Palcos da semana: festas e filmes com birra, Bazuuca e A Viúva Alegre
Os próximos dias trazem um réveillon singular, uma opereta de Lehár, música para os reis, cerveja à prova e bandas sonoras à escuta.
Paredes, Amália e mar em 3… 2… 1…
Por todo o país, multiplicam-se passagens de ano cheias de música e pirotecnia de meia-noite: Lisboa e Porto atraem multidões, a Guarda faz a festa mais alta, Aveiro inaugura a Capital da Cultura 2024, o Funchal puxa dos galões monumentais… Nessa lista, Sesimbra sobressai pela originalidade do espectáculo e por uma tradição singular.
Às 12 badaladas, solta nove minutos de fogo-de-artifício harmonizado com a guitarra portuguesa de Carlos Paredes em Verdes anos e com a voz de Amália em Grândola, vila morena – um sinal simbólico para abrir a comemoração do cinquentenário 25 de Abril e, de caminho, lembrar a fadista nos 25 anos da sua morte.
Noutra vertente, assiste a um ritual que começou como brincadeira de amigos: um réveillon subaquático oferecido por dezenas de mergulhadores que projectam uma coreografia luminosa a partir do fundo do mar.
Ano novo, viúva alegre
Depois de ter levado O Morcego de Johann Strauss II à abertura do centenário do Tivoli, o São Carlos lança-se a outra festa – e a outra opereta ligeira e divertida. Para a recepção ao novo ano, convoca A Viúva Alegre, de Franz Lehár. É interpretada em versão de concerto pela Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos, sob direcção musical de Antonio Pirolli. Alexandra Bernardo, André Henriques e Bárbara Barradas encabeçam o elenco vocal, e Mário João Alves trata da narração.
Considerada por muitos a rainha das operetas, A Viúva Alegre estreou-se em Viena, em Dezembro de 1905. O aplauso não foi imediato, mas rapidamente escalou para níveis de sucesso estrondosos. Só ali, chegou às 483 récitas. O êxito ecoou internacionalmente – fruto de uma digressão que influenciaria a moda da época e geraria até uma inaudita febre de merchandise – e estendeu-se no tempo.
É, até hoje, uma das mais representadas e trauteadas de sempre. E, de tempos a tempos, tem inspirado outras artes, como peças de teatro, o bailado coreografado por Ronald Hynd ou o cinema de Michael Curtiz, Ernst Lubitsch, Erich von Stroheim, Curtis Bernhardt e outros realizadores.
Baseado numa comédia de Henri Meilhac, o libreto de Viktor Léon e Leo Stein transporta-nos para a Paris do final do século XIX, onde o embaixador de um país imaginário se empenha em fazer com que uma viúva rica se case com um compatriota.
Janeiras com birra
Feitas as honras ao Natal e ao ano novo, há que receber condignamente os reis. Em Marvila, já é tradição fazê-lo com Ouro, Incenso e Birra, uma festa que combina as delícias da cerveja artesanal com petiscos, música e o sentido comunitário que nos últimos anos brotou no outrora esquecido bairro lisboeta, muito por arte do Lisbon Beer Department formado pela união dos produtores locais.
Os espaços da Musa, Dois Corvos e Fermentage são invadidos por uma comitiva de bandas, artistas e DJ: 800 Gondomar, Baleia Baleia Baleia, Filipe Sambado, Alex d’Alva, Nelassassin, Margarida Campelo e muitos outros. São eles que marcam o ritmo destas Janeiras cervejeiras, que dão a provar, além das propostas das casas, um néctar colaborativo que foi produzido para a ocasião: uma “weissbier com aromas de banana e especiarias”, sugere a organização.
Bazuuca no Lustre
No Lustre, os reis são os artistas da Bazuuca. Mais uma vez, a agência bracarense promove uma Noite dos Reis (aliás, duas), qual festival para celebrar os talentos da cidade e representar a sua vibrante cena musical, seja nos meandros do rock, do thrash, do trap, da electrónica ou do hip-hop.
Nesta quarta edição, o cartaz distribui 16 nomes pelos dois serões e por dois palcos (Bazuuca e Salão Mozart), uns que “já participaram em edições anteriores, mas que trazem algo de novo para apresentar”, explica João Pereira, fundador da agência e criador da festa, outros “com grande potencial de progressão”.
São eles: Miguel Pedro (Mão Morta), Mayu, Frank Lucas, Palas (Smix Smox Smux), Navegantes da Rua e Capela Mortuária na primeira noite, e Mafalda BS, Mutu, Maison Vërt, Quadra, St. James Park e Bed Legs na segunda. O remate de cada ronda faz-se na Sala dos Espelhos com dois DJ: primeiro, Mazda Fields e Terzi; depois, MGR96 e Aäg.
Filmes de ouvido
A quadra não termina sem um concerto da Lisbon Film Orchestra, o agrupamento que se dedica em exclusivo a recriar memórias musicais de filmes e séries. Se o do ano passado foi especial, por ter assinalado o 15.º aniversário e ter contado com o coro Mãos Que Cantam, o deste é-o ainda mais, por vários motivos.
Primeiro, por dar o salto para a Altice Arena, naquele que se anuncia como “o primeiro espectáculo de uma orquestra portuguesa em nome próprio na maior sala de espectáculos de Portugal”. Segundo, por integrar novas partituras. Barbie e Wednesday convivem com O Senhor dos Anéis, Stranger Things e clássicos de Morricone, Zimmer e John Williams. Finalmente, por dar mais um passo na inclusão de pessoas com deficiência auditiva, ao inaugurar um sistema que eleva a qualidade sonora para os utilizadores de aparelhos.
Só falta referir o número de artistas em palco (mais de uma centena) o leque de convidados (Patrícia Duarte, Vânia Blubird, Inês Branco e D’ZRT), a grande produção multimédia que invariavelmente emoldura a experiência e a presença de Nuno Sá, como sempre, no púlpito de maestro.