Posso ficar constipado se andar descalço? E se apanhar uma “corrente de ar”?
Exposição a temperaturas baixas pode enfraquecer o sistema imunitário e favorecer o aparecimento de doenças, mas estes comportamentos, isolados, não são suficientes para nos fazerem ficar constipados.
Andar em casa descalço, apanhar uma “corrente de ar”, sair de casa ou ir dormir com o cabelo molhado. A ideia de que estas acções podem provocar constipações é antiga, mas não é totalmente verdade. Ainda que a exposição a temperaturas baixas possa enfraquecer o sistema imunitário e favorecer o aparecimento de doenças, estes comportamentos, por si só, não são suficientes para nos fazerem ficar constipados.
O termo constipação diz respeito a uma doença respiratória provocada por vários vírus. Os mais comuns são os rinovírus, para-influenza e adenovírus, mas conhecem-se mais de 200. “São vírus mais sazonais, gostam de um tempo mais frio, mais húmido, e é por isso que existe tanto esta associação entre o frio e as constipações. Além disso, nestes meses de frio passamos mais tempo em espaços interiores, todos colados uns aos outros, e acaba por ser mais fácil transmitirmos os vírus”, explica ao PÚBLICO a médica de família Nádia Sepúlveda.
Uma constipação está associada a um sintomatologia ligeira, que dura entre três e cinco dias: nariz entupido, garganta inflamada, dor de cabeça, tosse, voz rouca ou até uma febre baixa.
Não é o mesmo que a gripe, provocada por vírus da família influenza, que podem gerar sintomas mais intensos e mais duradouros, como febres elevadas ou dores musculares intensas, que duram entre cinco e sete dias, e que podem ter consequências mais graves, principalmente nos grupos populacionais mais frágeis.
“Sabemos que, do ponto de vista do sistema imunitário, ficamos mais frágeis quando está muito frio e estamos expostos a situações mais extremas. Claro que se estivermos fora de casa, sem casaco e o ambiente estiver muito frio, podemos ficar com as vias respiratórias mais fragilizadas, mais dispostas a ficarem infectadas por uma menor quantidade de vírus”, refere a médica. “Como acontecia durante a pandemia de covid-19, para certas pessoas bastava um pequeno contacto e ficavam logo infectadas. Outras, por mais contactos que tivessem, não ficavam doentes.”
No entanto, para apanhar uma constipação, como sublinha Nádia Sepúlveda, é sempre necessário existir contacto humano com humano, o que quer dizer que andar descalço, apanhar uma corrente de ar ou sair de casa com o cabelo molhado não é suficiente para que fiquemos constipados. “Não conseguimos apanhar vírus sozinhos, eles não nos batem à porta. A pandemia ajudou a população a perceber melhor este conceito da transmissão e como médica de família senti uma diminuição na incidência destas constipações banais”, aponta.
Mas ainda que possam ser banais e temporárias, as constipações incomodam e há algumas medidas que se podem pôr em prática para as evitar: usar máscara e manter a distância em ambientes de risco, lavar as mãos com frequência e pôr em prática as regras de etiqueta respiratória, como tossir e espirrar para o braço, podem ajudá-lo a evitar uma constipação.