Gaston Glock, o homem por detrás da arma, morre aos 94 anos

Engenheiro e magnata austríaco foi o inventor da pistola semi-automática Glock 17, utilizada por exércitos e forças policiais de todo o mundo, incluindo Portugal.

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O multimilionário Gaston Glock deixou a sua segunda mulher, uma filha e dois filhos DR
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A Glock 17 é uma pistola semi-automática leve, fabricada maioritariamente em plástico Reuters/RALPH D. FRESO
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Gaston Glock, o engenheiro e magnata que desenvolveu uma das pistolas mais vendidas no mundo, morreu nesta quarta-feira, 27 de Dezembro, aos 94 anos, informou a agência noticiosa austríaca APA. O austríaco conquistou seguidores leais entre os polícias e militares de todo o mundo com as armas que carregam o seu nome. A revista Forbes estimou a sua fortuna e a da sua família em 1,1 mil milhões de dólares (cerca de mil milhões de euros) em 2021.

A ascensão começou nos anos 1980, quando o exército austríaco procurava uma arma inovadora. Até então, a empresa Glock tinha fabricado facas militares e bens de consumo, incluindo varões para cortinados. Gaston reuniu uma equipa de especialistas em armas de fogo e criou a Glock 17, uma pistola semiautomática leve, fabricada maioritariamente em plástico.

O design revolucionário — com uma estrutura feita de um polímero de alta resistência à base de nylon e apenas a corrediça feita de metal — superou os projectos de outras rivais e garantiu o contrato à sua empresa.

Em Portugal, a quinta geração da Glock 17 é utilizada pelo Exército desde 2020, apresentando "algumas melhorias ao nível da ergonomia, mantendo toda a eficácia, fiabilidade, precisão e segurança das versões anteriores", lê-se na página oficial do Exército. Com um encargo orçamental superior a 540 mil euros, a aquisição de pistolas do mesmo modelo para a GNR e a PSP foi anunciada em Maio, avançou a agência Lusa.

Rapidamente, a arma de fácil montagem tornou-se um êxito mundial. "Arranja uma Glock e deixa essa pistola de maricas niquelada", diz Tommy Lee Jones no filme de 1998 U.S. Marshals. Muitos polícias americanos usavam-nas e os rappers incluíam-nas nas suas rimas, entre as quais Protocol de Snoop Dogg e Da Glock de Wu-Tang Clan.

Em 2003, soldados americanos encontraram o presidente iraquiano Saddam Hussein escondido num buraco no chão — tinha uma Glock . Mais tarde, os militares apresentaram a arma ao presidente dos EUA, George W. Bush, segundo o New York Times. Os defensores do controlo de armas criticaram a Glock por popularizar armas potentes que, segundo eles, eram fáceis de esconder e podiam conter mais munições do que outras.

Um antigo veterano de combate dos fuzileiros navais dos EUA, armado com o que a polícia descreveu como uma Glock de calibre .45, equipada com um carregador de alta capacidade, matou 12 pessoas num bar em Thousand Oaks, Califórnia, em Novembro de 2018. O supremacista branco Dylann Roof usou uma pistola Glock para matar nove afro-americanos durante uma sessão de estudo bíblico numa igreja em Charleston, Carolina do Sul, em Junho de 2015.

Tentativa de homicídio

Respondendo raramente às críticas dos activistas, Gaston Glock evitava o debate público e, em 2000, recusou-se a juntar-se a outros fabricantes de armas para assinar um acordo voluntário de controlo de armas com o governo dos EUA. Fez poucos comentários à imprensa, mas o público assistiu aos traços de uma vida privada, por vezes tempestuosa, através dos tribunais.

Aos 70 anos, em Julho de 1999, Glock sobreviveu a uma tentativa de homicídio, quando, segundo um tribunal, um corrector de investimentos que geria os seus bens contratou um antigo lutador para o atacar com um martelo de borracha. Segundo os advogados, Glock suspeitava da forma como o corrector geria os seus negócios e tinha-se deslocado ao Luxemburgo para o confrontar. Glock sofreu sete golpes na cabeça, mas defendeu-se da agressão. O corrector, Charles Ewert, e o agressor, Jacques Pecheur, foram ambos presos.

Na sua vida pessoal, o casamento de 49 anos de Gaston e Helga Glock terminou em 2011, com um divórcio e uma longa batalha legal. Pouco depois, casou-se com a sua segunda mulher, Kathrin Glock, com uma diferença de idades superior a 50 anos e que, depois de o magnata ter tido um enfarte, em 2008, terá restringido o acesso da família ao doente.

Era proprietário de uma mansão à beira do lago e de um centro de desportos equestres de última geração na província de Caríntia, frequentado por várias celebridades. Gaston Glock deixou a mulher, uma filha e dois filhos — Brigitte, Gaston Jr. e Robert —, e netos.