Rei Carlos criticado por ter nomeado defensor da homeopatia para médico real

A decisão, interpretada como uma quebra na tradição, coloca o monarca “sob escrutínio”, escrevem os media britânicos.

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O médico nomeado “não acredita que a homeopatia possa curar o cancro”, diz o Palácio de Buckingham Reuters/POOL
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O rei Carlos III de Inglaterra nomeou Michael Dixon, conhecido por ser um defensor de terapias alternativas, como médico-chefe da Casa Real. E as críticas não se fizeram esperar: académicos e activistas, escreve o Guardian, consideram a escolha “inapropriada” e “preocupante”.

Dixon, de 71 anos, que já defendeu a cura pela fé e através do uso de ervas no seu trabalho como médico de clínica geral, ocupa o cargo real há cerca de um ano, noticiou agora o Sunday Times, e entre as suas funções está o cuidado da família real e a representação desta junto do Governo em matérias relacionadas com saúde. O que chocou a classe médica.

“Qualquer pessoa que promova a homeopatia está a prejudicar a medicina baseada em provas e o pensamento racional. A primeira enfraquece o Serviço Nacional de Saúde e a segunda causa danos à sociedade”, elaborou o professor emérito da Universidade de Exeter Edzard Ernst, um médico que se dedicou a investigar medicinas alternativas com o objectivo de as desacreditar.

De acordo com o Sunday Times, a nomeação de Dixon, que trabalhou no Serviço Nacional de Saúde britânico durante quase 50 anos, também mereceu reacções da Good Thinking Society, grupo que promove o cepticismo científico. “Não é apropriado”, qualificou o director da sociedade, Michael Marshall, ao Guardian. E justificou: “Penso que o papel da monarquia, se é que tem algum na sociedade actual, não é defender os seus projectos pessoais e as suas crenças pessoais ou usar o poder e a influência que tem para promover causas que vão directamente contra as provas que temos.”

O receio de Marshall é de que o rei, que nunca escondeu ser defensor da homeopatia e da aproximação da ciência à pseudociência (foi patrono de organizações homeopáticas ainda como príncipe de Gales), possa estar a apoiar (e a financiar) a medicina complementar nos bastidores.

A decisão de Carlos também não passou ao lado dos que defendem a abolição da monarquia no Reino Unido. Graham Smith, director executivo do Republic — a maior organização republicana do país, com mais de 80 mil membros —, sublinhou o comportamento “arriscado” e “irresponsável” do monarca, que “põe em evidência este aspecto das suas convicções que muitas pessoas desconhecem”. E, sublinha, “toda a promoção da medicina alternativa mina a confiança na medicina [científica]”.

Entretanto, o Palácio de Buckingham emitiu uma declaração em que esclarece que o médico nomeado “não acredita que a homeopatia possa curar o cancro”, mas antes que “as terapias complementares podem acompanhar os tratamentos convencionais, desde que sejam seguras, adequadas e baseadas em provas”. E lembra as palavras de Carlos ainda enquanto príncipe herdeiro: “Não se trata de rejeitar os medicamentos convencionais em favor de outros tratamentos: o termo medicina complementar significa exactamente o que diz.”

De acordo com o Sunday Times, além de defender a homeopatia como terapia complementar, Michael Dixon já convidou um curandeiro cristão a visitar o seu consultório para tratar doentes crónicos e experimentou prescrever um arbusto africano chamado garra do diabo para dores nos ombros, bem como epimedium, comummente conhecida por erva-de-cabra, para curar a impotência.

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