Soares é Fixe!… mas o filme é péssimo

Uma desgraça de filme, Soares é Fixe!, que se estreia quinta-feira. Dá pena.

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Soares é Fixe! estreia-se esta quinta-feira nos cinemas Filipe Feio
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Ponto prévio: contar uma história como a de Soares é Fixe!, extraída à História e à vida pública recentes de Portugal, não só não é necessariamente uma má ideia como até é potencialmente uma boa ideia, e não há nenhuma razão para que o cinema português não tenha a ganhar com o tratamento do que, para todos os efeitos, é uma memória comum do seu público. Mas, francamente, se é para o fazer, que se o faça bem, ou arrisca-se a ser totalmente contraproducente – como nos parece o caso deste filme, à beira do desastre total.

Não lhe falta uma ideia razoável de estrutura: contar a figura de Mário Soares a partir da noite da segunda volta das eleições presidenciais de 1986, alternando entre as sedes das candidaturas em confronto (Soares e Freitas do Amaral), e recheando isso com flashbacks (a fundação do Partido Socialista, a cisão com Salgado Zenha) da vida política de Soares – já vimos dúzias de filmes americanos funcionarem com dispositivos semelhantes, melhor ou pior. O que depois não há é unhas, nem meios, possivelmente nem talento, para preencher esta estrutura de uma forma que seja minimamente satisfatória.

Que dizer de um filme que nem acerta a tipificação dos seus protagonistas?... Nem Soares nem Freitas são figuras do século XIX, que sejam muito bem conhecidas de nome, mas ninguém tenha a mínima ideia de como eram, como se mexiam, como falavam. São figuras que andaram até há bem pouco tempo entre nós, e existem certamente dezenas de horas gravadas que nos permitem aceder ao seu estar, à sua personalidade pública.

Ora, uma pergunta: alguém é capaz de ver nas personagens de Tonan Quito e de Tiago Fernandes, respectivamente Soares e Freitas, os seus modelos? A Maria Barroso de Margarida Cardeal tem alguma coisa que ver com a Maria Barroso que também todos conhecemos tão bem? Não é uma questão de caracterização (embora também seja) nem um problema dos actores, é uma questão do desenho da personalidade, é uma questão dos diálogos (muito pobres, muito expositivos), é uma questão do desenvolvimento das situações – nada na bota deste filme bate com a perdigota da realidade (a perdigota da nossa memória), o espectador começa por não acreditar no que está a ver e continua até ao fim sem acreditar.

Depois, é um filme sempre neutro, não por decisão, mas por falta de força mesmo, incapaz de restituir a tensão de que aquelas eleições se revestiram (sabemos que há tensão, mas porquê? Porque as personagens explicam que há tensão), incapaz de aproveitar a história para pintar com um mínimo de pertinência e credibilidade o ambiente que se vivia em Portugal em meados dos anos 80 – estamos, aliás, sempre desligados do país, perdidos entre conversas entre os candidatos e o seu staff, uma espécie de kammerspiel dos pobrezinhos, cheio de apartes sem sentido (o casal do Renault 5 de regresso a casa: parece que vai acontecer alguma coisa, mas não acontece, que faz aquela sequência ali sem ser uma tentativa desesperada de dar “o povo”?), ou que só farão sentido (mera hipótese) na versão forçosamente mais longa de Soares é Fixe! como série de televisão.

Uma desgraça de filme, mas uma desgraça que, por todas razões, dá pena.

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