 2009 e 2021 e, depois, entrou em obras de requalificação. Queixam-se dos atrasos, da falta de um passe intermodal ou da ausência de autocarros para as pessoas com mobilidade reduzida.
Mortágua vai fazendo a ponte entre as ideias, criticando a falta de investimento na ferrovia quando "sistematicamente" há uma parte do Orçamento do Estado que não é executado ou salientando que "empurra as pessoas para os carros".
Quando chega ao destino, aposta na mesma estratégia que tem vindo a aplicar nos últimos dias: lembrar como a "geringonça" funcionou bem e defender um novo acordo à esquerda que vá mais longe.
"Quisemos mostrar que há coisas boas em Portugal", como a ferrovia, disse, apontando que foi durante o acordo com o PS que se começaram a "abrir" e "requalificar" as linhas de ferro, depois da "destruição" da governação PSD/CDS. "É um exemplo de que quando há vontade política é possível”, disse, admitindo, contudo, que "falta fazer muito".