Cinco anos depois, as despedidas custam quase como na primeira vez

No final, o balanço inevitável a ser feito: vale a pena? Depende muito do que se está a fazer, das condições e da facilidade de cada um em adaptar-se a um estilo de vida diferente. Mas no geral, sim.

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Cinco anos depois, as despedidas custam quase como na primeira vez Pexels/ Oleksandr P
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Quando, há cinco anos, eu e a minha mulher decidimos emigrar para Inglaterra, era unânime a ideia de que iríamos voltar. Estarmos longe dos nossos não poderia ser nunca uma hipótese. Cinco anos volvidos e essa ideia parece estar cada vez mais longe.

Em 2019, trabalhávamos os dois num call center em Lamego que dava apoio a clientes de uma empresa de telecomunicações francesa. Antes disso, ela, formada em Ciências Biomédicas, estava cansada de saltar de bolsa em bolsa de investigação e eu continuava sem conseguir arranjar um trabalho na minha área de formação (que é a comunicação) que me desse estabilidade. A emigração surgiu, naturalmente, como uma hipótese. Mudámo-nos em Março de 2019 para Cambridge, quando ela garantiu emprego na Abcam, empresa que produz anticorpos entre outras ferramentas para investigação científica. Em Agosto, juntei-me à mesma empresa e desde aí não parámos: ela é neste momento analista, com um papel fundamental na escolha dos novos projectos a serem desenvolvidos, e eu sou um dos gestores da logística, responsável pelo stock.

No Reino Unido, a progressão na carreira para cargos mais elevados acontece em idades muito inferiores às portuguesas. Tenho 35 anos e a pessoa que lidera neste momento o departamento da logística na minha empresa tem 29. Não há medo de se apostar em quem mostra esforço e dedicação. Não há medo em apostar nos mais novos, há oportunidades para todos. Somos reconhecidos pelo nosso trabalho: desde que aqui estou, fui promovido três vezes e aumentado cinco vezes.

O mercado de trabalho, apesar de alguma estagnação na área da investigação científica, muito à custa de cortes financeiros, continua a ser bastante competitivo e com inúmeras oportunidades. O "Brexit", que ainda tem os seus impactos, começa a ser contornado com processos mais simples.

Trabalhar com a missão de ajudar investigadores a desenvolver curas para doenças como Alzheimer, Parkinson ou cancro faz com que o facto de não estar a trabalhar na minha área de formação seja um mero aparte.

Obviamente, nem tudo são rosas na vida de um emigrante — com a inflação, rendas exorbitantes, serviços caros e lazer dispendioso.

E também a família e os amigos. Uma vez, numa conversa entre amigos, um deles disse-me: "Se o meu pai viver mais dez anos, e se eu continuar a ir a Portugal duas vezes por ano, irei vê-lo mais 20 vezes”. Isto tira o fôlego a qualquer um. Tudo se relativiza ao tempo. Vemos os nossos pais a envelhecer, não acompanhamos de perto o crescimento dos mais pequenos, não estamos presentes em aniversários nem em funerais. Tudo isto se torna às vezes num fardo pesado com pequenas nódoas de culpa (ainda que, sejamos honestos, injustas).

Continuamos a olhar para esta aventura como uma experiência que nos irá levar de volta a Portugal, com mais corpo para fazer face às cargas de ombros de lá. No entanto, damos por nós a dizer várias vezes que não sabemos se nos iremos voltar a adaptar ao mercado de trabalho português. Aqui não temos um horário fixo, o esforço do nosso lado é compensado pela confiança da chefia. Temos possibilidade de trabalhar remotamente e podemos beneficiar até 30 dias de férias.

No final, o balanço inevitável a ser feito: vale a pena? Depende muito do que se está a fazer, das condições e da facilidade de cada um em adaptar-se a um estilo de vida diferente. Mas no geral, sim.

Este texto não pretende nem incentivar à emigração nem retirar a coragem para dar o salto. Este texto representa só o turbilhão de sentimentos inevitáveis de qualquer pessoa que embarque nesta aventura que é procurar futuro fora do país. Cinco anos volvidos, as despedidas custam quase como na primeira vez, mas agora o coração já vai treinado e enganado, mas cheio.

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