As cores do vinho estão a mudar e mesmo que não tenhamos dado por isso bebemos cada vez mais brancos em detrimento dos tintos. As razões são muitas e as teorias podem ser outras tantas, mas do que não há dúvidas é que preferimos agora os vinhos mais finos, frescos e elegantes. Os brancos estão em alta e os rosés rolam no mesmo trilho.  

Sintomático é o que se está a passar neste Inverno, com os produtores a darem já a provar os rosés da última colheita. Coisa inédita, já que só costumava acontecer lá para os alvores do Verão. Muitos tiveram mesmo que rotular e engarrafar à pressa para satisfazer a procura de Natal e fim de ano, o que significa que tinham esgotado toda a produção anterior.  

O fenómeno não é novo, mas tem-se acentuado nos tempos mais recentes. Consequência, claro, da qualidade e diversidade dos brancos que, estimulados por essa procura, se têm mostrado cada vez melhores nos últimos anos. Nos rosés, o fenómeno é ainda mais recente e mostra-se galopante. Mais interessante ainda é que parece haver também uma relação de causa e efeito com o consumo de espumantes, que é sobretudo visível nos EUA, Reino Unido e Alemanha, os três principais importadores do mundo dos vinhos.  

No conjunto, estes três países representam já perto de 20% do consumo mundial de brancos. Os números são da OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho) que numa análise aos anos entre 2000 e 2021 mostra que em duas décadas se registou um aumento contínuo nos brancos, que a partir de 2013 passaram a ultrapassar a produção de tintos.  

É sobretudo desde 2010 que tem crescido o consumo de brancos, ultrapassando já os 100 milhões de hectolitros, ao mesmo tempo que se acentua o decréscimo do consumo mundial de tintos, que em 2007 rondava os 135 milhões e anda agora abaixo do 115 milhões de hectolitros. Já quanto aos vinhos rosados, os quadros mostram uma evolução constante do consumo, agora à volta de 25 milhões de hectolitros quando antes da viragem do século nunca tinha atingido os 20 milhões. 

Os números mostram ainda que entre os seis países com maior percentagem de consumo de tintos já não há qualquer representante europeu, enquanto a produção de brancos cresceu mais de 13% desde o início do século, representando já mais de 49% do total. No consumo, o crescimento dos brancos foi principalmente impulsionado pelos EUA, Alemanha e Reino Unido, três dos mercados onde a OIV regista também um maior avanço na procura de espumantes.  

Sintomático desta acentuada mudança nas cores do vinho é que a França tenha nestas duas décadas reduzido em cerca de 50% a produção de tintos, no que foi acompanhada pela generalidade dos clássicos produtores da Europa. Os tintos deixaram, por isso, de ser uma bandeira europeia e do chamado velho mundo. O crescimento do consumo é agora liderado por países como China, EUA, Rússia e Brasil, enquanto o aumento da produção ocorre em países do novo mundo como Chile, Argentina ou EUA.    

Embora sem registos oficiais, parece evidente que também Portugal é cada vez mais um país de vinhos brancos - e igualmente de rosés. Tal como na história do ovo e da galinha, pouco importa se foi a procura que levou ao aumento da qualidade ou se foi antes a progressiva melhoria dos vinhos que fez aumentar a procura. Os brancos e rosés estão cada vez melhores, com oferta mais alargada e diversificada, aptos ao consumo para todas as ocasiões e ao longo de todo o ano, disso não restam dúvidas.  

É certo que também nos tintos é crescente a procura por vinhos mais finos, frescos e elegantes. Como razões, há quem fale no cansaço dos vinhos concentrados, alcoólicos e mais marcados pela madeira dos barris que pelas características das castas ou da vinha. Sim, isso foi chão que deu uvas, mas que tanto se pode atribuir ao cansaço como à emergência de uma nova geração de consumidores.   

E com ela também um novo tipo de consumo e onde as mulheres têm cada vez maior influência. Consomem menos, com menor frequência, mas querem melhor. Com isso sobem também os preços e cresce a procura por vinhos mais diferenciados, com identidade e sentido de lugar.   

Novos consumidores e um novo estilo de vida, feito de experiências e da procura constante pela diferenciação. É, pois, pelo cansaço, pelo frescor e pela elegância, que a vida nos está a pedir cada vez mais brancos. E também rosés!