A unificação da “marginal” Campanhã com um plano feito a reboque da alta velocidade

A freguesia do Porto vai-se adaptar para receber a alta velocidade e há um plano para requalificar a estação que vai mudar a face de Campanhã.

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A maquete do Plano de Urbanização de Campanhã foi apresentada esta sexta-feira na Câmara do Porto Andreia Merca / CM Porto
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Construir uma fachada nova, a nascente, que terá uma ligação superior à fachada “histórica” da Estação de Campanhã, a poente. Este será o início de um processo de transição que passará por abrir o Porto ao lado nascente da cidade, mais “marginal” e distante, com fronteira criada pela construção da estação inaugurada em 1875. Esta transformação surgirá alavancada à alta velocidade, cujo concurso da primeira parceria público-privada (PPP) está agendado para meados de 2025. O projecto para mudar a face da freguesia mais oriental do Porto está nas mãos do arquitecto catalão Joan Busquets que, esta sexta-feira de manhã, como já tinha feito há um ano, apresentou nos Paços do Concelho o Plano de Urbanização de Campanhã (PUC), que a autarquia espera ver concretizado nos próximos 10 anos.

Uma nova fachada com “imagem moderna”, com ligação aos futuros trilhos do comboio a alta velocidade, e uma nova praça em frente da nova estrutura para ser usada como espaço de fruição. Segundo o arquitecto catalão, responsável pelo projecto, Campanhã, território de entrada e saída de pessoas da cidade, mas onde também vivem muitos milhares de portuenses, será reorganizada tendo também como prioridade a unificação daquela freguesia de uma cidade que esteve sempre mais virada para o que se passa na Baixa ou na marginal do rio e do mar.

De acordo com o PUC, do lado poente mantém-se a fachada “histórica”, virada para as paragens dos autocarros da STCP e ladeada pela estação do metro. No lado oposto será construída a nova fachada onde também serão instalados os escritórios de apoio aos serviços ferroviários. Ainda a nascente, será construída uma nova via rodoviária que contornará a nova praça que o arquitecto quer que preserve “qualidade ambiental” e que não seja para a “fruição de automóveis privados”.

Às linhas ferroviárias que já existem juntar-se-á o novo trilho para a alta velocidade, que se estende para sul por nova ponte que será construída a montante da ponte de São João e servirá também, num tabuleiro inferior, para carros.

A entrada para os comboios de alta velocidade será feita a partir da nova fachada. Pela antiga continua a aceder-se às linhas que já existem – a ligação com a estação de São Bento será mantida. Contudo, a construção de uma ligação superior aos carris unirá as duas entradas, facilitando o acesso ao metro, autocarros e ao Terminal Intermodal de Campanhã. A obra de renovação da estação obrigará à deslocação da Moagem Ceres e de algumas gráficas que existem na envolvente para outra área a definir.

Barreira ao tráfego automóvel

Joan Busquets quer criar um “anel híbrido” em torno da estação onde se quer que coabitem “todas as formas de mobilidade”, incluindo a bicicleta. Do lado nascente será construído um parque de estacionamento para “mil bicicletas”. Os automóveis serão estacionados a poente. O objectivo do arquitecto é que Campanhã sirva de tampão e que o tráfego automóvel não entre na cidade.

O arquitecto considera que o Porto “sempre deu primazia à zona do Douro”, o que contribuiu para que “Campanhã sempre fosse mais marginal”. A reboque da alta velocidade e de outros projectos em curso na freguesia, como é o caso da requalificação do antigo Matadouro do Porto - um investimento de 40 milhões para construir, numa área de 20 mil metros quadrados, espaços empresariais, de lazer, culturais, comerciais e destinados à acção social – Joan Busquets acredita que a freguesia terá uma nova face.

PPP em progresso

Presentes na apresentação, além de Rui Moreira, que abriu a sessão ou do vereador do Urbanismo, Pedro Baganha, que também usou da palavra, faziam parte do painel de oradores o secretário de Estado Adjunto e das Infra-estruturas, Frederico Francisco, e o vice-presidente da Infra-estruturas de Portugal (IP), Carlos Fernandes.

O vice-presidente da IP anunciou que o concurso do primeiro concurso da primeira parceria PPP para a alta velocidade deverá ser lançado em 2025 e a obra também. Na semana passada já foi lançado o concurso público para o troço da nova linha Porto-Oiã.

À margem da apresentação, segundo a Lusa, Carlos Fernandes foi questionado se o projecto de renovação da estação de Campanhã contempla a cobertura integral das plataformas. O vice-presidente respondeu que só “está prevista a cobertura de toda a extensão dos comboios, como cobertura mínima”. Qualquer alteração do que está previamente estipulado dependerá de quem ganhar o concurso da obra. O vice-presidente da IP salienta não ser obrigatório nesta fase cobrir as plataformas para lá do limite dos comboios.

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