Zelensky em Davos: “Putin personifica a guerra e não vai mudar”

Presidente ucraniano pede frente unida no Ocidente contra a Rússia em discurso no Fórum Económico Mundial, numa altura em que ajuda dos aliados se mantém bloqueada.

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Zelensky durante o discurso em Davos Reuters/DENIS BALIBOUSE
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O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu, esta terça-feira, ao Ocidente que mostre uma frente unida contra a Rússia e redobre o seu apoio a Kiev para garantir que Moscovo não prevaleça numa guerra prestes a completar dois anos.

Discursando no Fórum Económico Mundial, que decorre na cidade suíça de Davos, Zelensky disse que as recentes hesitações no apoio à Ucrânia e os receios de escalada na guerra só servem para perder tempo e prolongar um conflito que, considerou, pode durar vários anos.

“Putin personifica a guerra e não vai mudar. Temos nós de mudar. Todos temos de mudar para que a loucura que reside na cabeça deste homem ou na cabeça de qualquer outro agressor não prevaleça”, afirmou o Presidente ucraniano, para quem a ideia de uma “guerra congelada” não serve os interesses da Ucrânia ou dos seus aliados.

“Putin é um predador que não se contenta com produtos congelados”, reforçou.

O discurso de Zelensky em Davos, na presença de aliados como a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, ou o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, acontece numa altura em que as forças militares ucranianos foram forçada a adoptar uma posição mais defensiva, depois da contra-ofensiva do ano passado não ter conseguido romper as linhas defensivas russas no Sul e no Leste da Ucrânia ocupada.

A Ucrânia está agora concentrada na tentativa de garantir a continuidade da assistência ocidental, actualmente bloqueada pelas disputas políticas no Congresso dos EUA e pela oposição da Hungria na União Europeia. Esta terça-feira, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, afirmou que o apoio a Kiev não deve sair do orçamento da União Europeia.

“Se queremos ajudar a Ucrânia, e penso que temos de o fazer, terá de ser através de uma forma que não prejudique o orçamento da UE”, disse Orbán numa conferência de imprensa em Budapeste. “Dar 50 mil milhões de euros do orçamento da UE durante quatro anos é uma violação da soberania da UE e dos interesses nacionais. Nem sequer sabemos o que vai acontecer no próximo trimestre”, acrescentou o chefe do Governo húngaro.

Antes de discursar no Fórum Económico Mundial, Zelensky encontrou-se com o chefe da diplomacia norte-americana, a quem reforçou o pedido de assistência militar. “A defesa antiaérea e as capacidades de longo alcance são particularmente importantes para o nosso Estado”, disse Zelensky numa declaração publicada no canal presidencial na plataforma Telegram após o encontro com Blinken.

Já a reconstrução da Ucrânia foi o foco do encontro do Presidente ucraniano em Davos com vários líderes do mundo financeiro, como Jamie Dimon, CEO do J.P. Morgan, e executivos da Bridgewater Associates, Carlyle Group, Blackstone, Dell e ArcelorMittal.

“É importante para nós atrair capital privado para a reconstrução da Ucrânia. Esperamos que o J.P. Morgan ajude a atrair um grande número de investidores e grupos internacionais”, disse Zelensky através do Telegram.

A representante especial dos EUA para a recuperação económica da Ucrânia, Penny Pritzker, que também participou na reunião, disse que a mensagem económica de Zelensky mostrava o seu compromisso com a reforma.

“Há muitas dúvidas sobre o que é possível hoje e o que será realmente possível no futuro, quando se estiver no pós-guerra”, disse Pritzker, citada pela Reuters.

“A Ucrânia indicou que tem interesse inicial por parte de alguns investidores com visão de futuro que estão dispostos a correr mais riscos do que, digamos, um fundo de pensões estabelecido. E depois há certamente investidores individuais que estão bastante interessados”, acrescentou Pritzker.

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