“Aqui podia ser uma residência universitária.” BE foi ao Largo do Carmo pedir menos um hotel

Junto a Marisa Matias, Mariana Mortágua visitou uma antiga escola fechada e uma associação em risco de ser desalojada para defender as propostas do Bloco de Esquerda para a habitação.

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Marisa Matias juntou-se à iniciativa do BE desta quinta-feira em Lisboa LUSA/FILIPE AMORIM
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Assim que se chega ao Largo do Carmo é quase impossível não ver logo uma faixa pendurada na fachada da antiga Escola Veiga Beirão, onde se lê: “Aqui podia ser uma residência universitária.” A frase é do Bloco de Esquerda, que se reuniu à porta do degradado Palácio dos Condes de Valadares para reivindicar que este edifício público​ seja reconvertido, não num hotel, mas numa residência estudantil. Foi a primeira vez que Marisa Matias, cabeça de lista pelo Porto, apareceu na campanha oficial do partido junto a Mariana Mortágua, a quem, depois de um longo abraço, disse estar a "fazer tudo muito bem".

O imponente edifício pintado de rosa, agora com a tinta desgastada e as janelas partidas, já serviu de casa ao Estudo Geral de Lisboa, aos liceus Nacional, Dona Amália e Passos Manuel, à Escola Comercial e Secundária Veiga Beirão e à Escola Fernão Lopes. Depois de ter sido alvo de uma intervenção, no âmbito do Parque Escolar, em 2009, acabou por encerrar, passando para a Direcção-Geral do Tesouro apenas em 2017. Agora, o Grupo Pestana mostrou interesse em comprar o edifício para o transformar num hotel de 70 quartos.

Frente a uma esplanada de turistas entretidos por músicos de rua, a explicação foi dada por Ricardo Moreira, dirigente do partido, que num momento de alguma encenação, foi trocando ideias com as cabeças de lista de Lisboa e do Porto sobre a falta de residências ou o "parque de diversões" em que a capital se tornou.

Já depois de a comitiva do BE ter contornado o edifício, junto às ruínas do Convento do Carmo, Mariana Mortágua deu o toque final: "Num momento em que falta tanta habitação em Lisboa, em que há colectividades e escolas que estão a ser expulsas da cidade, em que os estudantes não conseguem encontrar residências ou quartos, é inaceitável um edifício com estas características estar fechado e não ser imediatamente transformado numa residência universitária", disse aos jornalistas.

PS e PSD não passaram incólumes, acabando por ser acusados de terem criado um "pacto" para "promover medidas que alimentaram a crise da habitação", como os vistos gold ou o regime dos residentes não habituais. Ao invés, Mortágua defendeu a "mobilização imediata de património público para residências e habitação pública" e "regras para o alojamento local e fazer regredir número de licenças".

Meia hora depois, a comitiva do BE entrava no grupo dramático escolar "Os Combatentes", uma associação fundada em 1906 na Estrela para combater o analfabetismo e o alcoolismo, que está em risco de ficar desalojada porque tem "previsto um aumento de renda brutal". "Segundo a lei Cristas, caiu em cima de nós, como a tantas colectividades pelo país fora", lamentou o responsável pelo grupo, José Alberto Franco.

Era aquilo que Mortágua precisava ouvir para um novo "ataque" à direita. Depois de uma visita pelo espaço da associação, que em grande parte se dedica a albergar uma parafernália de memorabilia — antigos posters de combates de boxe, troféus, bandeirinhas de clubes desportivos ou fotografias de concertos de fado —, criticou o "peso da lei Cristas", que está a "permitir estes aumentos de rendas que estão a expulsar estas colectividades". E defendeu que "a direita não tem nenhuma solução para isto que não seja mais selvajaria no mercado da habitação".

"Nós queremos políticas de decência: limites às rendas especulativas e baixar os juros do crédito à habitação", resumiu. Será possível num acordo com o PS? "Eu já assisti a um programa de governo que não tinha nada a ver com o programa que o PS levou às eleições", disse, em jeito de aviso.

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