Pessoas como planetas, satélites ou cometas e relações em órbitas próximas ou afastadas, consoante a força de atracção. É assim que Nuno Artur Silva há muito tempo pensa sobre o que nos atrai ou afasta dos outros. Por isso imaginou esta Teoria Universal da Amizade, subtítulo de Como É Que os Nossos Amigos Ficam Nossos Amigos?
“Sempre pensei nas relações entre as pessoas, em particular as amizades, como uma questão de distância, de encontrar para cada uma a distância certa. O mundo dos amigos seria assim um sistema de gravitações, uns mais próximos, outros mais distantes. Uns como luas, outros como cometas. A cada amigo a sua distância e gravidade”, diz ao PÚBLICO o autor, fundador e director da agência criativa Produções Fictícias.
A materialização dessa ideia resultou numa obra para crianças: “Pensei que poderia dar origem a um livro ilustrado para crianças, como se fosse uma Teoria Universal da Amizade, à semelhança da Lei da Gravitação Universal de Newton ou da Teoria da Relatividade Geral de Einstein explicadas às crianças.”
O que aconteceu foi que os adultos foram muito “atraídos” por ele. “Claro que um livro para crianças é um livro para todas as idades. Como costumo dizer, este é um livro para crianças de todas as idades”, afirma Nuno Artur Silva e acrescenta: “Mesmo sabendo isso, tenho ficado surpreendido com a quantidade de pessoas que me tem vindo dizer que o livro não é só para crianças, que é um livro para adultos também.”
A narrativa leva-nos a pensar nas formas de encontrar amigos em diferentes momentos da nossa vida e na evolução da descoberta dos outros e de nós próprios. Numa mistura feliz de filosofia e ciência.
“Há muitos sítios onde podemos observar e conhecer pessoas: nas escolas, nos locais de trabalho, em ruas e praças, becos e esquinas, em parques e jardins, nos transportes públicos, nas festas ou mesmo em sítios na Internet — chats e redes (mas isto não é bem conhecer, é só contactar; conhecer tem de ser mesmo ao pé uns dos outros)”, descreve-se num plano com várias silhuetas coloridas em momentos de alegre convivência.
“Com a idade, as amizades ganham perspectiva”
Nuno Artur Silva, que já teve vários projectos em conjunto com João Fazenda — o primeiro quando o ilustrador “teria 17 anos”: Ao Serviço de Sua Majestade, uma selecção de textos para Herman José 1992/1996 —, está muito satisfeito com o produto final.
“Trabalhar com o João foi extremamente fácil. Passei-lhe o texto, ele gostou, tivemos umas três conversas sobre a divisão do texto e o espaço das ilustrações. Depois, o João fez o seu trabalho e eu tive a certeza absoluta de que ficaria excelente. Nunca tive qualquer dúvida sobre isso. Quando ele mostrou o que tinha feito, o livro estava ainda melhor do que poderia imaginar”, recorda.
O ex-secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media (2019/2022) gosta muito de “fazer livros para crianças com ilustradores”. E sente-se afortunado: “Tenho tido muita sorte com os meus parceiros: o João Fazenda, o Pierre Pratt (com quem fiz O Grande Zigomático, o meu livro mais pessoal) ou a Cristina Sampaio (que desenhou o Benjamim para o livro/disco Bom Dia, Benjamim, há já quase 30 anos) ou o meu parceiro desenhador mais habitual, o António Jorge Gonçalves, com quem fiz muitos, muitos trabalhos.”
Para terminar, perguntamos-lhe como vai de amizades. “Com a idade, as amizades ganham perspectiva. Valorizamos mais os amigos, os que estão próximo ou os que, estando longe, nunca deixam de brilhar.” Uma resposta bonita.