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Já começaram os protestos na COP. A primeira causa escolhida? A paz em Gaza
Este domingo foi o primeiro dia de grandes protestos na cimeira do clima da ONU, COP28, que decorre até dia 12 de Dezembro no Dubai. Causa escolhida? A paz em Gaza.
Neste domingo, a cimeira do clima das Nações Unidas recebeu o seu primeiro dia de grandes protestos. De manhã, à entrada do recinto, já se juntavam duas dezenas de pessoas para, em tom solene, ler os nomes das vítimas mortais da guerra entre Israel e o Hamas, que tem massacrado a Faixa de Gaza, em particular.
À tarde, eram já várias dezenas de pessoas a juntar-se em solidariedade com o povo palestiniano, apelando a um cessar-fogo urgente com um momento de partilha por parte de activistas palestinianos.
Mais de 100 activistas na Dubai Expo City, onde decorre este ano a cimeira da ONU sobre o clima COP28, participaram no protesto para apelar a um cessar-fogo na guerra entre Israel e o Hamas em Gaza.
Os protestos foram invulgares nos Emirados Árabes Unidos (EAU), onde a liberdade de expressão é limitada, mas como anfitriões da conferência anual da ONU, os EAU estão a permitir a realização de manifestações na própria COP28. Segurando cartazes que apelam ao "cessar-fogo" e à "descolonização do clima", os activistas gritaram "Palestina livre, livre".
"Queremos o fim do cerco, o fim da ocupação", disse à Reuters o palestino-americano Tariq Luthun, depois de participar numa manifestação anterior, de menor dimensão, que apelava ao cessar-fogo. Jacob Maurice Johns, um activista indígena da América do Norte, afirmou que as vozes palestinianas estão a ser silenciadas e que é necessário que o mundo seja solidário com elas.
O cônsul-geral de Israel, Liron Zaslanaky, afirmou que o seu país está a lutar em legítima defesa e a fazer o seu melhor para evitar ferir civis. Segundo Israel, os homens armados do Hamas mataram cerca de 1200 israelitas e estrangeiros e fizeram cerca de 240 reféns quando invadiram o sul de Israel em 7 de Outubro. As autoridades sanitárias de Gaza afirmam que mais de 15.000 palestinianos foram mortos pelos bombardeamentos e pela invasão do enclave costeiro por Israel.
Até ao momento, não se registaram manifestações fora das instalações da COP28, ao contrário do que aconteceu em anteriores cimeiras da ONU sobre o clima, como a COP26, em Glasgow, onde milhares de activistas do clima se manifestaram nas ruas. Mesmo dentro do recinto da COP28, os activistas do clima afirmaram estar a tentar chamar a atenção dos delegados com humor. No domingo, a activista americana Alice McGown vestiu-se de dugongo e segurou um cartaz com os dizeres "acabaram-se os fósseis", para protestar contra a expansão planeada das operações de gás offshore da empresa estatal Abu Dhabi National Oil Co, numa área marinha protegida que alberga estes mamíferos aquáticos.
Alguns activistas presentes na COP28 mostraram-se preocupados com a vigilância dos EAU. "Este é um espaço político muito restrito", disse Lyndinyda Nacpil, uma activista filipina que disse ter tido de navegar pelas regras rigorosas da ONU para ajudar a organizar a manifestação palestiniana de domingo.
Outros participantes na manifestação afirmaram que "não pode haver justiça climática sem direitos humanos", mas tiveram o cuidado de não criticar Israel pelo nome, para respeitar as directrizes da ONU. Um porta-voz da COP28 afirmou que os Emirados Árabes Unidos protegem o direito de protesto em conformidade com os acordos internacionais. As autoridades dos EAU não responderam de imediato a um pedido de comentário sobre os protestos.
A guerra na Faixa de Gaza tem sido um tema de destaque na COP28, onde vários líderes mundiais falaram criticamente dos bombardeamentos de Israel. Enquanto os espaços de exposição nacionais se centram normalmente em questões relacionadas com o clima, o pavilhão israelita apresenta este ano um livro de fotografias de reféns feitos pelo grupo militante palestiniano Hamas.