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Ir à escola com ovelhas e alpacas: é o que acontece com estes adolescentes britânicos
A vida rural é um mundo distante para muitos adolescentes que vivem em cidades. Por isso, uma escola perto de Liverpool deu aos seus alunos a possibilidade de vivenciar a agricultura e a natureza. Com animais pelo meio.
A quinta da escola secundária de Woodchurch, no Reino Unido, foi inaugurada há 13 anos, e acabou por tornar-se um refúgio para a saúde mental dos alunos que a frequentam. Situada na cidade de Birkenhead, mesmo em frente a Liverpool, do outro lado do rio Mersey, a quinta conta com antigos alunos que se tornaram produtores de leite e veterinários. E que assumem que a quinta da escola é a razão pela qual encontraram a sua vocação na vida.
O próprio bairro de Woodchurch está classificado como estando entre os 10% dos locais de Inglaterra com menos rendimentos. No mês passado, as autoridades locais anunciaram que o centro de lazer das proximidades seria demolido.
Com a mobilidade social no Reino Unido a atingir o seu ponto mais baixo em mais de 50 anos, impedindo as pessoas de passarem para um nível de rendimento mais elevado, a capacidade da quinta de expor os seus alunos a pessoas e profissões muito distantes do ambiente urbano da escola é mais importante do que nunca.
"É realmente importante que [os jovens] tenham uma oportunidade de alcançar, de prosperar, de mostrar efectivamente as suas capacidades", afirmou a directora da escola Rebekah Phillips.
Todos os anos, os alunos competem nas exposições do condado de Royal Cheshire e Westmorland, mostrando as competências adquiridas ao cuidar das suas ovelhas, alpacas, cabras, porcos e galinhas. Muitos ganharam prémios e foram aclamados por especialistas agrícolas. "As comunidades agrícolas e agropecuárias abriram-nos os braços", declarou Linda Hackett, a directora da quinta.
Ella-Rose Mitchinson, 14 anos, aluna do 10.º ano, foi galardoada como Estudante do Ano 2023 pela School Farms Network — um conjunto de 140 escolas, muitas delas de comunidades rurais. Para ela, a quinta representa um espaço seguro, longe do mundo das redes sociais e das exigências da vida de adolescente. "Permite-me respirar", disse ela, acrescentando que sonha em tornar-se veterinária.
Corey Gibson, 13 anos, aluno do 8.º ano, concorda. "É um lugar feliz onde podemos ser nós próprios. Os animais não nos julgam".
Cultivando o futuro
A antiga aluna Sophie Tedesco, de 27 anos, trabalha agora como produtora de leite em Shropshire, tendo experimentado pela primeira vez a vida agrícola na quinta, antes de deixar a escola em 2013. "Abriu-me os olhos para o mundo agrícola", diz. "Era completamente diferente daquilo a que estávamos habituados e eu adorei", afirma.
Cada vez mais a escola é reconhecida como um centro de conservação — devido a um golpe de sorte quando lhe foram oferecidas ovelhas de North Ronaldsay aquando da abertura da quinta em 2010. Originária de Orkney, esta raça de ovelha está na lista do Rare Breeds Survival Trust como uma das quatro "prioritárias" — o grau mais elevado de preocupação da instituição.
"A nossa pequena escola, ao longo de 13 anos no nosso hectare e meio, criou mais de 60 ovelhas, tivemos cordeiros todos os anos. As nossas ovelhas contam para o censo nacional do Rare Breeds Survival Trust", afirmou a directora da quinta, Linda Hackett.
A directora Phillips diz que outras escolas mostraram interesse na quinta, mas lamenta o facto de esta nunca ser tida em consideração no sistema de avaliação académica do país, apesar do impacto mais vasto na comunidade.
"Em 13 anos, nunca tivemos um único acto de vandalismo", afirma Phillips. "Acho que o pior incidente que tivemos foi quando uma criança deu uma batata frita a uma ovelha."