Ataque de Israel mata jornalista filho de jornalista da Al-Jazeera que já tinha perdido a mulher, dois filhos e um neto
Esta já era a guerra com mais jornalistas mortos desde que há registos. No dia em que se cumprem três meses do começo do conflito, pelo menos mais dois jornalistas palestinianos foram mortos.
O chefe de redacção da Al-Jazeera na Faixa de Gaza, Wahel Dahdouh, já tinha perdido a mulher, dois filhos e um neto, num ataque israelita contra a casa onde a família se tinha abrigado, a 26 de Outubro. Na altura, um dos primeiros a chegar ao local e a compreender a desgraça que se tinha abatido sobre a família foi Hamza Wahel Dahdouh, o filho mais velho de Wahel, também jornalista. Este domingo, Wahel despediu-se de Hamza, morto quando um ataque de Israel fez explodir o carro em que seguia, com outros jornalistas, que cobriam precisamente os bombardeamentos israelitas.
Para além de Hamza, de 27 anos, o ataque matou pelo menos um outro jovem jornalista, Mustafa Tharya. Segundo o governo do Hamas, Israel já matou pelo menos 109 jornalistas palestinianos desde que começou a bombardear Gaza, há exactamente três meses. Até 5 de Janeiro, “as investigações preliminares” do Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ) confirmavam a morte de pelo menos 77 jornalistas.
Seja qual for o número real – as organizações internacionais só assinalam cada morte depois de a confirmarem e algumas não contabilizam jornalistas que não estariam a trabalhar quando foram mortos – esta já é de longe a guerra mais mortífera desde que há registos. E logo na Faixa de Gaza, onde Israel não permite a entrada de jornalistas.
A maioria dos mortos são “freelancers palestinianos locais e fotojornalistas que não têm recursos de segurança nem apoio de uma redacção”, comentava ainda em Outubro Sherif Mansour, coordenador do CPJ para o Médio Oriente e Norte de África, em declarações à revista Wired.
Foi já há 17 dias que o CPJ avisou que esta era já a guerra com mais jornalistas mortos na história moderna, ou desde que há organismos a documentar estes dados. “A guerra Israel-Gaza é a situação mais perigosa para os jornalistas a que já assistimos e estes números mostram-no claramente”, afirmava então Mansour, a propósito da divulgação de um relatório onde o CPJ contabilizava 68 jornalistas mortos, 61 dos quais palestinianos.
“O Exército israelita matou mais jornalistas em dez semanas do que qualquer outro exército ou entidade alguma vez matou num ano. E com cada jornalista morto, a guerra torna-se mais difícil de documentar e de compreender”, sublinhava a organização, dizendo-se “particularmente preocupada com um aparente padrão de visar jornalistas e as suas famílias por parte do Exército israelita”.
É difícil olhar para o que aconteceu a Wahel Dahdouh nos últimos meses e não pensar na possibilidade de a sua tragédia ser o resultado de um tal padrão. A 15 de Dezembro, para além de Wahel, outros três jornalistas da Al-Jazeera já tinham visto morrer familiares (nesse dia, Wahel sobreviveu com ferimentos a um ataque que matou o seu colega Samer Abudaqa).
Wael e a sua mulher, Amna, tinham oito filhos. No ataque de Outubro, Hamza e Bissan, o segundo mais velho, com 25 anos, estavam fora de casa e foram os primeiros a chegar e a perceber que a mãe estava morta, assim como o irmão Mahmoud, de 15 anos, e a irmã Sham, a mais nova, com sete anos. Yehia, de 12 anos estava gravemente ferido; Sundus, de 23 anos, Khuloud, de 21, e Batoul, de 18, também tinham ferimentos. Adam, o filho de Sundus, que tinha apenas ano e meio, também morreu.
O bombardeamento israelita tinha atingido a casa do campo de refugiados Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza, “onde tinham procurado refúgio depois dos bombardeamentos iniciais, quando o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, disse a todos os civis para se deslocarem para sul”, escreveu na altura o canal de notícias num comunicado, descrevendo um ataque “indiscriminado”.