Morreu Harry Rosen, uma das figuras mais proeminentes da moda masculina canadiana, que fundou a cadeia de retalho epónima. Tinha 92 anos. “A sua paixão pelo vestuário masculino e pela moda era contagiante; a sua capacidade de ensinar e inspirar eram incomparáveis”, lamentou o filho Larry Rosen.
O comunicado foi partilhado na véspera de Natal com uma fotografia de Harry Rosen. “É com o coração pesado que anunciamos a partida do nosso fundador e visionário”, escreveu a empresa na legenda da imagem no Instagram. “Com um empréstimo de 500 dólares canadianos (equivalente a 5590, ou 3830 euros, à data de hoje) e um sonho, Harry fez nascer o seu negócio, um cliente de cada vez. A equipa que construiu e os valores que instituiu ajudaram o negócio, três gerações e quase 70 anos depois, a expandir-se pelo país. Não há palavras para resumir o impacte que teve em todos nós.”
A história da cadeia de retalho Harry Rosen é inseparável do próprio Harry Rosen. O negócio começou em 1954, com uma loja de peças feitas por medida para homens, e cresceu até se tornar o principal destino da moda de luxo no Canadá, com 15 lojas por todo o país.
Rosen nasceu em 1931 no seio de uma família judia polaca em Toronto ─ o pai tinha um negócio de sucata. Quando era adolescente, depois de desistir do secundário no 11.º ano, ainda esteve na conhecida alfaiataria Tip Top Tailors, mas o apelo para lançar o seu próprio negócio falou mais alto. “Eu era curioso e interrompia as pessoas para me mostrarem como se trabalha com as máquinas”, contou numa entrevista ao jornal Toronto Star.
Tinha só 22 anos quando abriu a primeira loja com o apoio do irmão mais novo, Lou, com recurso a um empréstimo de 500 dólares canadianos. Na Parliament Street, no bairro de Cabbagetown, a primeira loja apenas fazia roupa por medida. Nos anos 1960, mudaram-se para Richmond Street, na baixa da metrópole, e venderam parte da companhia para impulsionar o crescimento.
Não tardou até que surgissem novas lojas em Toronto e, na década de 80, a Harry Rosen começou a tornar-se uma marca reconhecível em todo o país, comprando de volta as acções que tinha vendido. A qualidade do vestuário fez com que atraísse clientes famosos, como Arnold Schwarzenegger, Sylvester Stallone ou Prince.
Com 51 anos, decidiu reformar-se das operações do quotidiano, passando essa responsabilidade para os filhos. Ainda assim, manteve-se sempre ligado como conselheiro do filho Larry, actual CEO, e como presidente executivo da empresa até ao final de vida. Desconhece-se a causa de morte oficial, ainda que alguma comunicação social nacional, como a televisão nacional CTV, aponte que Rosen sofria de Alzheimer.
Negócio baseado na confiança
Em 2004, Harry Rosen foi distinguido com a Ordem do Canadá, não só por ser um pioneiro da moda, como pelas acções filantrópicas em causas como o cancro ou contra o anti-semitismo. “A sua vasta contribuição para a liderança ultrapassa o sector empresarial e estende-se à comunidade em geral. Reconhecido pela sua integridade, capacidade de marketing e perspicácia comercial, partilha igualmente estas capacidades como construtor de comunidades”, elogiou então o governo do Canadá, citado pela CTV.
No mesmo ano, celebraram-se os 50 anos da Harry Rosen com um grande banquete, onde estiveram 600 convidados, incluindo o empresário italiano Santo Versace, que não se coibiu de elogiar o amigo: “O seu sucesso deve-se em grande parte à confiança que desenvolve com o cliente. A confiança é importante em todas as coisas na vida.”
Também Bruno Salzer, então presidente da Hugo Boss, salientou a mesma qualidade em Rosen, a quem recorria frequentemente. “Sempre que tenho uma pergunta, ligo-lhe e ele tem sempre um conselho, sem grandes histórias. É o único retalhista que ouve mesmo os seus clientes.”
Nos comentários da publicação, onde se anuncia a morte do empresário, multiplicam-se os comentários de elogio. “Vendeu-me e mediu-me o primeiro fato que comprei na recém-inaugurada loja do Rideau Centre, em Otava. Foi em 1983, creio. Era um cavalheiro”, escreve um utilizador.
E outro antigo funcionário lembra-o pela atenção que tinha para com todos: “Comecei a trabalhar no sector de moda masculina na loja Harry Rosen, no Scotia Plaza. Senti-me honrado por ele saber o meu nome quando trabalhava como administrador júnior e deu-me grandes palavras de encorajamento quando abri a minha loja, muitos anos mais tarde.”
Harry Rosen deixa a mulher, Evelyn, com quem foi casado por 68 anos, quatro filhos, nove netos e seis bisnetos. O funeral está marcado para esta quinta-feira, 28 de Dezembro.