Renovadores comunistas pedem que esquerda se entenda para formar Governo
Edição de livro vai assinalar o 20.º aniversário da associação Renovação Comunista.
Os renovadores comunistas pedem que a esquerda se entenda para reeditar a Geringonça após as eleições legislativas e formar um governo de coligação, considerando que é a única maneira de o país “retomar uma dinâmica de progresso”.
“Importa assumir que o futuro do país depende da retoma do processo de convergência entre a esquerda e o centro-esquerda, reeditando agora com desejável sucesso o que foi o compromisso de 2015”, lê-se no livro “Do pensamento renovador ao Movimento de Acção Política”, que irá ser publicado em breve e evoca o 20.º aniversário da associação Renovação Comunista.
Em declarações à Lusa, o presidente da associação, Paulo Fidalgo, defendeu que Portugal, “para retomar uma dinâmica de progresso, de avanço, desenvolvimento e correcção das assimetrias sociais, precisa de uma nova governação”.
Para o ex-comunista, “a direita não tem quaisquer condições de garantir estabilidade”, por estar “profundamente fragmentada e não ter projecto”, pelo que “é no seio da esquerda que uma solução tem de surgir”.
Essa solução “tem de surgir com grande importância por parte do PS, que é uma força muito significativa, mas também não pode o PS excluir o resto da esquerda”, sustentou.
O presidente da Renovação Comunista considerou que PS, PCP e BE devem “retomar um processo negocial que vise a constituição de objectivos sociais e económicos concretos e quantificados, para uma legislatura”, e acrescentou que, caso haja uma maioria de esquerda após as legislativas, o ideal era que fosse formado um executivo de coligação com membros dos três partidos.
“Acho que um dos problemas da ‘geringonça’ foi o fraco envolvimento do BE e do PCP na constituição das políticas e no Governo, e na não participação no Conselho de Ministros, porque, porventura, aqueles acordos cingidos exclusivamente ao Orçamento foram muito limitados”, referiu.
O presidente da Renovação Comunista admitiu que a forma como a convergência à esquerda terminou em 2021, com o chumbo desse Orçamento do Estado, pode constituir “um certo trauma” para reeditar uma ‘geringonça’, mas observou que, “muitas vezes, os acontecimentos são primeiros tentados, e depois efectivados”, considerando que o acordo à esquerda em 2015 poderá ter sido um “primeiro ensaio”.
Da mesma maneira, Paulo Fidalgo considerou que as recentes divergências entre PCP e BE e o PS durante a maioria absoluta - designadamente no que se refere a temas como a privatização da TAP ou a reposição integral do tempo de serviço dos professores - não constituem entraves a uma nova ‘geringonça’.
“Se é verdade que possam ter surgidos aspectos de confrontação e divergência, eu acho que o evolucionismo histórico é muito pressionado pelas circunstâncias e vai com certeza gerar uma situação, no dia 10 de março, em que a esquerda e o centro-esquerda são confrontados com a necessidade de fazer um acordo para a governação de Portugal”, frisou.
Também no que se refere às diferenças em termos de política externa, Paulo Fidalgo disse que pode vir a ser “um obstáculo e dificuldade”, mas tem de haver uma gestão com “habilidade suficiente” para que, em certos aspectos, haja acordo e noutros não.
“Os comunistas portugueses fizeram parte do Governo da NATO em 1974. E, portanto, as dificuldades de entendimento na situação geopolítica não terão de inibir a celebração de compromissos”, disse.
Paulo Fidalgo observou que, até ao momento, nenhum dos líderes partidários do PCP e BE, nem dos candidatos à liderança do PS, recusou uma reedição da geringonça, o que mostra que estão “muito cautelosos” perante uma realidade que, após as eleições, poderá impor “alinhamentos e soluções”.
“O meu desejo é que os portugueses, se votarem na esquerda, tenham um horizonte de governabilidade. (…) O país não perdoará a estes partidos uma falta de entendimento na constituição de um Governo”, afirmou.