Funcionário dos Países Baixos roubou quase mil documentos com segredos de Estado
Homem tinha o equivalente a 11,5 milhões de folhas de dados secretos e tencionaria vendê-las a Marrocos. Foi detido no aeroporto em 2022 e manteve-se em silêncio na audiência de quarta-feira.
Um funcionário do Coordenador Nacional de Contraterrorismo e Segurança (NCTV) dos Países Baixos, preso no ano passado em Amesterdão, roubou pelo menos 928 documentos contendo segredos de Estado, que alegadamente passou ou queria passar aos serviços secretos marroquinos.
Conforme explicaram esta quarta-feira os procuradores dos Países Baixos durante uma audiência na cidade de Roterdão, citados pela EFE, dos 928 documentos com informações de segurança, 345 continham segredos de Estado dos Serviços de Vigilância Geral e Segurança (AIVD) e 65 do serviço de espionagem militar (MIVD).
O volume total de dados roubados equivale a “cerca de 11.500 milhões de folhas de papel A4”, conforme adiantou o Ministério Público, que suspeita que o detido tenha passado segredos de Estado aos serviços de espionagem marroquinos.
A investigação de todos os documentos ainda decorre e os procuradores esperam que sejam detectadas ainda mais informações com segredos de Estado. “A segurança do Estado estava em jogo”, afirmou o Ministério Público.
O suspeito, conhecido como “Abderrahim ‘Ab’ el-M”, 64 anos, ocupou diversos cargos na NCTV durante vários anos, incluindo o de analista, mas, em Outubro, o Ministério Público iniciou uma investigação depois de receber um relatório da AIVD que afirmava que o arguido tinha cópias impressas que continham segredos de Estado desde pelo menos Abril do ano passado.
Em Novembro, a polícia dos Países Baixos deteve o suspeito no aeroporto de Schiphol, em Amesterdão, quando se preparava para embarcar num voo com destino a Marrocos na posse de “uma grande quantidade de suportes de dados”, que alegadamente iria entregar aos seus contactos no serviço secretos marroquinos.
O funcionário do NCTV teria primeiro imprimido as informações secretas no escritório, em Haia, e tê-las-ia depois digitalizado em casa para as guardar num suporte digital.
Nos últimos anos, o arguido esteve envolvido em processos que envolviam jihadistas neerlandeses, grande parte dos quais também tem nacionalidade marroquina. Naqueles casos, o suspeito traduziu escutas telefónicas do árabe, entre outras tarefas. Segundo o Ministério Público, esteve em contacto directo com a direcção de contra-espionagem dos serviços secretos marroquinos desde o Verão de 2020 e realizou “vários voos” para Marrocos nos últimos anos.
O arguido, que permanece em silêncio desde a sua detenção, vai continuar em prisão preventiva até, pelo menos, a próxima audiência processual, marcada para 2 de Maio.
O seu advogado, Bart Nootgedagt, lamentou que a audiência tenha sido realizada em público, porque o seu cliente “tem um dever de confidencialidade do qual deve primeiro ser libertado”.
Também foi detida, e posteriormente libertada, uma mulher suspeita, de 35 anos que trabalhou primeiro para a NCTV e depois para a polícia, e que teria ajudado a imprimir os documentos secretos, quando o arguido foi transferido para outro departamento na Primavera passada.