Nova AD esquece que Freitas do Amaral liderava CDS em 1979. Hugo Soares fala em “imprecisão”

No vídeo de apresentação da nova AD, a liderança do CDS em 1979 é atribuída a Amaro da Costa e não a Freitas do Amaral. Tratou-se de uma “imprecisão”, explica Hugo Soares.

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Diogo Freitas do Amaral (CDS), Francisco Sá Carneiro (PSD) e Gonçalo Ribeiro Telles (PPM) DIREITOS RESERVADOS
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O vídeo de apresentação da nova Aliança Democrática (que une PSD, CDS e PPM), exibido no passado domingo, deixou de fora o nome de Diogo Freitas do Amaral, líder do CDS em 1979, quando se formou pela primeira vez esta coligação. A então liderança centrista foi atribuída a Adelino Amaro da Costa. No mesmo engano incorreu o secretário-geral do PSD, Hugo Soares. Questionado pelo PÚBLICO, o social-democrata alega que se tratou de uma “imprecisão”, afastando assim a ideia de que terá sido uma tentativa de “apagar” o nome de Freitas do Amaral da história da AD.

No domingo foi apresentada e formalizada a constituição da coligação pré-eleitoral entre PSD, CDS e PPM, com o nome de Aliança Democrática (AD). Num vídeo de cerca de dois minutos que resumiu o nascimento desta aliança (em 1979), eram apresentadas imagens do momento em que o acordo foi assinado, colocando lado a lado os então líderes do PSD, Sá Carneiro, do CDS, Freitas do Amaral, e do PPM, Gonçalo Ribeiro Telles. Contudo, na legendagem do vídeo era indicado como líder do CDS Adelino Amaro da Costa.

Ao PÚBLICO, o secretário-geral do PSD, Hugo Soares, diz que se tratou de uma “imprecisão”.

Tanto Freitas do Amaral como Amaro da Costa foram fundadores do CDS, mas, quando a AD foi criada, o partido era liderado pelo primeiro, que foi nomeado vice-primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros em 1980, após vencerem as eleições de Dezembro de 1979.

Mas a relação de Freitas do Amaral com os partidos de direita sofreu um abalo quando, após se ter desfiliado do CDS, integrou, em 2005, o Governo socialista de José Sócrates. Freitas do Amaral assumiu a pasta dos Negócios Estrangeiros.

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Adelino Amaro da Costa (esq) e Diogo Freitas do Amaral (dir) ALFREDO CUNHA/ARQUIVO

Mas isso são águas passadas para o PSD, já que, segundo Hugo Soares, “não há nenhuma questão política aqui”, afastando a ideia de que podiam estar a tentar “eliminar” a figura de Freitas do Amaral da história da AD.

O secretário-geral do PSD admite ter cometido uma “imprecisão” quando corrigiu uma jornalista da SIC. À margem da apresentação da AD, Hugo Soares foi questionado sobre se os actuais líderes do PSD e CDS têm a mesma “química” e o "carisma" que tinham Sá Carneiro e Freitas do Amaral. “[Vou] só fazer uma correcção. Era Adelino Amaro da Costa”, disse. “Enganei-me… Estava distraído. No atentado [em 1980], quem estava com Sá Carneiro era Adelino Amaro da Costa e confundi-me”, explica.

Na passada segunda-feira, para corrigir a "imprecisão", a AD (em parceria com o perfil do CDS) fez uma publicação na rede social Instagram, onde se lia: "1​979 é uma data que se eternizou na História de Portugal com a Aliança Democrática de Francisco Sá Carneiro, Diogo Freitas do Amaral e Gonçalo Ribeiro Telles."

No ano em que Freitas do Amaral se juntou ao Governo de Sócrates, o então secretário-geral do CDS, Pedro Mota Soares, anunciou que ia enviar o seu retrato para a sede do PS, no largo do Rato, decisão que terá sido tomada em conjunto com Paulo Portas, à época presidente demissionário do partido. Dois anos volvidos, o sucessor de Portas na liderança centrista, José Ribeiro e Castro, repôs o retrato na sede do CDS.

Agora, contactado pelo PÚBLICO, o antigo líder do CDS diz que o que aconteceu no domingo revela “falta de conhecimento” e recusa que tenha sido “intencional ou propositado”, até porque “seria deplorável se assim fosse”. “Não há motivo para a ausência desta referência. Aliás, qualquer pessoa que tenha vivido esses tempos ou veja filmes da época vê Freitas do Amaral junto a Sá Carneiro”, diz.

E conclui lembrando que Nuno Melo, actual líder do CDS, recordou Freitas do Amaral no início do seu discurso na apresentação da AD. O PÚBLICO tentou contactar o democrata-cristão, mas não obteve resposta.

Actualizado às 16h57 com informação sobre publicação no Instagram

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