Tantos, muito diferentes e tão parecidos

Todas as pessoas contam, mas também se contam. À aritmética de somar mais uma ou mais mil junta-se a reflexão sobre o que lhes vai no pensamento.

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“Mil pessoas observam um grande cometa que só voltará a passar pela terra daqui a 2533 anos. Muitas delas perguntam-se se haverá vida noutros planetas. Nenhuma sabe ao certo qual é o sentido da vida” Kristin Roskifte
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“Vinte e quatro pessoas na feira de artigos em segunda mão. Uma delas encontra uma solução para um problema. Outra compra algo que já tinha em grande quantidade. Duas compram coisas que usarão como disfarces de Carnaval” Kristin Roskifte
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“Setenta e cinco pessoas numa maratona. Uma delas ganhou a lotaria e só está a correr porque está feliz. Duas são irmãs sem o saberem. Uma gosta de ir a casamentos e funerais de desconhecidos” Kristin Roskifte
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“Cem pessoas no recreio da escola. Uma delas não tardará a cair e a magoar-se. Outra irá desenvolver uma vacina e salvará milhóes de vidas” Kristin Roskifte
,Todo mundo conta: uma história de contagem de 0 a 7,5 bilhões
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“Duzentas pessoas numa praia. Uma delas leu algures que há tantas estrelas no universo quantos grãos de areia no mundo. Duas estão em pânico porque não encontram os filhos” Kristin Roskifte
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Capa do livro Todos Contam, editado pela Lilliput/Penguin Random House Kristin Roskifte
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O livro começa com o contorno de uma paisagem, sem presença humana. Legenda: “Ninguém.”

Em seguida, vê-se um rapaz deitado na cama do seu quarto a olhar para o céu através da janela. Texto: “Uma pessoa está deitada na cama e conta os batimentos do seu coração. Pergunta-se quantas pessoas estarão a ver, naquele momento, as mesmas estrelas que ela.”

Na página seguinte, de novo a paisagem inicial, mas já com presença humana, o rapaz do quarto e um adulto. Narrativa breve: “Duas pessoas no bosque. Uma delas diz algo que a outra recordará toda a vida.”

O livro prossegue acrescentando pessoas diversas, com diferentes pensamentos, antevendo acontecimentos às personagens que vão surgindo e dando pistas para que as procuremos mais adiante. Exemplo para o número 9: “Nove pessoas esperam numa fila. Duas delas têm de tomar decisões importantes. Uma não tardará a irritar-se. Outra está contente por ir ao cinema com o filho.”

À medida que os números crescem, vamo-nos familiarizando com alguns rostos e entramos facilmente no jogo de os procurar nas páginas seguintes. Cada vez mais pessoas que contam entram em cena, com os seus pensamentos, receios e anseios.

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“Uma pessoa está deitada na cama e conta os batimentos do seu coração. Pergunta-se quantas pessoas estarão a ver, naquele momento, as mesmas estrelas que ela.” Kristin Roskifte

Trata-se afinal de um livro de contagem sobre todos nós, num registo simples de apreender, que explora a observação, amplia o sentido crítico e convida a reflectir sobre as grandes questões da humanidade, sejam emocionais ou existenciais. Filosofia.

Inclusivo mas sem cartilha

As ilustrações coloridas, expressivas e muitas vezes divertidas, convidam a sucessivos olhares e a múltiplas descobertas. É um livro para ler e reler, ver e rever. Haverá sempre novas descobertas. Quem disse que a interactividade era exclusiva dos ecrãs?

Este livro está a ser traduzido para mais de 40 línguas e em 2019 ganhou o Prémio de Literatura para Crianças e Jovens do Conselho Nórdico. Distinguido com ouro na Noruega Visuelt e The Year’s Most Beautiful Books, foi nomeado para o Brageprisen e o World Ilustration Award.

No site da autora, norueguesa, informa-se que já criou nove livros ilustrados, tendo também desenhado para obras de outros escritores. Ali se diz ainda que Roskifte é mestre em Ilustração pela Universidade de Kingston, em Londres, e licenciada em Ilustração pela Cambridge School of Art.

É co-proprietária da Magikon Forlag, uma pequena editora especializada em livros ilustrados e livros sobre cultura visual, vive e trabalha nos arredores de Oslo, com o marido e os três filhos. Tem uma grande colecção de cadernos de esboços, onde documenta todas as partes da vida diariamente (e à noite).

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“Seis pessoas num elevador. Uma delas receia perder alguma coisa. Duas sentem-se sós” Kristin Roskifte

Em Todos Contam, o cruzamento de histórias e pensamentos das diferentes personagens sem nome, com quem o leitor se pode identificar aqui e ali, torna esta obra naturalmente inclusiva, sem disso fazer bandeira ou cartilha.

Sete mil e quinhentos milhões de pessoas no mesmo planeta. Cada uma delas tem a sua história, que é sempre única”, diz-se já no final. Estamos lá todos. Tantos, muito diferentes e tão parecidos.

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