EUA vão voltar a estacionar armas nucleares no Reino Unido

Documentos do Pentágono vistos pelo Telegraph mostram plano para posicionar ogivas em Inglaterra, no mesmo local onde o arsenal nuclear norte-americano foi colocado a postos durante a Guerra Fria.

Foto
Cerimónia na base militar RAF Lakenheath, em Inglaterra, operada pela Força Aérea dos EUA Reuters/DARREN STAPLES
Ouça este artigo
00:00
04:09

Quinze anos depois, os Estados Unidos vão voltar a ter armas nucleares estacionadas no Reino Unido. Documentos do Pentágono, vistos pelo Telegraph, dão conta dos planos de Washington para posicionar ogivas nucleares na base militar RAF Lakenheath, no Sudeste de Inglaterra. Operada pela Força Aérea dos EUA, trata-se do mesmo local onde aquele tipo de armamento já tinha estado durante a Guerra Fria e de onde foi retirado em 2008.

Segundo o jornal britânico, a recolocação de armas nucleares norte-americanas em solo britânico está inserida na revisão estratégica da situação securitária da NATO que o Departamento de Defesa dos EUA levou a cabo na sequência da invasão da Ucrânia pela Federação Russa, em Fevereiro de 2022, e que denuncia “ameaças nucleares” de Moscovo, tanto para os EUA, como para os seus “aliados e parceiros”.

O Telegraph diz que as armas nucleares que serão colocadas na região inglesa de Suffolk serão “três vezes mais poderosas” do que aquela que os EUA lançaram sobre a cidade japonesa de Hiroxima, em 1945, no final da II Guerra Mundial.

Os documentos em causa são contratos assinados pelo Pentágono para a aquisição de equipamento destinado à construção de um novo complexo na RAF Lakenheath, que irá albergar bombas termonucleares B61-12, que podem ser transportadas e lançadas pelos caças F-35 que operam naquela base militar. O início da obra de expansão das infra-estruturas da RAF Lakenheath estará previsto para Junho.

Confrontados pelo jornal sobre estes planos, tanto o Departamento de Defesa dos EUA como o Ministério da Defesa do Reino Unido não abriram o jogo. Porta-vozes dos respectivos ministérios explicaram que ambos os países seguem uma política, no âmbito da NATO, de “não confirmar nem negar a presença de armas nucleares” numa determinada localização.

De acordo com o Times, o ministro da Defesa britânico, Grant Shapps, deverá visitar brevemente os Estados Unidos para discutir temas relacionados com a cooperação militar entre os dois países.

Moscovo deve reagir

A primeira vez que os EUA posicionaram armas nucleares no Reino Unido foi em 1954, na RAF Lakenheath e noutras duas bases militares britânicas. Em 1991, com a Guerra Fria a viver o seu último suspiro, após a queda do Muro de Berlim e a iminente desintegração da União Soviética, Washington retirou as primeiras armas nucleares do território do seu aliado – em 2008, retirou o arsenal que restava.

O Reino Unido também tem armas nucleares próprias, que podem ser lançadas unicamente a partir de submarinos (programa Trident), e que estão posicionadas na base da Marinha britânica em Faslane, na Escócia.

No ano passado, comentando a possibilidade de os EUA voltarem a estacionar armas nucleares no Reino Unido, Maria Zakharova, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, garantiu que, nesse cenário, o Kremlin não se coibirá de tomar “contra-medidas”.

“Se esse passo for dado, iremos encará-lo como uma escalada (…) que levaria a situação para uma direcção totalmente oposta à abordagem (…) de retirar todas as armas nucleares dos países europeus”, afirmou, denunciando o “rumo assumidamente confrontacional” dos EUA e da NATO para “infligir uma derrota estratégica” à Rússia.

Johnson e o exército civil

As notícias sobre estes planos dos EUA surgem poucos dias depois de algumas actuais e antigas figuras da Forças Armadas britânicas terem defendido que o Reino Unido deve encarar a “ameaça da Rússia” com urgência.

O general Richard Shirreff, antigo vice-comandante supremo da NATO na Europa, disse que Downing Street deve ponderar a reintrodução do serviço militar obrigatório. Na mesma linha, o general Patrick Sanders, chefe do Estado-Maior do Exército, defendeu a necessidade de haver uma força britânica de pelo menos 45 mil reservistas e cidadãos pronta para um possível conflito.

Num artigo de opinião publicado na sexta-feira no Daily Mail, Boris Johnson concordou com Sanders e garantiu que estaria na fila da frente para se alistar num novo exército civil britânico.

Afirmando que não acredita num “confronto militar directo com a Rússia ou com qualquer outro potencial adversário”, o antigo primeiro-ministro do Reino Unido disse, no entanto, que é uma “ilusão” pensar-se que “a guerra é impossível”.

“A História ensina-nos que a melhor forma de preservar a paz é estarmos vigilantes”, defendeu. “A melhor maneira de travarmos as agressões de homens como Vladimir Putin [Presidente da Rússia] é sermos fortes.”

Sugerir correcção
Ler 57 comentários