“Inveja profissional” alimentou a polémica da entrevista com a princesa Diana, diz jornalista

Martin Bashir recorreu a falsidades para conseguir o exclusivo com a princesa Diana. Em 2020, atribui a culpa do escândalo ao racismo e inveja de outros colegas.

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Diana e Carlos em 1995 com os filhos Harry e William Reuters/SIMON KREITEM
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O jornalista da BBC Martin Bashir culpa a “inveja profissional” e as suas origens étnicas pelo desfecho da entrevista com a princesa Diana em 1995. As novidades sobre o tema foram divulgadas nesta terça-feira pela própria BBC, que tornou públicos mais de três mil e-mails obre o tema, a pedido do jornalista de investigação Andy Webb.

Webb, que tem sido uma das vozes mais activas sobre a polémica entrevista, usou a lei da liberdade de informação para exigir que fossem divulgados os e-mails. A BBC — que rotula de “simplesmente erradas” as acusações que agiu de má-fé — antecipou-se e publicou uma notícia sobre o tema, onde relata o conteúdo da troca de mensagens entre Martin Bashir e outros colegas.

Num e-mail de 20 de Julho de 2020, Bashir escreve a Robert Seatter, editor da BBC História, que os documentos falsificados não tinham tido qualquer intenção em conseguir a entrevista com a princesa Diana em 1995. Um ano depois, ficou provado que houve “falhas claras” por parte do jornalista que “agiu de forma inadequada”. Então, escreveu: “Lamento saber que a história da 'falsificação' voltou a aparecer. Não desempenhou qualquer papel na entrevista, mas permitiu que a inveja profissional, em particular no seio da classe, se apoiasse em alegadas irregularidades.”

Na mesma troca de mensagens, Bashir reforça que a controvérsia teria sido bem menor se estivesse envolvido um “jornalista dinástico” e menciona como exemplo, David Dimbleby, de uma reputada família de apresentadores e jornalistas britânicos. “Na altura, era também evidente que havia alguma irritação pelo facto de um imigrante de segunda geração, de raízes não brancas e da classe trabalhadora, ter a temeridade de entrar num palácio real e fazer uma entrevista. Teria sido muito mais fácil se uma das famílias dinásticas (Dimbleby e outros) o tivesse feito!”

O jornalista confessou ainda que, anos depois, o gabinete do agora Carlos III lhe agradeceu a discrição depois da entrevista. “Desde que regressei ao Reino Unido, em 2015, e voltei a trabalhar na BBC, em 2016, os funcionários superiores do gabinete do príncipe de Gales (para minha surpresa) expressaram a sua gratidão por eu ter recusado todos os pedidos para discutir a entrevista.”

O seu objectivo, defende-se, “nunca foi atacar” a família real britânica, como “as palavras da falecida princesa” fizeram, perante uma audiência de 20 milhões de pessoas. De recordar que, na entrevista, Diana admitiu publicamente uma relação extraconjugal com o instrutor de equitação, James Hewitt, mas também falou das infidelidades de Carlos — “Havia três neste casamento, era gente a mais”, numa alusão a Camilla Parker-Bowles, agora rainha.

Para conseguir que Diana desse a entrevista, Bashir mostrou documentos falsificados ao irmão da princesa, Charles Spencer, que afirmavam que ela estava a ser alvo de escutas por parte dos Serviços Secretos britânicos e que dois dos seus assistentes estavam a ser pagos para fornecer informações.

A BBC reconhece que devia ter feito “um maior esforço para chegar ao fundo do que aconteceu na altura e ter sido mais transparente”. E agora, num comunicado divulgado nesta terça-feira, mostra a mesma abertura, cedendo ao pedido de Andy Webb. “Inclui muitas centenas de páginas de duplicados e material que não estava relacionado com o Panorama de 1995 [a série documental em que foi inserida a entrevista à princesa], mas que foi, no entanto, apanhado pelas buscas electrónicas. Fizemos redacções, quando necessário, de acordo com a Lei da Liberdade de Informação. Não há nada que apoie as alegações de que a BBC agiu de má-fé em 2020 e mantemos que esta ideia é simplesmente errada.”

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