Mais de 200 pessoas burladas com falsos contratos de arrendamento

Burlões alugariam alojamentos locais por uns dias e fingiriam ser donos deles, colocando anúncios para os arrendar. Vítimas terão sido lesadas entre 1600 e 2400 euros

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Burlões alugavam alojamentos locais e far-se-iam passar por donos das casas. Ana Marques Maia
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A Polícia de Segurança Pública (PSP) já identificou 213 vítimas de um alegado grupo criminoso que se dedicaria a burlar pessoas que queriam arrendar casas na região Norte e Centro do país. As vítimas são maioritariamente estrangeiras recém-chegadas a Portugal que, por vezes, ficaram numa situação financeira de grande fragilidade. Houve casos em que foi necessário accionar a linha de emergência da Segurança Social.

O esquema passaria por arrendar durante uns dias um alojamento local com dados falsos e, pouco antes ou em simultâneo, colocar um anúncio para arrendar aquela habitação a preços convidativos. Com acesso à casa, os alegados burlões faziam-se passar pelos donos do imóvel e mostravam a casa às vítimas, pessoas interessadas em arrendá-lo.

Como os alvos eram preferencialmente estrangeiros, que vinham trabalhar ou estudar para Portugal e ainda viviam em hotéis e pensões, as partes chegavam rapidamente a um acordo. Os alegados burlões celebravam contratos de arrendamento recorrendo a dados falsos, recebendo das vítimas montantes que variavam entre os 1600 e os 2400 euros, relativos ao pagamento de rendas ou cauções.

Por vezes, as pessoas chegavam a mudar-se e só passado uns dias percebiam que tinham sido burladas, quando eram contactadas pelo verdadeiro dono que reclamava a desocupação do imóvel. Outras vezes nem terão chegado a fazer a mudança, já que o mesmo imóvel podia ser “arrendado” duas ou três vezes.

No processo dirigido pelo Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) do Porto, no âmbito do qual foram detidas esta quarta-feira 12 pessoas, estão contabilizados 140 queixosos, que tiveram um prejuízo global de 243 mil euros, explicou ao PÚBLICO o comissário João Soeima, da Divisão de Investigação Criminal da PSP do Porto, a unidade responsável pela investigação. Nestes casos, as burlas terão ocorrido essencialmente na área metropolitana do Porto. Para explicar a situação difícil em que ficaram muitas das vítimas, o comissário dá conta de uma família com quatro filhos menores proveniente da América Latina que se viu de um momento para o outro sem casa e sem dinheiro.

A PSP também identificou outros 73 casos, que terão ocorrido na região Centro e poderão vir a ser juntos ao inquérito que corre no DIAP do Porto. Nestes casos, ainda não está apurado o valor global das fraudes, mas o grupo e o modus operandi serão os mesmos.

A primeira burla, explicou o comissário João Soeima, terá ocorrido em Setembro de 2022. A Direcção Nacional da PSP terá identificado o fenómeno criminal que começou a ser investigado por aquela polícia em meados do ano passado. “Neste momento temos contabilizados prejuízos de aproximadamente 243 mil euros, mas todas as semanas, a partir do momento em que identificámos os verdadeiros autores que utilizavam nomes falsos, conseguimos descobrir cada vez mais crimes (...) uma média de 10 a 15 crimes novos”, indicou o comissário aos jornalistas.

Em alguns casos, além das burlas, os suspeitos terão roubado electrodomésticos dos alojamentos locais, nomeadamente fornos de microondas e televisores. Também terão sido furtados objectos de decoração. Parte desse material seria vendido em duas lojas, que seriam geridas pelo grupo e foram esta quarta-feira alvo de buscas.

Na operação desta quarta-feira foram detidas 12 pessoas, tendo ficado por executar um mandado de detenção, relativo a um cidadão estrangeiro, que não foi encontrado. Foram realizadas duas dezenas de buscas domiciliárias. Os detidos, três homens (dois dos quais considerados cabecilhas do grupo) e nove mulheres, com idades entre os 21 e os 53 anos, estão indiciados por burla qualificada e furto. Residiriam no Porto e em Gondomar, tendo um deles antecedentes criminais. Este suspeito estava em prisão domiciliária com pulseira electrónica por causa do seu envolvimento noutro processo-crime.

O grupo recorreria ainda a outras pessoas para receber os montantes arrecadados com as burlas, nomeadamente disponibilizando as respectivas contas bancárias. Estão identificadas cerca de meia dúzia de pessoas nesta situação, estando ainda a PSP a investigar o grau de conhecimento que tinham do esquema fraudulento. O processo corre na 6.ª Secção do DIAP do Porto e caberá ao juiz Pedro Miguel Vieira interrogar os detidos que serão presentes esta quinta-feira, às 14h, no Tribunal de Instrução Criminal do Porto.

Para evitar cair nestes esquemas, a PSP aconselha os cidadãos que queiram arrendar uma casa a procurarem pequenos indícios que podem ajudar a identificar situações suspeitas, nomeadamente a existência de códigos para entrar na habitação (método muito utilizado no alojamento local), a presença de atoalhados ou roupa de cama suplente ou um manual de utilização dos equipamentos. Em alguns casos, os vizinhos podem mostrar-se boas fontes de informação.

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