Arquitectura
Uma casa feita de colunas nasceu das cinzas dos incêndios de Pedrógão Grande
A Casa Hipóstila é feita de betão, madeira e vidro. As colunas são estrutura e, ao mesmo tempo, filtram a luz solar de uma construção "despida e elementar".
O terreno foi comprado no início de 2017 por um casal suíço que tinha o sonho de, um dia, se mudar para Portugal e viver rodeado pela paisagem natural de Pedrógão Grande. Mas poucos meses depois, o sonho foi interrompido pelos incêndios que transformaram parte do concelho em cinzas.
Miguel Marcelino, arquitecto responsável pelo projecto, ainda visitou o terreno verdejante antes da catástrofe e recorda que, no cimo, existia uma antiga e “bastante degradada” construção agrícola de xisto. O fogo tornou visíveis os socalcos e foi esse o ponto de partida para a construção da Casa Hipóstila.
A ideia de criar uma casa feita de colunas surgiu logo depois. Os proprietários queriam uma habitação que comunicasse com o exterior, mas, para o atelier de Miguel Marcelino, projectar uma simples estrutura de vidro não era opção. “Não garantia privacidade. Nos dias de hoje, as colunas, essas estruturas hipostilas, já não se vêem muito, mas têm uma característica que achei que poderia ser útil neste caso que é servirem de filtro para não nos sentimos completamente expostos ao exterior”, descreve, em entrevista ao P3.
Nas palavras do arquitecto, os pilares funcionam como “estrutura e arquitectura” numa casa “simples e crua” feita de betão, madeira e vidro. No interior, há um ligeiro pigmento ocre nas colunas e tectos para tornar a casa mais quente e próxima do tom dos socalcos de xisto.
Na zona social, não existem barreiras: a parede de ripado de madeira esconde os armários e utensílios de cozinha, há uma salamandra na zona de estar e uma área para trabalho. E as colunas, mais próximas ou mais afastadas, controlam a quantidade de luz solar que entra na casa sem bloquear a vista para a paisagem rural e piscina triangular.
“Mais do que a forma, para nós era interessante a piscina estar no limite do último socalco de pedra. A sensação de estar junto ao rebordo da água que durante o dia é aquecida pelo sol é reconfortante e tentámos que fosse um elemento natural e mais próximo daquele ambiente.”
A Casa Hipóstila começou a ser construída em 2019, dois anos depois dos incêndios, e ficou concluída em 2022. Os muros de xisto foram recuperados com as pedras da antiga casa agrícola e a fluidez entre o interior e exterior foi respeitada numa “construção que acaba por ser despida e elementar”, destaca Miguel Marcelino.
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