Zelensky demite comandante das Forças Armadas
Dizendo ser tempo de “renovação”, Zelensky afastou Zaluzhny, com quem tinha uma relação cada vez mais difícil. Para o seu lugar foi nomeado Oleksandr Syrskii, que era comandante das forças terrestres.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, demitiu esta quinta-feira o comandante das Forças Armadas, Valerii Zaluzhny, pondo fim a um período de especulação intensa.
"Discutimos a renovação das Forças Armadas de que a Ucrânia necessita", afirmou Zelensky, depois de ter revelado ter estado reunido com o general, a quem pediu para que permaneça "na equipa". "Também discutimos quem é que poderá estar na liderança renovada das Forças Armadas da Ucrânia. O tempo para esta renovação é agora", declarou o Presidente através de uma publicação no Telegram.
Dizendo que este é um ano "crucial", Zelensky disse que a renovação necessária não pode ser "apenas de apelidos". "As acções do Exército devem tornar-se muito mais tecnologicamente avançadas. O generalato deve ser reformulado", acrescentou.
No fim-de-semana, Zelensky tinha dito numa entrevista que estava a ponderar fazer mudanças na liderança de vários sectores, incluindo o militar. As palavras de Zelensky foram interpretadas como um forte indício de que Zaluzhny seria afastado da chefia das Forças Armadas.
O ministro da Defesa, Rustem Umerov, agradeceu o serviço de Zaluzhny, sublinhando a "difícil missão" que desempenhou durante os últimos dois anos. "A guerra muda e pede mudanças. Batalhas em 2022, 2023 e 2024 são três realidades diferentes. 2024 irá trazer novas mudanças para as quais devemos estar preparados", afirmou Umerov, através de um comunicado.
Para o lugar de Zaluzhny, Zelensky nomeou o coronel-general Oleksandr Syrskii, que até agora estava à frente das forças terrestres. É a Syrskii, de 58 anos, que se atribui o sucesso da defesa de Kiev durante as primeiras semanas após a invasão russa e o posterior contra-ataque na região de Kharkiv em que a Ucrânia conseguiu recuperar território.
A demissão de Zaluzhny representa o culminar da maior crise institucional que se abateu sobre a Ucrânia desde o início da invasão em larga escala pela Rússia, há quase dois anos, e que chegou a pôr em causa a imagem de unidade entre civis e militares que imperou desde então.
Um dos momentos que mais marcou negativamente a relação entre ambos foi a entrevista concedida por Zaluzhny à revista Economist, em Novembro, na qual descreveu a situação na frente de batalha como um "impasse". As declarações do comandante das Forças Armadas foram muito mal recebidas por Zelensky, que as considerou altamente desencorajadoras e como pondo em causa o empenho dos aliados ocidentais de Kiev em continuar a apoiar o esforço de guerra ucraniano.
Na semana passada, chegou a ser noticiada a demissão de Zaluzhny a pedido de Zelensky, mas, após alguns momentos de incerteza e confusão, tudo ficou na mesma.
Ao longo dos últimos dois anos, Zaluzhny tornou-se numa das personalidades mais populares na Ucrânia, aclamado como um herói nacional e visto como um dos grandes responsáveis pela resistência ucraniana perante a invasão russa. Também por isso há quem o veja como um possível adversário político interno de Zelensky, embora o próprio general tenha sempre rejeitado publicamente qualquer ambição nesta esfera.
A mudança no topo da hierarquia militar ucraniana surge numa altura crítica, em que as forças ucranianas se debatem com uma enorme escassez de munições e militares na linha da frente, e após meses de uma contra-ofensiva que se traduziu num falhanço em termos gerais. Por outro lado, a pressão russa mantém-se intensa, sobretudo através de bombardeamentos maciços como o desta quarta-feira em que grande parte do território foi atingido.
Uma das principais incógnitas é a de saber de que forma a substituição de Zaluzhny, que era também muito acarinhado pelos militares, poderá afectar o moral dos soldados na linha da frente.