Porto “indestrutível” feito com a Niepoort marca estreia da Wine Million nos vinhos de luxo

O Verídico 1900 é um Very Very Old tawny assinado por José Dias e Dirk Niepoort. Um luxo por 5900 euros e a estreia da Wine Million em bebidas alcoólicas e private labelling.

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José Dias (Wine Million) e Dirk Niepoort (Niepoort) assinam o vinho Verídico 1900, um Porto que custa 5.900 euros Paulo Pimenta
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A Wine Million, do jovem empresário José Dias, e a Niepoort acabam de lançar um vinho do Porto que, nas palavras de Dirk Niepoort, responsável pelo lote final, é "indestrutível". Trata-se de um Very Very Old (ou VVO, ou W, categoria criada recentemente para Portos "muito muito velhos", leia-se com mais de 80 anos) criado a partir de vinhos que um e outro tinham mas que foram feitos por gerações passadas. Chegou ao mercado numa edição limitada de 150 garrafas exclusivas em cristal da Vista Alegre Atlantis, a 5.900 euros. Na verdade, foi apresentado num evento privado no final de Outubro — para a distribuição só vão, refira-se, 15% das unidades — sendo que um terço foi logo vendido en primeur.

É uma estreia em grande para a Wine Million, que, muito embora exista desde 2014, quer agora afirmar-se na produção de bebidas alcoólicas e private labelling (idealizar e entregar um vinho / uma marca para um cliente, controlando "o processo de A a Z", explica José Dias) de luxo em português.

Conheciam-se de vista, apenas. E foi José quem contactou Dirk, que, sendo (também) o homem das parcerias e das mil ideias, prontamente respondeu "sim". Não sendo enólogo, José já fez vinho em várias regiões e foi CEO da Ideal Drinks até 2021. Tinha um tawny de 1900 numa barrica que o pai, Custódio Dias, comprara em 1994, o ano do seu nascimento, e sabia que tinha algo especial e raro, mas precisava, por um lado, de mais vinho e, por outro, de 'fazer' o produto final. "Nunca fiz vinhos do Porto."

"Sempre fui apaixonado pelo Douro e nunca fiz vinhos no Douro", começa por contar o bairradino. "E na altura que nos sentámos, disse-lhe: gostava de fazer alguma coisa que tu nunca tenhas bebido. Era um desafio praticamente impossível: criar algo que fosse tão único e tão singular, mas acho que conseguimos."

José Dias é um admirador confesso do trabalho de Dirk Niepoort Paulo Pimenta
O Verídico 1900 vem numa garrafa em cristal, de desenho exclusivo e pensada por José Dias, da Wine Million,O Verídico 1900 vem numa garrafa em cristal, de desenho exclusivo e pensada por José Dias, da Wine Million Paulo Pimenta,Paulo Pimenta
Não sendo enólogo, José Dias, o dono da Wine Million, já fez vinho em várias regiões e foi CEO da Ideal Drinks até 2021 Paulo Pimenta
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José Dias é um admirador confesso do trabalho de Dirk Niepoort Paulo Pimenta

A ficha técnica do Verídico 1900 dá conta de um vinho "sedutor e intenso", com uma "estrutura elegante", "opulento no nariz", com aromas a "caramelo de mel e manteiga", "pêssegos secos e ameixas", "doce e melado" e com uma "bela acidez". A descrição que dele faz Dirk é mais sucinta: "é harmonia e equilíbrio".

Para além do vinho que José Dias recebeu do pai, entraram no lote vários tawnies da Niepoort. "O mais velho é um 1863. Depois tem um vinho mais novo, um garrafeira, para lhe dar frescura e o vinho [final] ficar um bocadinho mais seco. É um blend que vai dar mais ou menos 1900", conta Dirk. Mais ou menos, porque, confessa às tantas o produtor e enólogo, pelas suas "contas" o vinho até será mais velho. "Acabei por meter mais 1863 do que queria e do que as contas diziam. Não fomos pela matemática, mas sim pelo gosto."

E que objectivos nortearam então a criação do lote? "A base já era bastante equilibrada, mas um bocadinho doce. Achei que devíamos fazer uma coisa que desse gozo beber, que não fosse só academicamente interessante, pela idade. O resultado é um vinho superequilibrado. O único defeito é que apetece bebê-lo", conta o produtor e enólogo.

"Sempre gostei de vinho do Porto, mas o vinho que me fez verdadeiramente dizer 'OK, isto é mesmo especial' foi o VV [da Niepoort]. Gosto muito daquele perfil e ficou aquele bichinho. Sem nunca imaginar que hoje estaríamos aqui, naturalmente", partilha o admirador confesso do trabalho de Dirk (e dos seus antepassados, claro está; porque, como brincou a dupla, nem um nem o outro estavam "por cá em 1900").

"E este vinho [o Verídico 1900] é extremamente velho, mas não é queimado. Sente-se a velhice, mas não é enjoativo, não é demasiado doce, tem acidez. É um vinho muito velho que ainda pode envelhecer e só por aí eu acho que já se destaca do normal", nota José Dias. É, "tem pouco Douro bake", atalha Dirk. Aquele torradinho que têm os Portos envelhecidos no Douro e a que escapam os que vivem nas caves de Vila Nova de Gaia. "Tem tudo aquilo que lhe permite ter mais 20, 30 ou 40 anos e estar sempre a melhorar", diz José. "É um bocadinho indestrutível", vaticina Dirk.

Indestrutível e com um 'fato' de cristal exclusivo. Desenhada por José Dias, a garrafa demorou meses a sair do papel. Este supertawny, como em tempos se chamava a este tipo de vinhos (bem antes de o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto abrir a categoria dos VVO), vem selado com uma rolha técnica de cortiça, feita na Amorim Cork, e traz um bartop em cristal que completa o conjunto, cuidadosamente embalado numa caixa especial de madeira. É na "atenção aos detalhes" que está o ADN da Wine Million, que, curioso, era para se chamar outra coisa e acabou assim baptizada por uma falha de comunicação, conta José.

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Dirk Niepoort ficou com a garrafa 77 de uma edição limitada de 150 unidades e colocou o seu Verídico 1900 no "cofre" das caves da Niepoort Paulo Pimenta

Entre as mais de 50 garrafas já vendidas, há duas que foram para o Lasarte, em Barcelona — no restaurante com três estrelas Michelin, será possível pedir o Verídico 1900 a copo, falta saber por que preço —, mas a maioria fica, para já (e para já, porque estes vinhos são vistos também como investimentos) em Portugal. "Vamos tentar fazer as vendas em Portugal e fidelizar e sensibilizar portugueses a adquirirem produtos como este", refere José Dias, acrescentando que desde o início idealizou como público-alvo da Wine Million todos aqueles que são "verdadeiramente apaixonados [pelo mundo do vinho] e que valorizam a história e o produto". "E as pessoas estão a perceber a história deste vinho, o sacrifício e o tempo investidos a criá-lo", congratula-se.

Para o empresário, o preço (se é elevado ou não) é uma não-questão. "O vinho do Porto não pode ser feito em mais nenhum lugar do mundo. O que faz a Macallan vender um single malt a 2,7 milhões [de dólares; quase 2,5 milhões de euros] e o vinho do Porto não?"

O Verídico 1900 é o primeiro de uma trilogia de três very very old tawnies. Os outros dois vinhos serão lançados no próximo ano, início de 2025), e inicialmente eram para ser parcerias com três produtores diferentes. Agora podem bem continuar na esfera da Niepoort. "Está em aberto", respondem os dois.

A Wine Million tem outras novidades na calha. A começar pelo investimento numa quinta no Douro. "Nós vamos instalar-nos no Douro [com vinhas e produção]. Vai acontecer. Tenho ambições de voltar também à Bairrada, mas neste momento o posicionamento é no Douro", adiantou José Dias ao PÚBLICO. Ainda antes do lançamento do segundo tawny da tal trilogia, surgirá no mercado o primeiro vinho de produção própria da Wine Million — presumimos que do Douro, mas José não quis relevar mais nesta fase. E, finalmente, o segundo semestre de 2024 ficará marcado pela criação de um clube, The WM Club, seguindo o que parece ser uma das últimas tendências do mercado (já há o Rolf and The Collectors, da própria Niepoort; o Matriarca Club, da Symington; o Alegrete 1375, de Susana Esteban...) e cujos primeiros sócios serão os compradores deste Verídico 1900.

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