Lamego
Esta “casa em socalcos” nas vinhas do Douro teve a mão dos habitantes mais velhos
A Casa do Lagar manteve a pedra e o xisto originais. A madeira exterior esconde um interior de socalcos e parte da história da quinta.
Já foi o lagar onde se pisavam as uvas da quinta, mas hoje é uma casa no meio da vinha reconstruída tal como a paisagem: em socalcos.
A Casa do Lagar, na Quinta de Recião, em Lamego, é feita de pedra, madeira e com os pedaços de xisto que aquecem a terra durante os dias frios de Inverno. O projecto é assinado pelo atelier Colajj, mas contou com a ajuda de alguns dos habitantes mais velhos da região que, no tempo dos tios da actual proprietária, ajudavam na apanha da uva.
Francisca, farmacêutica de profissão, é a nova dona. Segundo o arquitecto João Vasconcelos, quis transformar a velha ruína numa unidade de turismo rural e, ao mesmo tempo, preservar a história dos antepassados. As espessas paredes de pedra foram aproveitadas e os dois tanques que existiam no interior “desmontados” para que nascesse um espaço de refeições ao ar livre, explica o arquitecto ao P3.
No interior, e a pedido da dona, o atelier continuou a desmontar a casa. Construíram-se divisões, restaurou-se a escadaria e o chão da sala foi escavado até que das laterais se formasse um banco corrido à volta da salamandra. “Não queríamos estar a descalçar a casa e fazer com que perdesse o suporte. A solução foi fazer um banco que reforça as paredes exteriores e remete para a ideia de socalcos das vinhas”, destaca João Vasconcelos.
O pavimento foi feito à mão por uma pequena empresa do Algarve e a carpintaria por conhecidos da zona. Para o piso superior, escolheram a madeira em homenagem às pipas de vinho.
A par disto, afirma, o ripado deixa a casa fresca no Verão e "camuflada" no meio da paisagem. Já a parede de xisto “foi aplicada na zona norte da casa que, teoricamente, seria mais fria”. “É quase a mochila que fica a absorver a luz e traz calor para dentro.”
Depois de um ano de obras, a Casa do Lagar ficou concluída em 2023. Para João Vasconcelos e para o resto da equipa revelou-se “uma caixinha preciosa” que guarda parte da história da quinta e de quem lá trabalhou. “Conhecemos pessoas especiais com histórias de vida e coisas para ensinar sobre a própria obra. Nunca tinha assistido a alguns métodos de cantaria feitos por habitantes que quase têm idade para serem meus avós e estavam ali a picar pedra e a fazer trabalhos extraordinários.”