Um monumental edifício onde é bom estudar

Quarta conferência que assinala os 70 anos da FEP homenageia o arquitecto Viana Lima e a sua mestria numa obra que celebra cinco décadas em 2024 e que é hoje Monumento de Interesse Público.

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A Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) tem a fortuna de estar instalada num edifício cuidadosamente planeado pelo arquitecto Alfredo Viana de Lima (1913-1991) para se estudar e ensinar. “Está pensado claramente para cumprir as suas funções”, explica a Professora Ana Paula Delgado, uma das oradoras na conferência “A Arquitectura, Viana de Lima e o Edifício da FEP”, que se realiza a 23 de Fevereiro, no salão nobre da instituição.

Esta é a quarta conferência, de cinco, previstas para assinalar os 70 anos da FEP, uma celebração que coincide com o ano do 50.º aniversário do edifício, inaugurado em Junho de 1974. Com a participação dos arquitectos Sérgio Fernandez, que trabalhou com Viana de Lima, e José Manuel Soares, responsável pela reabilitação, e os comentários dos Professores da FEP Ana Paula Delgado e José Varejão, a sessão “será um debate sobre arquitectura num sentido mais lato do que estrito”, refere o Professor Fernando Freire de Sousa, Presidente da Comissão Organizadora dos 70 anos da FEP, assinalando que “este é um edifício especial, muito apreciado por quem percebe de arquitectura.”

Obra da arquitectura moderna

Os primeiros estudos para a construção deste edifício de betão à vista iniciaram-se ainda em 1960, tendo Viana Lima conjugado a sua opção pela modernidade com uma visão arquitectónica mais conservadora das autoridades da época, escreve a Universidade do Porto no projecto 100 Espaços. Em 2013, quando foi classificado como Monumento de Interesse Público, a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) sublinhou que a utilização de componentes modulares derivou de conceitos corbusianos. Existe uma “pureza geométrica dos volumes, aliada à utilização intensiva do betão à vista”, e o “jogo de transparências interiores”. Para a DGPC, “a coerência formal e a qualidade arquitectónica” são “o melhor testemunho da mestria do seu criador” que desenhou aquela que é agora uma “obra já consolidada no âmbito do percurso histórico da arquitectura moderna portuguesa, e que se impõe na cidade, tanto pela escala como, e sobretudo, pela importância institucional”.

Viana de Lima quis criar um edifício com variedade nos espaços, onde o estudante, dependendo da sua personalidade, se podia isolar ou conviver com os colegas. Uma experiência confirmada pela Professora Ana Paula Delgado, que aqui ensinou desde a sua inauguração: “O edifício é muito confortável. Tem grandes corredores, com muitas áreas envidraçadas, que são espaços de trabalho e também de convívio. As pessoas saem das aulas e não estão num corredor estreito, estão num espaço onde podem conviver umas com as outras”, descreve. Entre anfiteatros e gabinetes com acesso a pátios interiores, o Professor Freire de Sousa destaca “um espaço icónico”, uma sala com cerca de 70 metros que foi “durante muitos anos uma sala de exames, com alunos a perder de vista.”

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Professora Ana Paula Delgado

Ao entrar na FEP, sente-se, como descreve a Professora Ana Paula Delgado, “a monumentalidade do edifício”, para a qual contribuem os grandes corredores e janelas, e as obras de arte desenvolvidas por artistas que colaboraram com Viana de Lima. São exemplo o obelisco do escultor José Rodrigues na entrada ou a tapeçaria de Júlio Resende na Sala do Conselho.

Uma reabilitação que respeitou o espírito original

Nestes seus cinquenta anos, o edifício da FEP, que o arquitecto Sérgio Fernandez definiu como uma “obra pioneira da modernidade”, sofreu algumas alterações para responder a necessidades que não se previam no tempo do projecto, como instalações informáticas ou a substituição do chão, que continha amianto. Algumas obras “desvirtuaram as qualidades arquitectónicas que o edifício tinha”, refere a Professora Ana Paula Delgado, razão por que, quando se avançou para uma reabilitação, no final de 2017, estavam entre os objectivos do projecto “dar condições de conforto e repor o edifício nas suas condições iniciais”, além de pensá-lo para dar resposta a uma Faculdade que cresceu no número de cursos – inicialmente planeada para a licenciatura de Economia, hoje tem também gestão, além de mestrados e doutoramentos.

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Professor Fernando Freire de Sousa

Numa conjugação de esforços com outras escolas da Universidade do Porto, envolveu-se a Faculdade de Arquitectura, sendo o arquitecto José Manuel Soares responsável pelo projecto. Com a Faculdade de Engenharia desenvolveram-se cadeiras mais largas e mesas também mais cómodas para os anfiteatros. A tapeçaria de Júlio Resende foi restaurada com o apoio da Manufactura de Portalegre. E houve uma preocupação também em manter o mobiliário original, desenhado por Viana de Lima, como as icónicas cadeiras em fibra de vidro, que foram também recuperadas. O espelho de água, que estava desactivado, também está hoje a funcionar.

“Houve um grande respeito pelo traço inicial do arquitecto Viana de Lima, trazendo o edifício para as necessidades actuais”, conclui a Professora Ana Paula Delgado.

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