Rendas começam a baixar em Lisboa, mas ainda estão em níveis históricos
Entre Outubro e Dezembro de 2023, as rendas de novos contratos de arrendamento celebrados em Lisboa caíram 2,2% em relação ao trimestre anterior. Foi a segunda queda trimestral consecutiva.
Tal como já começa a acontecer no mercado de venda de habitação, também no arrendamento já começa a verificar-se um abrandamento dos preços, ainda que as rendas continuem a aumentar e a fixar-se em níveis históricos. Há, contudo, algumas excepções, com Lisboa à cabeça: na capital, as rendas de novos contratos caíram mais de 2% no último trimestre do ano, acumulando-se, assim, o segundo trimestre consecutivo de quedas.
Os dados, divulgados nesta quinta-feira, são da Confidencial Imobiliário, que dá conta de que, no quarto trimestre do ano passado, as rendas dos novos contratos de arrendamento residencial celebrados em Lisboa caíram 2,2% em relação ao trimestre anterior. Isto, depois de, no conjunto de Julho a Setembro, já se ter registado uma queda de 0,5% em termos trimestrais.
"A segunda metade do ano passado veio, assim, travar o ciclo de fortes aumentos das rendas sentidos desde meados de 2022, com variações em cadeia que se posicionaram entre 5% e 10%", refere consultora imobiliária, citada em comunicado.
Apesar das quebras agora registadas em termos anuais, os preços continuam a ser superiores aos que se verificavam no ano anterior, pelo que a variação anual continua a ser positiva, ainda que esteja a abrandar. No último trimestre do ano passado, as rendas registam um aumento de 8,7% em relação ao mesmo período de 2022, uma variação que fica significativamente abaixo do crescimento anual de quase 30% que havia sido registado no segundo trimestre de 2023, quando o crescimento das rendas atingiu o pico.
Já no Porto verifica-se uma desaceleração das subidas, mas as rendas continuam a aumentar, mesmo em termos trimestrais. No quarto trimestre do ano passado, as rendas de novos contratos nesta cidade aumentaram em 0,9% em relação ao trimestre anterior, depois da subida trimestral de 3,2% registada entre Julho e Setembro, e de 11,7% face ao último trimestre de 2022, uma variação que compara com o pico de crescimento anual superior a 30% que se tinha verificado no final de 2022.
Esse aumento mais acentuado das rendas durante a primeira metade do ano passado, considera Ricardo Guimarães, director da Confidencial Imobiliário, terá sido uma resposta dos proprietários às medidas lançadas pelo Governo na área da habitação, em particular no âmbito do Mais Habitação, o pacote legislativo criado para dar resposta à crise habitacional.
"A subida vertiginosa das rendas observada a partir de meados de 2022 terá sido, sobretudo, um reflexo da reacção dos proprietários aos limites de actualização então impostos aos contratos vigentes, bem como à crescente incerteza no arrendamento, que se agravou com as medidas anunciadas no âmbito do Mais Habitação", refere o mesmo responsável. Depois destes picos de crescimento de cerca de 30%, acrescenta, "começou a haver a percepção de que o mercado teria atingido o nível máximo de rendas, com um refreamento nos valores praticados no novos contratos, como é visível nos dois últimos trimestres do ano passado".
Importa lembrar, ainda assim, que, apesar de os aumentos se terem agravado no ano passado, a tendência de encarecimento das rendas é uma tendência já prolongada, muito anterior ao anúncio do Mais Habitação.
Tendo em conta a evolução do mercado nestas duas cidades, a renda média de novos contratos de arrendamento fixou-se, assim, em 19 euros por metro quadrado em Lisboa e em 15,1 euros por metro quadrado no Porto, valores que continuam a representar níveis históricos.
Os dados da Confidencial Imobiliário são recolhidos com base na informação sobre vendas e arrendamento prestada por operadores privados do mercado.
Os dados oficiais sobre o mercado de arrendamento relativos ao último trimestre de 2023, da responsabilidade do Instituto Nacional de Estatística (INE), só serão divulgados no dia 28 de Março.
No conjunto de Janeiro a Setembro do ano passado, de acordo com os dados já disponibilizados pelo INE, foram celebrados 69.712 contratos de arrendamento em Portugal, uma redução anual ligeira, de cerca de 0,3%. No final do terceiro trimestre de 2023, o valor da renda mediana praticada nos novos contratos de arrendamento era de 7,25 euros por metro quadrado, considerando todo o país.