Pedro Nuno promete recuperação do tempo de serviço dos professores em quatro anos; Tavares não quer “caos” no país
“É praticamente impossível que o PS suporte um governo do PSD”, defendeu o líder socialista. “Se o PSD não consegue uma maioria, governa o PS.” Rui Tavares recusa juntar-se ao Chega para derrubar PSD.
Foram aliados durante dois anos, em que o Livre, sem que os socialistas precisassem, sempre viabilizou os orçamentos do Estado com abstenções, mas agora Pedro Nuno Santos fez um apelo ao voto no PS na cara de Rui Tavares. "As ideias que o Che..., perdão, que o Livre tem, e a agenda do Livre é compatível com a nossa, mas só pode ser implementada se o PS ganhar as eleições", disse Pedro Nuno Santos no debate com o co-porta-voz Rui Tavares falando sobre o passe ferroviário que lhe aprovou num orçamento. "Não estamos em 2022 nem em 2015, quando se perspectivava uma maioria de esquerda. O risco da direita e da AD é real", avisou o líder socialista.
Se partilham propostas, não partilham avaliações sobre o estado do país. Que é algo "frustrante", desabafou o socialista a dada altura, já depois de ter ouvido que as suas medidas para a habitação não resolveram nem o problema nem a crise, que a escola pública e o aproveitamento dos alunos se deterioram, e que o Serviço Nacional de Saúde "colapsou". "Temos que olhar com orgulho e não estar sistematicamente a desvalorizar-nos", pediu.
Tavares argumentou que quer que o tempo entre o PS "dizer que uma coisa é impossível" e depois admitir a proposta do Livre seja mais curto, lembrando o tempo que demorou o passe ferroviário, ou a aprovação do programa Regressar Saúde, para os médicos e enfermeiros emigrados, "mas que nunca produziu efeitos". E também defendeu que "nos primeiros cem dias" de um governo de esquerda tem que haver negociação com os professores e as forças de segurança.
Questionado sobre qual é afinal o calendário em que prevê a recuperação do tempo de serviço dos professores, Pedro Nuno Santos confirmou que será nos quatro anos da legislatura, mas não quis falar em custos. "Temos as nossas contas feitas", disse, remetendo o restante para o "processo negocial com os sindicatos".
Logo no início do debate, partindo da actual discussão sobre o cenário político nos Açores, Tavares foi mais contido e defendeu que, no plano nacional, "a esquerda deve comunicar já que está pronta para negociar um programa de governo" e deve "evitar o caos" de chumbar à partida um executivo minoritário do PSD. "Se for uma moção de rejeição do Chega, nem o Livre nem o PS votarão a favor; indirectamente dá um governo de direita. (...) Como a decisão [de chumbar um executivo do PSD] leva aos caos, devemos evitar", apontou o deputado.
Já Pedro Nuno Santos foi mais directo e crítico sobre a pressão que está a ser colocada ao PS. "Nos Açores temos dois pesos e duas medidas: em 2020 ninguém pressionou o PSD-Açores a viabilizar um governo do PS e o PSD fez governo com o Chega. Quando perde as eleições, o PSD governa com o Chega e quando ganha está à espera do PS. Quando o PSD ganha mas não consegue uma maioria, governa o PS", enumerou o líder socialista. Na prática, quem não consegue formar uma maioria, lidera a oposição.
E recusou uma solução de bloco central para ajudar o PSD a livrar-se do Chega, seja nos Açores ou no país. "O pior serviço que faríamos à democracia era termos uma governação com o PS e o PSD comprometidos, deixando a liderança da oposição ao Chega. Isso não acontecerá connosco", garantiu. "É praticamente impossível que o PS suporte um governo do PSD. Porque a visão que temos da sociedade é distinta. O que está em causa nestas eleições é uma visão da sociedade, do Estado social, do SNS, que nos distancia profundamente."