Apelar à consciência cívica e à tomada de uma posição mais dura sobre o tema do racismo nas bancadas desportivas — ou em outras ocasiões — é sinal de que o respeito pelo outro ainda é tema de debate. Especialmente quando ainda encontramos por aí à solta, nos estádios de futebol, o pior do ser humano.
O jogo entre o Farense e o Famalicão deste sábado ficou marcado por uma interrupção, causada por um adepto do Farense que proferiu insultos racistas. Apesar de ter sido identificado, creio que seguir os trâmites legais e as devidas consequências penais pode não ser suficiente.
Não saber estar em sociedade não pode ter só meras consequências judiciais. O caso de racismo e dos insultos a jogadores de futebol, que ferem não só a dignidade individual como também fere todo o colectivo, terá de ter uma resposta imediata por parte do clube ao qual pertence o “adepto”, seja ele sócio ou não.
Assim, seria expectável que o Farense, enquanto clube desportivo com responsabilidades sociais — como todos os outros —, proibisse este sujeito de frequentar o seu estádio para sempre. Até porque, quem é racista não o deixará de o ser de um momento para outro.
Isto não deve substituir qualquer pena a aplicar pela justiça. É, sim, um sinal claro e forte a toda comunidade para que se perceba, de uma vez por todas, que as consequências das acções dos “adeptos” não se podem ficar por qualquer pena que a justiça venha a aplicar. É preciso ir mais longe que isso, e responder ao problema do racismo de uma forma eficaz.
Julga-se que tudo cabe à justiça resolver, ou mesmo ao Estado, com a implementação de políticas de tolerância zero. Contudo, a questão não se resolve enquanto os próprios clubes de futebol se alhearem do problema ao emitirem comunicados de mero repúdio pelos acontecimentos sem qualquer consequência directa.
O Sporting Clube Farense afirma que “tudo fará, em conjunto com as autoridades competentes, para apurar o que realmente se passou, e tudo fazer para que, sendo esse o caso, o comportamento seja exemplarmente punido”. E por parte de próprio clube qual é a punição?
Não basta, não é suficiente. A sociedade exige acção e a função primordial de um clube de futebol assim o reclama.
Para que “o comportamento seja exemplarmente punido”, o adepto que envergonhou o Farense e o futebol português, pode ou não assistir aos próximos jogos no Estádio São Luís? Enquanto a justiça não se pronuncia sobre este episódio, o Farense arrisca-se a mais episódios destes?
Os clubes não podem continuar a demarcar-se destes tristes acontecimentos e devem ter uma posição de força imediata. As notas de imprensa e o repúdio público não resolvem coisa alguma. Em mais um caso de racismo que entristece o futebol português, cabe por agora à direcção do Farense tomar uma posição, e essa posição só pode mesmo ser a de proibir racistas de frequentar o seu estádio.