Número de dentistas com inscrição suspensa na Ordem atingiu o máximo em 2022

Aumento do número de médicos dentistas em Portugal afasta o país dos valores de referência delineados pela Organização Mundial da Saúde de um médico por 2000 habitantes, aponta estudo da OMD.

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França, Reino Unido, Espanha, Países Baixos e Itália são os principais destinos dos médicos dentistas fora do país, indica o estudo da Ordem Paulo Pimenta
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O número de dentistas com inscrição suspensa na Ordem dos Médicos Dentistas (OMD) atingiu os 2077 em 2022, o que corresponde ao valor mais elevado de sempre e a um crescimento de 14,2 face a 2021.

Os dados fazem parte do estudo "Números da Ordem" divulgado esta terça-feira pela OMD, que mostra que 53,1% destes dentistas suspenderam a inscrição para trabalharem no estrangeiro.

Em 2022, verificou-se o maior aumento anual de pedidos de suspensão da Ordem, com um total de 258 dentistas a fazê-lo.

"Só em três anos houve um aumento na ordem dos dois dígitos, ainda assim muito abaixo dos valores de 2022", nomeadamente em 2015, com 102 inscrições suspensas (+10,3%), em 2016, com 119 (10,9%) e em 2019, com 172 (12,2%).

No final de 2022, a OMD registava 12.706 médicos dentistas com inscrição activa para o exercício da profissão em Portugal, mais 3,8% (471) comparativamente a 2021.

"Esta é a realidade da medicina dentária em Portugal. Apesar dos mais de 2000 profissionais que têm a inscrição suspensa, e dos mais de 50% que decidiram trabalhar no estrangeiro, o número de médicos dentistas habilitados exercer a profissão em Portugal continua a aumentar", alerta o bastonário da OMD, Miguel Pavão, citado em comunicado.

Situação preocupante

Para Miguel Pavão, é uma situação preocupante, porque se estão "a formar profissionais cujo futuro no país é cada vez mais precário e cuja solução é sair para outras paragens".

O estudo também demonstra que "Portugal está, ano após ano, a afastar-se cada vez mais dos valores de referência apresentados pela Organização Mundial da Saúde" de um médico por 2.000 habitantes.

"Se, em 2019, Portugal tinha um médico dentista por cada 918 habitantes, no ano passado registou um por 814", salienta.

Das 25 regiões identificadas, apenas cinco estavam dentro dos valores considerados aceitáveis pela OMS (Oeste, Beira Baixa, Lezíria do Alentejo, Alto Alentejo e Alentejo Central) e duas tinham falta de médicos dentistas (Alentejo Litoral e Baixo Alentejo).

Nas restantes, há dentistas a mais, sendo a Área Metropolitana do Porto (1 para 576), Viseu Dão Lafões (1/624) e Região de Coimbra (1/726) as que apresentam os números mais preocupantes.

Terras de Trás-os-Montes é a única que regista evolução contrária às restantes 24 regiões: passou de 1/819 no final de 2021, para 1/845 no final de 2022.

"É um imperativo alertar os candidatos ao curso de medicina dentária para as condições que vão encontrar quando entrarem no mercado de trabalho", defende Miguel Pavão, adiantando que, com o estudo, tem-se assistido "a um agravar contínuo da situação em Portugal", razão pela qual a OMD insiste com "as várias entidades para a urgência de uma revisão das políticas de ensino e formação em Portugal".

Com base nos números fornecidos pelas instituições do ensino superior, as previsões da OMD apontam para um crescimento anual de membros activos na ordem dos 3,1%.

Em 2026, existirão 14.359 dentistas com inscrição activa na Ordem, ou seja, um rácio de 1 para 720, fazendo com que Portugal se afaste ainda mais da cobertura recomendada pela OMS.

O estudo reúne num só documento os grandes números, estimativas e tendências da profissão. Todos os números resultam da base de dados da própria OMD, à data de 31 de Dezembro de 2022.