Apesar da pressão internacional, Netanyahu promete continuar guerra

Chefes da diplomacia da Alemanha e do Reino Unido assinaram um artigo conjunto em que pedem um cessar-fogo “sustentável” na Faixa de Gaza.

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Netanyahu tem afastado um novo cessar-fogo em Gaza EPA/MENAHEM KAHANA / POOL
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É cada vez maior a pressão sobre o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, para que viabilize um cessar-fogo na Faixa de Gaza, sobretudo depois da morte acidental de três reféns pelas Forças de Defesa de Israel (IDF).

Os chefes da diplomacia do Reino Unido e da Alemanha, David Cameron e Annalena Baerbock, respectivamente, assinaram um artigo de opinião conjunto em que defendem um cessar-fogo sustentável e duradouro. “Deve ser uma paz que dure dias, anos, gerações. Por isso defendemos um cessar-fogo, mas apenas se for sustentável”, escrevem os dois ministros.

“Sabemos que muitos na região, e não só, têm apelado a um cessar-fogo imediato. Reconhecemos o que motiva esses apelos sentidos”, afirmam.

Trata-se de uma viragem significativa quanto à forma como dois dos principais aliados de Israel passaram a encarar o conflito na Faixa de Gaza, aumentando a pressão sobre Israel para que ponha fim aos bombardeamentos e ataques contra o território palestiniano.

Segundo as autoridades de Gaza, quase 19 mil pessoas morreram desde que Israel iniciou a ofensiva contra o Hamas, como retaliação pelos violentos ataques de 7 de Outubro, os mais graves em solo israelita desde a fundação do país, em que morreram 1200 pessoas.

“Israel não irá vencer esta guerra se as suas operações destruírem a perspectiva de uma coexistência pacífica com os palestinianos”, afirmam Cameron e Baerbock, no artigo publicado em jornais dos dois países. “Têm o direito de eliminar a ameaça representada pelo Hamas. Mas demasiados civis têm sido mortos.”

A posição dos dois ministros europeus soma-se ao fosso cada vez maior entre os EUA e Israel em relação à ofensiva de Gaza. Na semana passada, o Presidente Joe Biden avisou que Israel estava a manchar a sua reputação internacional, pondo em causa o apoio dos seus aliados, ao bombardear de forma indiscriminada infra-estruturas civis do território palestiniano, causando milhares vítimas e expulsando quase dois milhões de pessoas das suas casas em poucas semanas.

Esta semana será a vez do secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, que irá estar em Israel para encontros com Netanyahu e com o ministro da Defesa, Yoav Gallant. Segundo o Pentágono, Austin deverá reforçar o apoio de Washington ao direito de Israel de destruir o Hamas, mas também deverá insistir na necessidade de que as operações no terreno tenham em conta a segurança dos civis e o fornecimento de ajuda humanitária.

A nível interno, a pressão sobre o Governo de Netanyahu está também a intensificar-se. O líder da oposição, Yair Lapid, exigiu este domingo a demissão do primeiro-ministro: “Temos um primeiro-ministro que perdeu a confiança do povo, perdeu a confiança do mundo e perdeu a confiança do aparelho de segurança.”

Nas ruas, centenas de pessoas continuam a manifestar-se em protesto contra o Governo por causa da morte acidental de três reféns israelitas durante as operações das IDF em Gaza. Segundo as próprias forças israelitas, os três reféns estavam com bandeiras brancas nas mãos quando foram abatidos por engano.

Centenas de pessoas acorreram ao funeral de uma das vítimas, Alon Lulu Shamriz, este domingo no kibutz Shefayim, a norte de Telavive. “Meu Alon, não queríamos que isto acabasse, mudámos o mundo por ti. Sobreviveste 70 dias no inferno, num momento estavas nas minhas mãos”, disse a mãe, citada pelos media israelitas.

Apesar da pressão, há poucos sinais de que Netanyahu pretenda alterar o rumo da ofensiva em Gaza. No sábado, deu uma conferência de imprensa em que disse estar “comprometido como nunca” em continuar a guerra contra o Hamas, sugerindo até que poderia vir a rejeitar uma solução futura em que o poder em Gaza fosse exercido pela Autoridade Palestiniana.

O primeiro-ministro começou uma reunião do conselho de ministros este domingo por ler uma carta que disse ter sido enviada por familiares de soldados mortos durante a operação. “Tem um mandato para combater, não para parar a meio”, leu Netanyahu, acabando por responder: “Iremos combater até ao fim.”

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