Ao contrário do que é habitual, neste domingo, 17 de Dezembro, a Estação de São Bento, no Porto, encontra-se mais iluminada. Este pormenor não escapa aos habituais passageiros e visitantes, que param para espreitar. Pronta a arrancar, na linha 1, está uma locomotiva antiga devidamente aperaltada com pisca-piscas e decoração natalícia. Atreladas à velha máquina a vapor estão cinco carruagens de madeira, igualmente antigas.
Os relógios preparam-se para assinalar as 19h55. Sabe-se que a hora de partida está próxima porque as pessoas aproximam-se cada vez mais da entrada da composição e o entusiasmo dos mais novos é exteriorizado com mais furor. E se normalmente é a famosa voz feminina dos Comboios de Portugal (CP) que avisa os passageiros que o comboio vai partir, desta vez é o célebre 'chu-chu' (o silvo da locomotiva) que alerta para o início da viagem.
“Toca, toca, toca”, gritam crianças e adultos, em sintonia, para os maquinistas do Comboio Histórico de Natal. O primeiro anúncio de partida não foi suficiente para satisfazer os admiradores deste transporte. E, para se fazer a vontade de miúdos e graúdos, volta-se a ouvir repetidos apitos.
Já dentro do comboio, os passageiros transitam de carruagem centenária para carruagem centenária até descobrirem uns quantos bancos que consigam albergar todos os elementos da família. Os mais novos lutam entre si para irem todos à janela. Rapidamente os lugares estão ocupados e os tons verde-água das paredes, que contrastam com os assentos de madeira, tornam-se pano de fundo para muitas das fotografias.
Este é o segundo ano que o Comboio Histórico, que habitualmente percorre o Douro entre a Régua e o Tua, se converte com o espírito de Natal e passa a circular entre Porto – São Bento e Ermesinde (município de Valongo). Ainda assim, é a primeira vez que a família de Cláudio Machado e de Sónia Neves vêm realizar este percurso. “Queríamos mostrar à nossa filha como eram os comboios antigos, porque este contacto com o passado também é uma mais-valia para o desenvolvimento dos conhecimentos das crianças”, refere Cláudio Machado.
Para José Sousa e Siza Pinho, acompanhados pelas suas filhas, este comboio não é uma novidade, já que o conhecem do percurso no Douro. “Isto é óptimo para promover este meio de transporte e para valorizar o território”, explica a mãe da família. “Gostamos muito mais de viajar desta forma, porque assim conseguimos ver a paisagem e conversar com as pessoas”, acrescenta.
É o rio Douro e as luzes da cidade que fazem os passageiros levantarem-se para apreciarem a paisagem exterior ao comboio. Para as crianças, embaladas pelo ‘chuca-chuca, chuca-chuca’ emitidos pela locomotiva, é o fumo e o vapor, lançados no decorrer da marcha atribulada do comboio, que capta as suas atenções.
Os pormenores da antiguidade também deixam a suspirar os mais crescidos, como Nelson Mendes, que viaja juntamente com os filhos, com a esposa e a mãe. “O meu avô era maquinista”, revela. “Esta viagem faz-nos voltar atrás no tempo, sonhar como era a vida da nossa família. Na verdade, aproxima-nos das nossas raízes”, diz. “Vale por tudo. Este tipo de experiência vale por tudo.”
Nem só as famílias com crianças mais pequenas decidiram viajar neste comboio. Também Pedro Marques, de 19 anos, decidiu embarcar com os pais e com os irmãos nesta aventura. “Nunca tínhamos presenciado algo do género, então, decidimos conhecer esta antiguidade, andar num destes comboios, explorar a nossa cidade e viver o espírito natalício”, conta.
O comboio começa a abrandar. A inquietação regressa. Todos querem desembarcar. A viagem terminou, mas o passeio não. O próximo objectivo é ver a árvore de Natal mais alta de Portugal em Ermesinde. Os passageiros têm de percorrer alguns metros até a alcançarem, mas já conseguem apreciar o seu topo logo que saem da estação de comboios. A árvore pode ser visitada no Parque Urbano de Ermesinde. Aqui, também está a Aldeia de Natal, que conta com uma pista de gelo, um mercado, carrosséis e zona de restauração.
“Esta experiência toca muito as pessoas. Quem faz esta viagem não esquece. Estamos aqui a juntar gerações com este comboio histórico”, refere ao PÚBLICO o presidente da Câmara Municipal de Valongo, José Manuel Ribeiro. O programa, que conjuga o passeio de comboio à descoberta da Aldeia de Natal de Ermesinde, surge de uma parceria entre a CP e a Câmara Municipal de Valongo.
Com esta viagem, as pessoas podem explorar o comboio histórico do Douro, por um preço mais acessível, conhecer a cidade e contactar com o espírito de Natal, esclarece o presidente da CP, Pedro Moreira. A CP obteve um “feedback muito positivo” por parte das pessoas que já decidiram fazer este percurso, aponta. Para aqueles que ainda estão em dúvida se devem ou não andar no Comboio de Natal, Pedro Moreira diz que é certo que “podem contar com uma experiência inesquecível”.
As viagens vão realizar-se novamente nos dias 23 e 30 de Dezembro de 2023 e a 6 e a 7 de Janeiro. A locomotiva histórica parte de São Bento às 15h03 e às 19h55. Em Ermesinde, o comboio, com capacidade para 254 passageiros, arranca às 16h40 e às 21h25. Os bilhetes podem ser adquiridos nas bilheteiras ou online e incluem acesso gratuito aos comboios urbanos do Porto no dia da viagem. Os adultos pagam dez euros, enquanto as crianças, entre os quatro e os 12 anos inclusive, pagam cinco euros.
Texto editado por Sandra Silva Costa