Polícias: falta de resposta do Governo é “convite a visões mais radicais”, dizem sindicatos

Plataforma dos sindicatos da PSP e das associações da GNR diz que a sua forma de actuar está bem definida e tem enquadramento legal, mas que estão a surgir dinâmicas fora do seu controlo.

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Polícias vão fazer cordão humano no dia do debate televisivo entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro Adriano Miranda
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Os representantes da plataforma composta por sete sindicatos da Polícia de Segurança Pública (PSP) e quatro associações da Guarda Nacional Republicana (GNR) reconheceram, esta terça-feira, que há polícias que estão a tomar posições mais radicais e que estão fora da dinâmica definida por estas estruturas.

Num encontro com os jornalistas, os sindicalistas sustentaram que as declarações de alguns dos seus dirigentes, nos últimos dias, sobre a eventualidade de poder haver um boicote às eleições ou ao transporte dos exames nacionais não foi uma ameaça, mas sim um alerta ao Governo, porque estão a surgir movimentos de contestação à margem da plataforma de sindicatos.

“A plataforma há muito que foi muito clara sobre a sua forma de actuar. As linhas vermelhas estão definidas e têm enquadramento legal. Estão a surgir dinâmicas que extravasam, mas estamos a falar de um quadro de excepção. São os próprios polícias que já se colocam nessa disposição e nós apenas alertamos o Governo para isso, afirmou esta terça-feira Paulo Santos, da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP). O mesmo dirigente acrescenta que, “parece evidente que, quando não há resposta do Governo, está aberto o convite a visões mais radicais.

Já Humberto Carvalho do Sindicato Unificado de Policias (SUP) disse que, neste momento, estes movimentos são difíceis de controlar porque os polícias sentem que não têm nada a perder. “É quase como o bandido quando já não tem nada a perder. O polícia também já não tem nada a perder. É tão mal tratado. Sair da polícia a ganhar mil euros e ir para outro sítio ganhar o mesmo ou melhor já não lhe faz diferença”, sustentou.

O presidente do Sindicato Nacional da Polícia (SINAPOL), Armando Ferreira, que avisou este sábado para um eventual boicote às eleições legislativas de 10 de Março caso até lá o Governo não ouça as reivindicações da classe, palavras que geraram bastante polémica, afirmou esta terça-feira que a postura do Governo é “interpretar os alertas como ameaças”.

“Então quando digo que um dia destes as esquadras estão fechadas por falta de efectivos, se fecharem a culpa é minha? Façam interpretações sérias”, afirmou o sindicalista na reunião da plataforma com os jornalistas, que visou também esclarecer a imprensa sobre aquilo consideram ser um tratamento desigual, uma desconsideração e falta de respeito para com os polícias da PSP e militares da GNR.

No encontro desta terça-feira, além de mostrar as diferenças salariais entre a PSP, a GNR e a PJ e a sua evolução ao longo de 24 anos, a plataforma revelou os efeitos da falta de atractividade da profissão que não consegue compensar o envelhecimento e a saída dos efectivos. Aliás, segundo Bruno Pereira, do Sindicato Nacional dos Oficiais da Polícia (SNOP), neste momento, mais de uma dezena de oficiais da PSP está a candidatar-se à PJ.

Bruno Pereira que é também porta-voz da Plataforma lembrou que os líderes do PS e PSD já indicaram que querem resolver o problema, propondo um compromisso com o Governo para atribuição de um suplemento idêntico ao da PJ aos elementos das forças de segurança. Segundo Bruno Pereira esta seria uma solução temporária, tendo em conta que o actual Governo está em gestão, para depois passar a efectivo. Porém, Bruno Pereira assume que o primeiro-ministro “não respondeu” à plataforma, tendo apenas invocado “uma impossibilidade política para poder resolver um problema”.

Relativamente ao facto de, nos últimos dias, vários polícias da PSP e militares da GNR terem apresentado baixas médicas o que levou ao cancelamento de jogos de futebol, por exemplo, a plataforma não assume que seja uma forma de protesto. No entanto, apela aos elementos das forças de segurança para que tenham bom senso e não se deixem influenciar pelos movimentos mais radicais que possam existir. Entretanto, e por causa do volume anormal baixas médicas, o ministro da Administração Interna determinou a abertura de um inquérito urgente, por parte da Inspecção Geral da Administração Interna (IGAI).

Ao que o PÚBLICO apurou, a plataforma vai organizar um cordão humano na Praça do Comércio, em Lisboa, a 19 de Fevereiro, dia do debate televisivo entre os candidatos a primeiro-ministro Pedro Nuno Santos (PS) e Luís Montenegro (AD). Também estão previstos para este mês vigílias nos portos e aeroportos.

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