Kiev acusa Rússia de disparar contra soldados ucranianos que se renderam

Vídeo não verificado mostra soldado a sair de uma trincheira com as mãos para cima. Tropas russas parecem abrir fogo e o vídeo termina. Procuradoria-Geral da Ucrânia disse ter aberto inquérito.

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Soldados ucranianos em Siversk, Donetsk MARKO DJURICA
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Kiev acusa Moscovo de cometer um crime de guerra, depois de um vídeo desfocado, publicado nas redes sociais, parecer mostrar vários soldados a disparar contra dois militares que se estavam a render.

O vídeo não verificado mostra um soldado a sair de uma trincheira com as mãos para cima e, depois, deitado no chão. Um segundo soldado sai, cambaleando, e também se deita no chão. As tropas russas parecem abrir fogo sobre os soldados e o vídeo termina.

A Reuters não conseguiu verificar de forma independente a autenticidade, data ou localização deste vídeo. O Ministério da Defesa russo não respondeu a um pedido de comentário sobre o assunto, mas a Procuradoria-Geral da Ucrânia disse ter aberto um inquérito à “execução pelas forças russas de dois soldados ucranianos desarmados que sinalizaram a sua intenção de se renderem".

“O vídeo mostra um grupo de pessoas em uniformes russos a atirar, à queima-roupa, em dois militares desarmados, com uniforme das Forças Armadas da Ucrânia, que estavam a render-se.”

A Rússia tem negado ter cometido crimes de guerra durante os 21 meses de invasão à Ucrânia, mas Kiev diz que a Rússia viola constantemente as regras da guerra.

“A execução daqueles que se rendem é um crime de guerra!”, disse no sábado à noite, na plataforma de troca de mensagens Telegram, um responsável ucraniano de direitos humanos, Dmitro Lubinets.

"Hoje, apareceu online um vídeo da execução por militares russos de soldados ucranianos que se estavam a render como prisioneiros. Esta é mais uma violação das Convenções de Genebra e um desrespeito ao direito humanitário internacional."

Deepstate, o popular blogue de guerra ucraniano que publicou o vídeo, alega que a filmagem foi feita perto de Stepove, na linha de frente de Avdiivka, na região de Donetsk.

A Procuradoria-Geral disse que o incidente ocorreu no distrito de Pokrovsk, uma grande área da região de Donetsk que fica perto de Avdiivka, local de alguns dos combates mais violentos das últimas semanas.

Oleksandr Shtupun, porta-voz do comando militar ucraniano Tavria, disse ao site de notícias Ukrainska Pravda que o vídeo era uma “confirmação flagrante” de que a Rússia viola diariamente as regras da guerra.

Em Março, um atirador ucraniano foi visto a ser morto a tiro num vídeo depois de dizer de forma desafiadora "glória à Ucrânia" ou "Slava Ukraini", uma frase que assumiu um significado especial como uma saudação pública comum desde o início da guerra.

Caso semelhante do lado ucraniano

Em Abril do ano passado, um vídeo publicado na rede social Telegram mostrava o que pareciam ser soldados ucranianos a disparar contra prisioneiros de guerra russos. O jornal New York Times e BBC diziam ter verificado a localização do vídeo, com a televisão britânica a acrescentar que imagens de satélite confirmam algumas imagens do vídeo. O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmitro Kuleba, admitiu ter tomado conhecimento das imagens e disse que a alegação será “definitivamente investigada”.

No vídeo vêem-se quatro soldados com braçadeiras brancas, que são usadas geralmente para identificar o lado russo, deitados no chão, aparentemente imóveis, um deles com as mãos atadas atrás das costas. Um parece estar ainda vivo. De fora da imagem ouve-se uma voz a gritar em russo: “Ele ainda está vivo, está a respirar, filmem estes bandidos.” Segue-se uma série de tiros que levam à morte do soldado.

A ofensiva militar lançada a 24 de Fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou, de acordo com os mais recentes dados da ONU, a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). As Nações Unidas apontam que mais de 10 mil civis tenham morrido e 17.535 ficado feridos devido à invasão russa.