Telefónica sobe em bolsa com reacção de Sánchez à entrada de accionista saudita

Acções da operadora espanhola sobem 4% com decisão do executivo espanhol de igualar investimento de 10% da STC, controlada pelo fundo soberano da Arábia Saudita.

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Executivo espanhol, liderado por Pedro Sánchez, vai investir dois mil milhões de euros para preservar "estabilidade accionista" da Telefónica EPA/CHEMA MOYA

Depois do choque inicial em Espanha com a tomada de quase dez por cento do capital da Telefónica por uma empresa de telecomunicações dominada pelo fundo soberano da família real saudita, a STC, o Governo de Pedro Sánchez tirou da manga um trunfo que vai custar cerca de 2000 milhões de euros ao Estado espanhol, anunciando a compra de outros dez por cento da empresa de telecomunicações.

A reacção dos mercados a esta operação que visa impedir a entrada de responsáveis da Saudi Telecom (STC) no conselho de administração da operadora histórica espanhola e protegê-la de uma eventual oferta pública de aquisição foi positiva: esta quarta-feira, as acções da empresa valorizaram 3,20%, para 3,68 euros, mas chegaram a subir 7% no início da negociação.

Ontem (terça-feira, 19 de Dezembro), o Conselho de Ministros espanhol anunciou ter mandatado a Sociedad Estatal de Participaciones Industriales (SEPI, o equivalente à portuguesa Parpública) para a compra de até 10% do capital da empresa (acima dos 5% que já se vinha mencionando nos mercados), o que supõe um investimento à volta dos 2000 milhões de euros. Trata-se, segundo o jornal económico Cinco Días, do “maior desembolso realizado de uma vez pela sociedade estatal [SEPI]”.

O grupo liderado por José María Álvarez Pallete (ex-administrador da Portugal Telecom quando a antiga Portugal Telecom, hoje Altice Portugal, e a sua congénere espanhola eram sócias no Brasil e tinham participações accionistas cruzadas) tem como principais accionistas individuais o CaixaBank-Criteria (6,03% do capital) e o BBVA (4,87%), cada um com um administrador no conselho da operadora de telecomunicações.

Mas, a 5 de Setembro, a STC anunciou a compra de 4,99% do capital e dos direitos a outros 5% através de derivados financeiros, com um investimento em torno de 2100 milhões de euros. Com esta posição, a empresa controlada pela família real da Arábia Saudita teria direito a reclamar até dois administradores no conselho de administração.

De acordo com a imprensa espanhola, os sauditas (que, segundo a Bloomberg, também estão entre os interessados na compra da Altice Portugal) entraram no capital da Telefónica sem aviso prévio, motivando uma reacção musculada do Governo de Sánchez, que ontem anunciou querer garantir a “estabilidade accionista” de uma empresa estratégica nos sectores da segurança e defesa, igualando a parada com os investidores sauditas e procurando desenhar um pacto com os accionistas espanhóis.

Num comunicado enviado ao supervisor da bolsa espanhola (a CNMV), a SEPI sublinhou que “a Telefónica é uma companhia líder no âmbito das telecomunicações, tanto em Espanha como no âmbito internacional. Desenvolve um conjunto de actividades que são de relevância crucial para a economia, o tecido produtivo, a investigação, a segurança, a defesa e, em definitivo, o bem-estar dos cidadãos”.

A SEPI tem “uma vocação de permanência [no capital social]” e procurará assegurar à Telefónica “uma maior estabilidade accionista para que a companhia alcance os seus objectivos e que contribua para salvaguardar as suas capacidades estratégicas”. A holding pública espanhola diz ainda que procurará completar a aquisição do volume de acções necessário, mas “minimizando o impacto na cotação” da Telefónica.

Apesar da acção do executivo espanhol, nem todos os grandes accionistas da Telefónica estão preocupados com a entrada da Arábia Saudita no capital de uma das maiores empresas espanholas. O BBVA já qualificou a posição na Telefónica como “não-estratégica” e, por isso, disponível para venda, noticiou a Reuters.

Em reacção à entrada dos sauditas no capital da operadora, o presidente do banco, Onur Genç, considerou positivo que existam investidores estrangeiros interessados numa empresa com a dimensão da Telefónica, como noticiou o El Independiente.

Do lado do CaixaBank, a posição foi semelhante. Em Outubro, citado pela Reuters, o presidente executivo do banco, Gonzalo Gortazar, disse ver com bons olhos a entrada dos sauditas no capital da Telefónica: “Por definição, são boas notícias. Precisamos de investimento estrangeiro, temos de olhar para isto como algo positivo.”

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